Repaginando a vida

Amigos, nossa vida é como um livro que está sendo escrito. Nossas atitudes e escolhas vão sendo registradas e nossa história vai sendo contada. Personagens importantes transitam por suas páginas. Elas orbitam em torno de cada um de nós, cabendo-nos a arte de selecionar os que ficam e os que saem, os que influenciam e os que recebem a influência. Há contos fascinantes e sobrevôos de tirar o fôlego, há também os momentos de melancolia, abandono e frustração. Este é o livro da vida.

Vez por outra é necessário dar uma parada para reorganizar os capítulos, corrigir algumas sentenças, melhorar a colocação das frases. Podemos chegar até à conclusão de que é melhor deletar alguns parágrafos. Ou talvez tentar reescrevê-los de uma outra maneira. Mandar para alguém revisar é uma boa sugestão. De preferência alguém que entenda do assunto, porque palpiteiros só tendem a estragar o que eventualmente já esteja ruim.

Nós sempre queremos que ele seja um livro aberto, só que de vez em quando o vento das adversidades o deixa aberto na página errada. Dou graças a Deus por encontrar na minha caminhada algumas pessoas (pouquíssimas, devo ressaltar) com a capacidade dada por Deus de carinhosamente voltá-lo ao lugar certo. Muitas vezes esses anjos surgem de onde você nem imagina, para compensar aquelas de quem você esperava melhor. São amigos antigos que reaparecem, é uma criança que diz alguma coisa improvável, são amigos presentes que se mostram verdadeiramente presentes quando é preciso. É gente que não diz muito mais do que “conte comigo pro que der e vier”, mas que você sabe que estarão do seu lado quando o vento soprar outra vez.

Claro que você ainda terá que suportar os críticos espontâneos, alguns dos quais nem sabem ler e a quem você jamais chamaria para isso, mas que se acham no direito de dar seus palpites sobre a literatura da vida alheia. É o tipo de gente que não tem espelho em casa e por isso não enxerga suas próprias mazelas, mas acham que podem sair pela vida distribuindo seu fel a respeito de outrem chamando isso, farizaicamente, de “exortação”. Suas críticas e observações nunca são feitas com misericórdia, compaixão ou com a intenção de consertar. Normalmente são feitas para machucar, para desanimar, para matar o sonho alheio. São eles que torcem para que o seu livro não venda, encalhe na prateleira. Torcem para que ninguém se interesse por ele. Se nada funcionar, falam mal dele, caluniam e difamam.

Não nos esqueçamos também que muita gente ainda compra livro pela capa. Para esses, um tanto superficiais, o que importa é a forma e não o conteúdo. Se a capa for colorida, com belas fotos e arte final, eles compram. Não importa se o livro é uma droga, cheio de mentiras e falsidade. O que interessa, para alguns, é como ele se parece. Não conseguem enxergar um palmo à frente de seus grandes narizes de Pinóquio e por isso se preocupam mais com o mensageiro do que com a mensagem. Estão sempre reclamando da “forma”, do “jeito”, da “aparência”. Estes passarão pela vida sem viver. Serão enganados muitas vezes até descobrirem que comprar livro só por ser colorido e cheio de gravuras é uma vertente do analfabetismo funcional, que se traduz em saber ler mas não conseguir penetrar no significado mais profundo, no âmago das coisas. Entre eles, alguns precisam ser tratados com misericórdia, porque são ingênuos e ignorantes. Outros precisam ser simplesmente ignorados. Não se preocupe muito com nenhum deles. Escreva o seu livro, com a ajuda de Deus.

Estou tentando descobrir a importância de tal revisão. Descobri que sem ela muito esforço, de repente, vira nada. Tem muita coisa para ser mudada, então vamos mudar. Estou tentando escrever o meu livro sem me importar com que os outros dizem, esperam ou inventam. Afinal, no dia do lançamento, Deus não vai me fazer perguntas sobre o livro de mais ninguém. É, portanto, a Ele que eu devo satisfações. Ele me deu uma caneta e papel e quer que eu continue escrevendo.

Por uma questão de cultura, deixamos para fazer esses ajustes sempre para o final do ano. É como se a gente acreditasse num poder mágico do dia 1º de janeiro, capaz de fazer com que nossos objetivos sejam alcançados, nossos desejos satisfeitos e nosso rumo perdido retomado. Aos poucos, você vai percebendo que o calendário não muda nossa vida, mas é a nossa atitude que a define, independente da data.

Por isso, nunca marque data para repaginar sua vida. Comece hoje mesmo.