Amigos, deixando um pouco de lado o estilo habitual desta coluna, quero fazer um comentário breve sobre um texto escondido em I Crônicas 12:32. No meio de um texto com um monte de nomes, encontramos uma referência extremamente elogiosa a uma tribo de Israel. Diz-se que os filhos de Issacar no tempo de Davi eram homens “conhecedores do seu tempo, para saberem o que Israel devia fazer”. Estou meditando nesta frase por algumas semanas desde que a encontrei. É uma declaração preciosa, magnífica, poderosa, que enobrece a carreira de qualquer pessoa. Gostaria que a História pudesse dizer isso de nós algum dia. Que elogio e tanto para se escrever no túmulo de alguém: “aqui jaz alguém que conhecia a sua época e sabia o que devia ser feito”.
Cheguei à conclusão de que, em relação a esta análise, existem vários tipos de pessoas no meio do povo de Deus. Primeiramente, há aqueles que não conhecem nada sobre a época em que vivem e por isso não sabem o que se deve fazer. São aqueles para quem tanto faz se a água corre para baixo ou se corre para cima. São zagueiros que chutam para o lado que estiverem virados, mesmo que isto signifique fazer gol contra. Não servem. Em geral, são pesos mortos e normalmente fazem parte do problema, nunca da solução.
Depois, há aqueles que conhecem a sua época, mas não sabem o que se deve fazer. São críticos, algumas vezes vorazes, mas nunca oferecem solução. São do tipo que quando o carro pára, podem fazer um longo arrazoado sobre as diferenças de assistência técnica entre as marcas, mas jamais são capazes de tirar o carro do lugar. Na maior parte dos casos, são bem intencionados, mas pararam no meio do caminho. E de boa intenção o inferno está cheio. São como os políticos da época de campanha: apontam os defeitos óbvios, mas nunca se dão ao trabalho de buscar uma solução inédita. Também não servem, pelo menos enquanto estiverem parados neste estágio. Têm grandes chances de virem a dar certo um dia, mas por somente conhecer a época não ajuda muito.
Existem ainda aqueles que não conhecem a sua época, mas incrivelmente “sabem” o que se deve fazer. Falam a respeito de coisas a respeito das quais não têm a mínima idéia. Discutem, reclamam, apontam o dedo, mas não têm uma base confiável. Uma conversa um pouco mais detida vai revelar vazios imensos, desde o intelecto até o espírito. São aqueles de quem Paulo falou que “não compreendem nem o que dizem, nem os assuntos sobre os quais fazem ousadas asseverações” (I Tm 1:7). Estes não servem, também. Talvez sejam os piores. São meros palpiteiros.
Tem também os que conhecem a sua época, sabem o que se deve fazer, mas não fazem o que deve ser feito. Por diferentes razões, algumas mais nobres do que outras, omitem-se da responsabilidade de agir na direção do que sabem ser a coisa certa. Por timidez (que a Bíblia chama de covardia), por medo de comprometerem sua imagem, por comodismo, por falsa modéstia, ou às vezes simplesmente por não terem alguém que os anime e encoraje, perdem o bonde da história. Estes ainda têm grandes chances de se recuperarem, porque têm o mais difícil. Já estão com a faca e o queijo na mão. Basta querer cortar e comer. Não há muitos deles no mercado, mas há o suficiente para revolucionar algumas estruturas em movimentos como o dos “Irmãos” e fazer um novo tempo ser inaugurado para a glória de Deus.
O que serve mesmo, aquilo que dá prazer ao coração de Deus e traz prosperidade verdadeira ao povo, é gente como os Filhos de Issacar. Gente que conhece, estuda, se prepara, analisa, pensa, repensa, não se conforma, esperneia até encontrar uma saída para a crise. Pessoas que entendem sua época, porque olham para o passado com olhos de quem quer aprender com ele, não com saudosismo barato. Conhecem seu contexto, porque dedicam tempo suficiente para perscrutá-lo. Porque se importam com sua história, porque querem aprender com os erros de ontem.
Mas Filhos de Issacar não param aí. Eles também olham para frente, buscando alternativas, caminhos novos, renovação e alento. Estão dispostos a indicar um rumo. Pode ser que errem, mas pelo menos tentam. Não vão se arrepender no final de suas vidas por nunca terem arriscado. Eles não têm medo do fracasso, porque sua filosofia é que melhor é a frustração de não ter dado certo do que a angústia de nunca ter tentado.
Vou continuar procurando conhecer a minha época e o que se deve fazer a partir dela. Mesmo cansado, como já assumi que estou, ainda não consigo ver outra coisa em que valha a pena investir a minha vida.
Você vem comigo?