Acredito que o segredo de Maria também é muito importante. O segredo dela era saber exatamente em quem estava confiando, seu segredo era o conhecimento da pessoa de Jesus. Ela sabia quem Ele era e que se compadeceria da situação. A dificuldade das pessoas em confiar no Senhor é muitas vezes pelo simples fato de não conhecê-lo. Durante muito tempo tive essa dificuldade, “um Deus impessoal e distante que não me entendia” era como eu compreendia a pessoa de Jesus. Conhecê-lo mudou completamente minha visão acerca de quem Ele realmente é.
Veja bem, não foi bem a religião que me levou a este profundo conhecimento. Confesso que a religião me levou até Ele, mas, sinceramente, foi a minha sede de encontrá-lo a cada dia da minha existência terrena que me fez vê-lo revelado em minha vida. Creio hoje no Jesus que deseja ser conhecido e reconhecido como “Homem de dores”. Nenhum Deus criado pela inteligência humana poderia ter tanta humanidade e divindade juntos. Um dia meu filho de cinco anos me perguntou se o Super-homem era Deus. Perguntei para mim mesmo o que o fez chegar a este pensamento. Cheguei à conclusão de que, como meu filho, muitos de nós identificamos Deus por uma humanidade, por uma força sobre-humana, mas temos dificuldade para identificá-lo de maneira pessoal, presente em cada momento de nossa vida. Talvez meu filho visse Deus como o super-herói que vem nos salvar quando estamos em perigo. Preciso mostrar a ele que Deus é o herói que está nos salvando. Salvando da acomodação, do medo, do mal e de nós mesmos. E como essas coisas estão ligadas às nossas existências neste mundo, para nos salvar Ele veio aqui caminhar lado a lado conosco.
Acredito sim que, mesmo que os discípulos não estivessem ali com Ele em Caná, Jesus ainda assim realizaria o milagre; O Senhor jamais se esconderia de uma situação difícil em que Ele é chamado a intervir. É bem provável que você esteja pensando: “Bem, este mundo precisa dele. Afinal, onde Ele está que não intervém na fome, na violência, nas guerras e nas doenças?” Também já pensei assim, e sabe a que conclusão cheguei? Que Ele deseja intervir nessas situações a toda hora, mas o problema é que não o temos convidado para participar de nosso mundo.
No livro de Apocalipse vejo um Jesus que educadamente pede para participar de nossas vidas: “Eis que estou à porta e bato; se alguém ouvir a minha voz e abrir a porta, entrarei em sua casa e com ele cearei, e ele, comigo” (Ap 3.29). Esta participação em nossas vidas não é de maneira alguma forçada. Podemos dizer: “Não, o mundo é meu, eu posso dirigi-lo”, o problema é que o peso do mundo é grande demais para nós. A cada dia fica mais difícil carregá-lo.
O Senhor poderia ter tomado a frente de tudo assumido o controle sem nossa permissão, mas muitos pensariam: “Ele não me deu nem a chance de tentar sozinho e já quer o controle de minha vida”. Imagine se você ganhasse uma herança de um tio distante, mas tivesse que escolher entre duas coisas: Uma moto ou uma Ferrari novinha zero quilômetro. Você então lembraria do valor da Ferrari e diria: “Eu quero a Ferrari”. Os advogados do seu falecido tio então entregariam as chaves na sua mão e diriam: “De acordo com o testamento de seu tio, ela será sua se você der uma volta com ela pelo quarteirão e trazê-la de volta a este ponto sem nenhum arranhão”. Você está todo animado, feliz com o presente, só que de repente você entra em desespero e lembra que não sabe dirigir. Tem uma Ferrari que custa milhões em suas mãos, mas você não sabe dirigi-la. É assim que um dia enxergamos nossas vidas. Vemos o quanto ela é grandiosa, o quanto é maravilhosa, mas a perdemos simplesmente porque não sabemos conduzi-la.
Confiar em Deus é confiar em quem conhece o caminho, afinal, foi Ele mesmo que o criou. Na solitária, se o prisioneiro tiver uma pequena luz entrando por um minúsculo buraco, continuará com os olhos preparados para a luz. Quando percebemos as pequenas manifestações de Deus em nossas vidas, podemos confiar e estar preparados para as grandes.
por João Eduardo Cruz
