Amigos, certas coisas que acontecem no nosso mundo são inimagináveis. Quem poderia imaginar que um dia ouviríamos falar de seca nos rios da Amazônia, a maior bacia hidrográfica do planeta? Sabemos que há os períodos de cheia e os períodos de baixa, mas nunca poderíamos pensar que os leitos daqueles rios gigantes se tornariam rachados como o sertão nordestino. Estou estupefato.
As cenas são deprimentes. Primeiramente, pelo impacto que isso causa às populações da região. Sem rio, as aldeias no interior ficam sem transporte e comunicação com as cidades maiores, que as abastecem. Isso causa um agravamento da pobreza já existente em situação normal. Alguns lugares estão completamente isolados. Depois, as toneladas de peixes que estão morrendo, debatendo-se em poças d’água, naquilo que até pouco tempo eram rios caudalosos e abundantes. Ontem assisti pela Internet a morte de botos cor-de-rosa. Encalhados em bancos de areia próximos da margem de um rio, esses lindos animais eram devorados por bandos de aves de rapina, num espetáculo macabro e triste. A seca é uma praga.
Pior é que não há nada que se possa fazer para reverter o quadro. Enquanto não chover, e chover bastante, não haverá solução. A vida só voltará à Amazônia quando o céu se abrir e cair muita, mas muita água. Até lá, é sentar, chorar e esperar. As ações de solidariedade do restante do país servem apenas para minorar a dor e o sofrimento de quem vive ali, mas somente a torrencial estação de chuvas pode dar a solução definitiva para o caos que se instalou. Biólogos afirmam que a região poderá levar de dois a três anos para se recuperar completamente dos estragos e desastres naturais que a estiagem atual está provocando.
Este é o mundo em que vivemos. Não poucas vezes, experimentamos uma seca como essa em nosso coração e experiência. De repente, aquilo que era um rio caudaloso e profundo se torna um filete de água. A vida que corria solta pelas correntezas começa a se debater numa poça barrenta. Os urubus começam a voar em círculo, à procura daquilo que mais gostam. Acredite, sempre haverá os carniceiros, esperando ansiosamente para que tudo se desgrace e eles se esbaldem com a carne podre.
Tudo aquilo que você levou anos para construir, a falta de chuva (que é algo sobre o que você não tem nenhum controle) seca e consome. Você vai vendo o nível da água baixando dia após dia. Você começa a ver os sulcos se abrindo no leito do que até pouco tempo era um rio de vida e diversidade. O que outrora foi um canal de bênção, influenciando tanta gente, levando vida e esperança, pouco a pouco transforma-se num estéril canal que não serve para nada. Nem para transportar, nem para pescar, nem para plantar. A fonte de alegria torna-se um motivo de tristeza.
E aí você descobre que existem situações na vida que não dependem de você. Nenhum de nós é capaz de produzir vida. A vida, como a chuva, é uma coisa que vem do alto. Não conseguimos produzi-la. É inútil bater tambores. Não está em nossa mão o poder de fazer chover. Se a vida não descer do céu, morremos todos.
Se não chover, não tem rio. Não importa quão abundante tenha sido nossa experiência no passado, se não chover logo, em pouco tempo, ela se tornará um espetáculo triste de morte e desolação.
Na carona da previsão dos biólogos, precisamos ter claro que períodos prolongados de seca na nossa vida podem custar anos para recuperar o tempo perdido, os prejuízos causados, a destruição perpetrada a nós e à nossa comunidade. Não se passa incólume por um tempo como esses. O custo é altíssimo, mais do que podemos pagar.
Que volte a chover na Amazônia. Que volte a chover nos nossos corações.