O MENINO
“Porque um menino nos nasceu, um filho nos foi dado, e o governo está sobre os seus ombros. E ele será chamado Maravilhoso Conselheiro Deus Poderoso, Pai Eterno, Príncipe da Paz.” Isaías 9:6
Um Menino (yeled) o relaciona com seus ancestrais; filho expressa que é um varão e possui uma ascendência monárquica. Salomão (cfr. sobre v. 3) foi o único dentre os filhos de Davi que teve o nome escolhido por Deus. Davi, restaurado a paz com Deus, chamou ao menino šelōmōh, “o homem de paz”; o Senhor o chamou Jedidias, “o amado de Jeová”. Desta maneira, este menino é o novo Salomão, o herdeiro legitimo de Davi.
Nesta qualificação quádrupla do rei, os primeiros dois elementos se relacionam com o nome Emanuel, e os dois seguintes definem os efeitos da sua ação. Maravilhoso Conselheiro significa literalmente “conselheiro de maravilhas” e “maravilhoso” significa algo semelhante a “sobrenatural”. As duas possibilidades de tradução ficam assim: um “conselheiro sobrenatural” ou “alguém que da conselhos sobrenaturais”.
As decisões de um rei sustentam ou destroem um reino. Ademais, um reino que se supõe ser eterno requer do governante uma sabedoria como a do Deus eterno. Neste caso, o rei deve ser como Deus, sendo ele o próprio Deus, Deus forte (ʾēl gibbôr), título aplicado ao próprio Senhor em Is 10:21.
Pai Eterno e Principe da Paz são as qualidades de Deus para garantir a preservação do seu povo (sabedoria) e sua libertação (fortaleza do príncipe guerreiro). Pai é um título comum aos reis no Antigo Testamento. Em referência ao Senhor, aponta Seu interesse pelos indefesos (Sl 68:5) e sua responsabilidade pelos seus filhos.
Pai Eterno (ou “da eternidade”) é um título indubitavelmente aplicado exclusivamente a Jeová. Quando o povo pediu a Deus um rei, tinham em mente uma instituição governamental que oferecesse maior estabilidade que o governo episódico dos juízes. A segurança completa e duradoura, porém, exige mais do que um mero governo monárquico temporal – só pode ser alcançada por um rei cujo reinado não esbarre nos limites do tempo.
Príncipe da paz significa mais do que alguém que ponha fim as guerras. Em nível pessoal, paz supõe plenitude; “morrer em paz” significa ter vivido uma vida plena, tendo completado a vocação dada por Deus (p.e. Gn 15:15, 2Rs 22:20). Paz significa também bem-estar (Gn 29:6) e libertação da angustia (1Sm 1:17). Nos relacionamentos é boa vontade e harmonia (Êx 4:18), o oposto da guerra (Lv 26:6). Em relação a Deus, paz aponta para o pleno cumprimento dos seus propósitos (Nm 6:26), a “paz com Deus” (Nm 25:12, Is 53:5; Ml 2:5-6). Estes significados para paz guardam íntima relação com o termo √šālēm “ser pleno/completo”. O Príncipe da paz é o homem completo, a unidade, perfeitamente integrado com Deus e com a humanidade.
Mas mesmo com toda esta interpretação profética não podemos esquecer que este Rei nasceu de fato! Um bebê comum que precisava mamar ao seio materno, ter suas fraldas trocadas, dar os primeiros passos segurando as mãos dos pais. É difícil entender as naturezas humana e divina de Jesus. Creio plenamente na divindade de Jesus Cristo. Creio também em sua plena humanidade. Ele foi gente de verdade, capaz de rir, de chorar. Passou por perplexidades e que aprendeu muita coisa gradativamente como as outras pessoas. Creio que ele era verdadeiro Deus e verdadeiro homem, embora eu não tenha todas as respostas para as perguntas levantadas pela doutrina das suas duas naturezas.
