“Filho do homem, eu te dei por atalaia sobre a casa de Israel; da minha boca ouvirás a palavra e os avisarás da minha parte.” [1]
Sobre os acontecimentos recentes no cenário político brasileiro, pouco tenho a comentar. Afinal, o que um médico pediatra cristão teria a acrescentar aos grandes comentaristas políticos dos maiores órgãos de imprensa do país!?
Se minha memória de brasileiro não falha, em plena fervescência da panacéia do mensalão, a maior figura institucional do país insistia no discurso do “eu não sabia”, na tentativa de expiar sua responsabilidade diante da opinião pública. O país vivia um caos institucional e o senhor presidente da República não sabia de nada. Coitadinho! Infelizmente, nosso presidente não entendeu que a suposição de “não saber”, apesar de eximi-lo do dolo (em tese), jamais o eximiria da culpa.
Como neste espaço, meu intento não é tratar de política, e sim de intimidade com Deus, gostaria de trazer à nossa memória, algumas lições que a Bíblia nos traz com respeito a este triste episódio.
Primeiramente te convido a relembrar a história de Eli. Este importante Sacerdote de Israel conduzia os sacrifícios no Templo, pedia perdão pelos pecados do povo, porém fazia vista grossa aos inúmeros pecados dos seus dois filhos. O Senhor tratou rigorosamente com os filhos de Eli, e mesmo o próprio Eli sofreu as conseqüências por “não saber”.
Davi fez vista grossa para o pecado de Absalão, seu filho. Ele preferiu “não ver” o quanto o vaidoso Absalão era ardiloso e mau. Como resultado, Absalão usurpou o reino do pai tentando tirar-lhe a vida. Ambos pagaram alto preço. Absalão foi traspassado por espada pendurado por seus cabelos. Davi ficou a lamentar a perda de um filho[2].
Caminhando um pouco mais, podemos citar o papelão de Pôncio Pilatos no julgamento de Jesus. Lavar as mãos na água não retira em momento algum a co-responsabilidade romana na condenação de Jesus. O mesmo pode ser dito dos co-autores judeus, articuladores da crucificação. Incitar o povo a gritar por Barrabás não os exime da culpa.
É fato que nós relutamos freqüentemente em aceitar certas responsabilidades. Liderar nem sempre é uma tarefa glamurosa, principalmente quando é preciso assumir posições firmes em situações específicas. Por esta razão, muitos se acovardam diante da oportunidade de comandar, temendo o fato de ter suas decisões questionadas. Ainda que a maioria de nós não exerça cargos de liderança em nossas igrejas locais, a Bíblia não exime de nossas mãos a missão do Atalaia. Deus não terceiriza a responsabilidade da santidade. É certo que à liderança, pesa a responsabilidade pelo rebanho. No entanto, esta responsabilidade não subtrai do cristão a necessidade de comprometer-se com uma vida de santidade.
Chama-me muito a atenção a descrição do atalaia[3]. O sujeito tinha a função de ficar em cima de uma torre o dia todo. É óbvio que os povos daquela época não passavam 100% do tempo atacando ou sendo atacados. Imagino que na maioria dos dias o atalaia sofria um tédio terrível em cima da torre. No entanto sua função de avisar quando da aproximação dos inimigos era vital para a defesa da cidade. Caso o atalaia falhasse, o sangue derramado seria demandado do atalaia. Não havia escusas. Nada de “eu não sabia”, muito menos “eu cochilei só uns minutinhos”!
O cristão precisa estar atento às ciladas do inimigo, para não ser pego de surpresa. Também não é possível ficar esperando cair uma faísca do céu como sinal para testemunhar de Jesus. Paulo recomenda a Timóteo: “Ninguém despreze a tua mocidade; mas sê o exemplo dos fiéis, na palavra, no trato, na caridade, no espírito, na fé, na pureza.”[4]. Veja bem o que Paulo diz: “Timóteo, não deixa ninguém te desprezar porque você é jovem”. Paulo não diz isto porque Timóteo era o queridinho do professor. Pelo contrário, para que ninguém viesse a desprezar a mocidade de Timóteo, era preciso que ele se mantivesse atento à palavra, ao trato, ao amor, ao espírito e à fé. Esta abrangência paulina não deixa espaço para brechas.
Temo que na eternidade, ao ser argüido quanto ao nosso testemunho, muitos tentarão “lularizar” dizendo: “Senhor, eu não sabia!”; “Na hora dos relatórios missionários eu achava muito chato e ia conversar lá fora”; “Quando via alguém estranho na igreja não me sentia à vontade para dar-lhe boas-vindas porque ele não era do meu convívio social”; “Eu até gostaria de falar, mas ninguém chegava-se à mim e me pedia para falar de Jesus…”
Quero desafiar a tua vida para tomar uma postura firme diante de Deus. Fomos chamados para uma vida de Responsabilidade. Lembre-se dos milhares de cristãos mortos por causa do nome de Jesus. Pergunte para o Senhor agora: Quanto de mim, Senhor? Quanto?
Até a próxima!
Notas:
[1] Ezequiel 3:17 [2] 2 Samuel 18:33 [3] Ezequiel 33:1-6 [4] 1 Timóteo 4:12 (ERC)