Amigos, pouca coisa pode soar mais falso do que a declaração a seguir: “Estou vindo para jogar no meu time de infância”. A frase é do atacante Luizão, ao ser apresentado ao seu 13º clube em 15 anos de carreira. O jogador, cuja marca registrada é comemorar seus gols batendo no peito e beijando o distintivo do clube onde joga, jura amor eterno pelo novo pagador de seus salários.
Alguém dirá que isto é normal nos tempos de profissionalismo no futebol. Quem paga mais, contrata os jogadores que pode. Com a Lei Pelé, eles estão livres para jogar onde bem entenderem. Tudo bem. Mas não precisa também achar que todo mundo é tão bobo assim, a ponto de acreditar quando eles falam em “amor à camisa”. Isto é mais falso do que nota de 3 reais. O sujeito sai de campo num dia chorando como criança, emocionado pelo título conquistado, no outro dia assina com o rival e vai embora sem dar satisfação nenhuma. O amor, eterno na véspera, vira efêmero no dia seguinte, até que subitamente desaparece.
Sem entrar no mérito do mundo da bola, porque isso não vai mudar a nossa vida, mas esta situação do futebol tem alguma coisa a nos ensinar. Isso porque as relações humanas hoje em dia estão calcadas, mais do que nunca, não em valores ou princípios eternos, mas nos interesses e conceitos humanos. Como estes são completamente corrompidos por causa do enganoso coração do homem, não se pode esperar que os resultados sejam diferentes. Os relacionamentos tendem a ser cada vez mais efêmeros, passageiros, fugazes. Isto vale para o vínculo de um jogador de futebol com um time e uma torcida, mas vale também para o namoro, o casamento, os contratos de aluguel e até para a membresia em uma igreja. Em geral, assume-se que tudo é Vinicius-de-Moraes-mente “infinito enquanto dure”. Nada é para sempre. Quando muito é por alguns anos ou meses. Quando não interessar mais, ou quando não satisfizer mais aos nossos desejos e expectativas, é só chutar o balde e partir para outra.
E então tentamos transferir este tipo de relacionamento que fazemos no sentido horizontal, de uns para com os outros, para o relacionamento vertical, entre nós e Deus. As pessoas acham que podem “ficar” com Deus. Não dá para assumir um compromisso assim, firme, para a vida inteira. Não dá para declarar um amor exclusivo, que dure para sempre, venha o que vier. Fica meio complicado dizer que a gente vai viver para o inteiro agrado de Deus. Isso é muito forte. E se ao virar a esquina a gente topar com alguma coisa mais interessante, mais atraente e, especialmente, menos exigente? Como é que ficarão os votos e as juras de amor?
Só que fica difícil assumir que é isso que pensamos. Onde vamos arrumar coragem e cara-de-pau para dizer isso na frente dos outros? Como enfrentar a cobrança da igreja e a nossa própria consciência? Então, muitas vezes preferimos o caminho da hipocrisia. Cantamos de olhos fechados, dizemos que amamos a Deus, que o queremos, que o desejamos, que vamos cantar Seu amor para sempre. Que sou mais que servo, até amigo de Deus já me tornei e por aí vai. Só que na prática, a realidade mostra outra coisa. Ao ponto de alguém que nos conheça chegue a dizer: “Lá vai mais um Luizão na vida; semana passada estava apaixonado por Deus, de repente ficou tão apaixonado pela mulher do vizinho que até esqueceu de Deus para ficar com ela!”
Amor cigano não serve para Deus. Ele nunca nos amou assim. Ele disse que “com amor eterno eu te amei; com laços de benignidade eu te atraí”. Deus nunca nos trocou por outro. Nem mesmo quando merecíamos um pé no traseiro. Deus nunca rompeu sua aliança. Deus nunca quebrou contrato. Por isso, quando ele diz que me ama, eu posso acreditar. Ele não diz isso hoje para negar amanhã. E tudo o que ele espera de mim é que eu faça o mesmo com ele. Mesmo sabendo que nunca vou conseguir amá-lo com a intensidade com que ele me ama, ele sabe que pode esperar pelo menos a minha fidelidade.
Ou não?