Paulo, discorrendo sobre o privilégio e honra que Jesus merecia, e que temporariamente abriu mão, dizia que, “sendo rico, se fez pobre por amor de vocês” (2Co 8.9), por nós. “Seja a atitude de vocês a mesma de Cristo Jesus, que, embora sendo Deus, não considerou que o ser igual a Deus era algo a que devia apegar-se; mas esvaziou-se a si mesmo, vindo a ser servo, tornando-se semelhante aos homens” (Filipenses 2.5-7).
Não existe dúvida que imitar Jesus faz parte da vida cristã. Há diversas passagens bíblicas que nos exortam a fazer isto. No Novo Testamento encontramos por várias vezes o Senhor como exemplo a ser imitado. Todavia, é bom prestar atenção naquilo em que o Senhor Jesus deve ser imitado: em procurarmos agradar aos outros e não a nós mesmos (1Co 10:33 – 11:1), na perseverança em meio ao sofrimento (1Ts 1:6), no acolher-nos uns aos outros (Rm 15:7), no andarmos em amor (Ef 5:23), no esvaziarmos a nós mesmos e nos submeter à vontade de Deus (Fp 2:5) e no sofrermos injustamente sem queixas e murmurações (1Pe 2:21).
O que Jesus tinha para se “apegar” que poderia ser obstáculo a sua missão? Sua Glória. Jesus se esvaziou da sua glória assumindo a forma de “servo” sendo, afinal, glorificado. “Não será assim entre vocês. Ao contrário, quem quiser tornar-se importante entre vocês deverá ser servo, (Mateus 20:26 NVI)” E eu? Do que eu preciso me esvaziar? Como não temos glória para nos apegar, sugiro que nos esvaziemos dos nossos pecados favoritos para que a glória de Cristo venha ocupar seu lugar de direito. Prepare um trono para Jesus no seu coração.
O REI MISSIONÁRIO
“Alegre-se muito, cidade de Sião! Exulte, Jerusalém! Eis que o seu rei vem a você, justo e vitorioso, humilde e montado num jumento, um jumentinho, cria de jumenta. Ele destruirá os carros de guerra de Efraim e os cavalos de Jerusalém, e os arcos de batalha serão quebrados. Ele proclamará paz às nações e dominará de um mar a outro, e do Eufrates até os confins da terra.” Zacarias 9:9-10
O verso 9 é sem duvida o mais conhecido de Zacarias e um dos mais recitados no Antigo Testamento. A chave para a interpretação desta passagem é a compreensão da identidade do “Rei” – visto aqui entrando em Jerusalem montado num jumento sob gritos de jubilo. Os versos 1-8 do capitulo 9 deixam claro que é Deus que está vindo para Jerusalem – é Deus quem está sendo aguardado. Mas a figura de Deus montado num jumento é incongruente – para dizer o mínimo! – a menos que este Rei seja também um homem – um homem intimamente ligado com Deus.
Este rei incorpora pessoalmente a justica de Deus; Ele é seu perfeito representante. Ele é o agente através do qual a salvação será possível. A vinda de Jesus como Messias é a vinda do próprio Deus ao mundo!
Ao entrar em Jerusalem o Rei assumia sua missão. Mas Ele escolhe assumir sua missão de modo pacifico (Is 53). Ele foi anunciado como Rei (Is 9), mas um rei de paz.
O livro de Juízes nos conta a historia de Jair (Jz 10:3-5). Não sabemos muito sobre sua identidade ou como conduzia seu oficio de juiz. Sabemos que ele tinha “trinta filhos que montavam trinta jumentos”. No contexto bíblico, famílias numerosas (trinta filhos!) eram sinal de prosperidade e de benção divina. Alem disso, aquele que cavalga em jumento ao invés de cavalo de guerra era portador de paz.
Os juízes eram responsáveis por promover a justiça numa época de grande instabilidade social. Jair é um exemplo de um homem que “levantou-se (1)” e cumpriu sua missão agindo como um pacificador. Você está preparado para assumir a missão de Deus para sua vida? Como você quer encarar esta missão? Deus é ao mesmo tempo justo e justificador de todo aquele que crê em Jesus. Mesmo nos tempos do Antigo Testamento já se sabia que a misericórdia e a verdade podem caminhar em harmonia – a justica e a paz podem concordar.
