Aferro

“Quem, pois, conheceu a mente do Senhor? Ou quem foi o seu conselheiro? Ou quem primeiro deu a ele para que lhe venha a ser restituído? Porque dele, e por meio dele, e para ele são todas as coisas. A ele, pois, a glória eternamente. Amém!” [1]

Esta semana vivi duas experiências terríveis. Numa quinta-feira, em um hospital privado da cidade uma criança de dois meses, perfeitamente hígida, foi admitida em estado gravíssimo na UTI pediátrica. Seu diagnóstico: hemorragia pulmonar. A causa: completamente desconhecida. Todos os esforços foram feitos para salvar a vida daquela criança. O óbito ocorreu antes da meia noite.

Deixei o plantão na sexta-feira pela manhã e me dirigi ao Hospital Universitário da UFJF para mais 24 horas de plantão. Lá pelejamos para dar suporte a um lactente de sete meses, com apenas dois quilos e meio de peso, pneumopata[2] gravíssimo, internado a com diagnóstico de pneumonia. O prognóstico era sombrio. Esta criança foi conduzida à UTI no final da tarde, apesar de toda improbabilidade, em relativa estabilidade.

    Bebês e crianças que nunca saberão porque morreram; nem nós com eles. Pais e mães hão de continuar a percorrer os nossos pesadelos com os filhos hirtos nos braços, enquanto a nossa mão se estende ao encontro deles… e nunca lá chega. Talvez os que têm filhos consigam sentir melhor esta dor incomensurável? Não sei, falo por mim – de perder assim algo a quem se deu tanto amor. Morremos também um pouco, quando morre uma criança… [3]

Confesso que esses acontecimentos mexeram comigo e me conduziram à uma atitude de temor. Como entender a manifestação da vontade de Deus? Como uma criança perfeitamente saudável não responde a qualquer medida terapêutica e morre poucas horas após adoecer e outra fora de possibilidade terapêutica sobrevive à uma doença gravíssima?

“Todos os povos da terra são como nada diante dele. Ele age como lhe agrada com os exércitos dos céus e com os habitantes da terra. Ninguém é capaz de resistir à sua mão ou dizer-lhe: “O que fizeste?”” [4].

“Porque os meus pensamentos não são os vossos pensamentos, nem os vossos caminhos, os meus caminhos, diz o SENHOR, porque, assim como os céus são mais altos do que a terra, assim são os meus caminhos mais altos do que os vossos caminhos, e os meus pensamentos, mais altos do que os vossos pensamentos.” [5]

Deus não age conforme a probabilidade. Ele age conforme a Sua soberana vontade. O Evangelho não nos convida a entender. Deus nos convida a Crer. Onde Deus está quando os aferros da vida infligem dor e sofrimento? “… Deus estava em Cristo reconciliando consigo o mundo, não imputando aos homens as suas transgressões…” [6] A perspectiva consoladora da presença de Deus nos momentos de maior contrição é o que nos mantém firmes e dispostos a prosseguir. Ele não atravessa o vale da sombra da morte por nós. Ele atravessa conosco.

Você está feliz? Então CREIA que sua felicidade vem do Senhor. Está triste, amargurado, ferido? CREIA que, pela mesma vontade soberana Deus enxugará dos olhos toda lágrima, e a morte já não existirá, já não haverá luto, nem pranto, nem dor, porque as primeiras coisas passaram.

Até a próxima.

Notas:

[1] Romanos 11:34-36 [2] Pneumopata é um termo genérico que descreve qualquer indivíduo portador de afecção pulmonar. [3] Fernando Letra, 17 de Maio 2005 [4] Dn 4:35, NVI [5] Is 55:8-9 [6] 2 Cor 5:19