Meditações sobre conceitos – Críticas

Amigos, desde crianças ouvimos a expressão “crítica construtiva”. Quem nunca teve a experiência de ser abordado por alguém com aquele papinho: “Olha, eu quero lhe dizer uma coisa. É uma crítica, sim, mas uma crítica construtiva. É para o seu bem”?

Sobre isso quero meditar hoje. Tenho uma tese, com a qual nem todo mundo concorda, que diz o seguinte: crítica construtiva não existe. Isso é balela. Conversa para boi dormir. Crítica é crítica. Crítica é feita, é concebida, é tramada, para destruir. Nunca para construir. Quem critica o faz pelos mais variados motivos, mas eles nunca são nobres. Pode ser por ciúme, inveja, sentimento de inferioridade, falta de criatividade para fazer melhor, … Complete você mesmo a lista e vai perceber que a crítica nasce num lugar do coração que ainda não foi bem lavado pelo sangue do Cordeiro ou que ainda não é íntegro. E não se constrói nada sem integridade.

Vista sob este prisma, a crítica é o avesso do amor verdadeiro. O crítico não tem o menor interesse em ajudar. A crítica é gratuita. Ela não vem acompanhada de uma solução. Apenas aponta problemas e muitas vezes nem isso, porque quem critica por vezes o faz sem o conhecimento dos fatos, sem uma idéia mais precisa do contexto. A crítica é amiga íntima do julgamento temerário.

Escondendo-se atrás de uma fachada de suposta franqueza, o crítico se acha no direito de apontar todos os seus dedos para a vida alheia, detonando impiedosamente o que vê, mesmo que o que vê seja fruto de sua miopia. O crítico, popularmente conhecido como o “cri-cri”, é pegajoso. Ele parece aquela lama fétida que gruda no seu corpo e parece que não sai mais, mesmo depois de vários banhos. Eles estão em todos os lugares. Na escola, em casa, no trabalho, na igreja. São aqueles que olham para uma mesa onde existe um vaso de flores e um papel amassado. São capazes de falar e criticar por horas a fio o papel amassado, mas jamais conseguiriam enxergar o vaso de flores.

Talvez você esteja raciocinando que o amor de verdade também critica. Ele não faz vistas grossas para o erro, já que não se alegra com a injustiça. A questão é que o amor verdadeiro corrige, orienta, aconselha, exorta, sugere alternativas, mostra caminhos. Mas por favor, não chame isto de crítica. A crítica não permite espaço para nada além de si mesma. Ela começa e termina centrada na sua própria razão de ser. Ela não é feita para oferecer nada. Ela existe apenas para cumprir aos seus próprios caprichos.

Conheci um homem que está na mesma igreja há décadas. Se sua igreja tivesse uma maternidade, ele teria nascido ali. Atua como um líder, embora não seja. Passaram-se pelo menos três gerações de pastores e líderes naquela igreja. De todas elas, esse homem foi um crítico feroz. Ele era mais ou menos daquela linha dos latino-americanos de fala espanhola: “Hay gobierno? Soy contra!” Pois bem. Um dia perguntei a ele: “Rapaz, você fala dos problemas de uma maneira tão segura, com certeza você saberia qual a solução para a sua igreja. Por que você não é reconhecido como presbítero e ajuda a liderança a dar rumos novos para sua igreja?” Sua resposta foi típica dos críticos: “De jeito nenhum! Imagina que eu iria querer arrumar um rolo desse para a minha cabeça? Se depender de mim, eu jamais farei parte da liderança”.

Esta não é uma história inventada. É fato real. Aconteceu e continua acontecendo em todos os lugares. Esse camarada é PhD em crítica. Ele não quer construir. Ele não está interessado em que as coisas melhorem. Para ele, quanto pior, melhor. Só assim o seu diabólico ministério da crítica poderá encontrar espaço para continuar existindo. Diga-se de passagem, isso é culpa também dos bananas de pijamas da igreja dele, que aturam isso há dezenas de anos sem dar o devido “basta” à iminência parda que os perturba.