Quais as armas do cristão para cumprir sua vocação no mundo onde o caos do pecado impera? “Finalmente, irmãos, tudo o que for verdadeiro, tudo o que for nobre, tudo o que for correto, tudo o que for puro, tudo o que for amável, tudo o que for de boa fama, se houver algo de excelente ou digno de louvor, pensem nessas coisas. Ponham em prática tudo o que vocês aprenderam, receberam, ouviram e viram em mim. E o Deus da paz estará com vocês.” (Filipenses 4:8,9 NVI) Você quer cumprir a vocação de Deus montado num cavalo de guerra, destruindo e conquistando, ou montado num jumentinho, caminhando numa jornada rumo a Jerusalem?
O ANCIÃO
Voltei-me para ver quem falava comigo. Voltando-me, vi sete candelabros de ouro 13 e entre os candelabros alguém “semelhante a um filho de homem” com uma veste que chegava aos seus pés e um cinturão de ouro ao redor do peito. Sua cabeça e seus cabelos eram brancos como a lã, tão brancos quanto a neve, e seus olhos eram como chama de fogo. Seus pés eram como o bronze numa fornalha ardente e sua voz como o som de muitas águas. Tinha em sua mão direita sete estrelas, e da sua boca saía uma espada afiada de dois gumes. Sua face era como o sol quando brilha em todo o seu fulgor. Apocalipse 1:12-16
Antes de ver a Cristo exaltado, ele vê a igreja. O mundo vê Cristo através da igreja e no meio da igreja. Isso significa que ninguém verá a Jesus em glória senão por meio da sua igreja aqui na terra. Você precisa da igreja. O que é a igreja? Ela é a luz do mundo. Por isso, ele é candeeiro e estrela. A luz da igreja é emprestada ou refletida, como a da lua. Se as estrelas têm de brilhar e as lâmpadas luzir, elas devem permanecer na mão de Cristo e na presença de Cristo.
Cristo está não apenas entre a igreja, mas a têm em suas próprias mãos. Essas duas figuras, portanto, são um símbolo incomum para representar o caráter celestial e sobrenatural da igreja, seja através dos seus membros, seja através dos seus líderes.
O Rei – que agora sabemos tratar-se de Jesus – é visto por João com um Ancião. Naquela época a expectativa de vida não era muito alta. Os anciãos eram considerados pessoas que haviam cumprido sua missão e mereciam reconhecimento por isso. Na sua glória, Jesus é visto como alguém que não deixou nada referente a sua missão para trás. Ele toca e fala. A mesma mão que segura (v. 16), é a mão que toca e restaura (v. 18). O mesmo Jesus que acalmou os discípulos muitas vezes, dizendo-lhes, não temas, agora diz a João: Não temas. A revelação da graça de Jesus o põe de pé novamente para cumprir o seu ministério.
Nossa vida também está destinada a maturidade. E esta não acontece somente com o passar dos anos. Ao contrario dos programas da TV, envelhecer bem não depende so de você! Maturidade ocorre quando nosso caráter (manifestado em nosso modo de viver e pensar) é transformado a semelhança do nosso Rei: (1) como uma criança, despindo-se da sua gloria (Is 9); (2) como um servo de paz, disposto a cumprir sua missão (Zc 9); (3) e enfim, como luzeiro, refletindo a gloria do Rei dos Reis e Senhor dos Senhores (Ap 1).
Notas:
Apocalipse, Hernandes Dias Lopes, Hagnos
Ateísmo Cristão, Augustus Nicodemus Lopes, Mundo Cristão.
Jueces, Michael Wilcock, Andamio (pp 147-151)
Isaías, Alec Motyer, Andamio, pp.139-141
The Message of Zechariah, Barry G. Webb, IVP