Influência

Amigos, andei em silêncio nos últimos dias. Obrigado por aguardar. Sua ligação é muito importante para nós. Por favor, não desligue.

Tenho aproveitado bastante o tempo para ler algumas coisas interessantes. Acabo de ler a autobiografia de Lee Iacocca, o chefão da indústria automobilística norte-americana, que depois de uma brilhante carreira na Ford, foi demitido e acabou aceitando o desafio de salvar da falência uma Chrysler moribunda. Li também a história de Ernest Schackleton, um explorador inglês que por três vezes tentou chegar ao pólo Sul, no começo do século XX e nunca conseguiu, embora tenha se tornado num grande exemplo de liderança em tempos de crise e condições quase insuportáveis. Na penúltima tentativa, ficou preso num imenso bloco de gelo por quase 2 anos, perdeu o navio, mas ainda assim conseguiu salvar a vida de todos os homens da tripulação. Li também a respeito de líderes como Gandhi e Martin Luther King Jr.

Sem entrar no mérito pessoal de cada um desses homens, o que achei mais interessante a respeito dessas pessoas é que era impossível para quem convivia com eles ficar indiferente às suas idéias, propostas e atitudes. Por uma ou outra razão, a influência que eles causaram em sua geração, e em alguns casos até mesmo em sua civilização, transcendeu em muito a importância que imaginam ter enquanto viviam. Alguns de seus amigos no fim de suas vidas ainda falavam com emoção e paixão sobre o que significou para eles tê-los conhecido e andado com eles, vivenciando experiências comuns. Isto é o que se pode chamar de “um legado”.

É significativo que eles não foram unanimidade. Enquanto muita gente os amava, muita gente os odiava. No seu tempo, alguns os viam como pessoas sensacionais, outros lhes lançavam olhar de desdém, quando não de ódio indisfarçável. Todos, porém, ainda que não dando o braço a torcer, eram obrigados a se admirar diante da força que esses homens exerciam sobre os outros ou da capacidade de levar pessoas a agir em favor dos seus ideais e propósitos.

Lendo estas histórias, lembrei-me de Davi, o rei e trovador de Israel. Estive lendo os salmos no começo desse ano e fiquei impressionado de ler seqüencialmente os de Davi. Há um tema recorrente: ele reclama da perseguição, da pressão dos opositores, das calúnias e difamações, das pessoas próximas e íntimas que agiam de forma ímpia, tentando puxar o tapete dele. Davi estava longe de ser unanimidade. Sofreu como ninguém a inveja, a discriminação, o desprezo e até a violência. Pior é que não se tratava dos inimigos de fora. Esses eram inimigos e ponto. Era guerrear contra eles em nome do Senhor dos Exércitos, perseguir, alcançar, consumir e atravessar, depois do que eles não mais se levantavam. O mais doído da vida de Davi era enfrentar os inimigos de dentro. Ele demorou um tempão para conseguir unificar politicamente o país e se tornar rei sobre todos.

Porém, se na sua época havia um julgamento injusto, a história lhe fez justiça. Paulo disse que “Davi, tendo servido o propósito de Deus em sua geração, adormeceu” (At 13:36). Quando ele morreu, o legado tinha sido deixado. Não dava para discutir a influência daquele homem em sua nação.

Todos nós exercemos influência sobre alguém. Aqueles que marcam suas épocas são aqueles que, sabendo disso, decidem exercê-la de maneira tão positiva, que mesmo depois de sua morte ainda se poderá sentir a diferença que faziam. São aqueles que não passam pela vida sem viver. Que deixam uma marca. Não precisam ser aplaudidos em todo lugar onde passam. Não são unanimidade. Não buscam o favor bajulador de ninguém. Apenas vivem. Um dia após o outro, uma semana após a outra, um ataque após o outro.

A estes, conquanto o julgamento dos seus contemporâneos nem sempre é favorável, a História sempre reservará lugar de destaque.