Quem quer construir precisa passar por algumas fases básicas. Primeiro, tem que pelo menos ter idéia do que quer efetivamente construir. Seja uma coisa boa ou ruim, a edificação de qualquer coisa começa com uma visão do que se quer construir. Lembra-se de Arão no deserto, quando ele fez o bezerro de ouro? Moisés foi cobrar satisfação com ele e, na maior cara de pau, ele responde: “Ah, mano, não sei não o que aconteceu. Eu joguei as correntinhas de ouro dentro do tacho e de repente saiu isso daí. Não sei de nada” (Nm 32:24 – paráfrase minha). A Bíblia não diz, mas eu imagino Moisés respondendo: “Arão, fala sério. Você acha que eu vou acreditar numa história dessas?” Nada que se vai construir aparece simplesmente do nada.

Segundo, quem vai construir alguma coisa precisa saber como vai fazer isso. Precisa conhecer os caminhos para se chegar lá. Precisa ter alternativas, caso o que planejou não saia como esperado.

Terceiro, quem quer realmente construir pode aprender com quem já fez. Pode olhar para quem está dando certo, não com inveja vã ou ciúme, mas para tirar lições que possa usar no que está fazendo.

Quarto, quem quer construir tem que estar disposto a colocar a mão na massa, a pagar o preço para que a coisa saia. Já vimos que nem um bezerro de ouro aparece do nada.

Quinto, quem quer realmente construir está sempre disponível. Você pode contar com ele. É o tipo de pessoa que agrega, que ajuda no que precisar, que não fica com “nhém-nhém-nhém”. Não fica o tempo todo em cima do muro.

Quem critica, não sabe de nada disso. Em geral, os críticos não sabem o que querem. Só sabem o que não querem. Só sabem criticar. Só sabem mostrar sua insatisfação e descrédito. Nunca passaram nem estão dispostos a passar por qualquer uma das fases acima. Não nasceram para isso. Nasceram para perturbar quem está a fim de fazer alguma coisa.

Críticos adoram criticar, mas detestam ser criticados. Eles sempre acham que não têm nada a aprender. Lembro-me (com um nó na boca do estômago) de uma certa figura que se julgou no dever de tecer críticas as mais severas em uma determinada ocasião da minha vida. Ela própria, porém, era o pior dos exemplos nas áreas em que me acusava. Porém, se você tentasse dizer qualquer coisa, as justificativas e razões estavam ali, prontinhas para serem apresentadas.

Críticos não param em lugar nenhum. Pulam de galho em galho e quando chegam ao fim da vida, sua maior e mais influente obra foi ficar deitado eternamente em berço esplêndido, pondo defeito no que os outros estavam fazendo. São inconstantes, inconseqüentes, improdutivos. Numa só palavra: são imprestáveis. E você vem me dizer que existe “crítica construtiva”?

Não, prezados amigos. Isso não existe. Uma coisa exclui a outra. São como água e óleo, luz e trevas, doce e amargo. Ou é uma coisa ou é outra. Se você quer construir, não critique. Se preferir criticar, saiba que nunca construirá nada.

Pense 10 vezes antes de criticar. Veja bem se você pode oferecer alguma coisa que ajude no processo. Se não tiver nada para acrescentar, fique calado. Você vai economizar o seu tempo e o dos outros. Vai economizar sua saliva e o tímpano alheio.

Por outro lado, jamais se furte ao dever de aconselhar e orientar, quando isso realmente significar mostrar a alguém seu erro e apresentar uma proposta que o ajude a retornar ao bom caminho. O oposto da crítica é a confrontação. Esta realmente edifica.

Mas, por incrível que pareça, o cristianismo moderno endeusa a crítica e demoniza a confrontação.

Talvez isso explique porque as coisas estão como estão.