Reflexões sobre o papel da música (parte 3 de 3)
Para finalizar esta pequena série de artigos, partirei para um texto um pouco mais ‘crítico’, uma vez que nos dois textos anteriores, tratei diretamente sobre aquilo que, em suma, deveria estar presente nas canções entoadas nas igrejas em nosso país.
Considerando que a música na igreja precisa cumprir seu propósito, precisamos analisar melhor aquilo que tem sido tocado nos altares bem como o que se ouve nas produções de alguns ‘artistas gospel’. Estou fazendo um apelo em especial para liderança. Atenção à sua responsabilidade nesta área!
Não vou entrar no mérito de analisar condutas pessoais de cantores, sejam pessoas desconhecidas ou mesmo os pop stars gospel. Me atento ao ensino, a doutrina, a mensagem transmitida nas canções, tanto de famosos como de meros desconhecidos, que, sejamos francos, estão aí no mercado buscando seu lugar ao sol.
Não sou músico, não sei tocar instrumento algum. Também não sei cantar, sou desafinado até batendo palmas. Mas como tudo no âmbito da igreja precisa e depende da aprovação das Escrituras, estou no completo direito bíblico de examinar a mensagem. Até por que, música também é uma ‘pregação’.
Portanto, tome por base, por aquilo que você ouve, se tais pregações são edificantes, se engrandecem o nome de Deus, se estão comprometidas com a Bíblia, se estão em sintonia com a doutrina cristã, e se de fato, o Senhor é adorado e louvado nelas.
Existe um princípio que precisa ser adotado na igreja em nossos dias – urgentemente. Para que exista um momento de culto, de louvor e adoração, precisamos dos elementos para tal: o meio de adoração (música, canto, palavras, expressões, etc), o adorador (pessoa e pessoas), e – evidente – o Adorado. Todas as vezes que o primeiro ou segundo elemento estão em evidência que ‘ofusca’ o Adorado, não existe culto.
O que quero dizer com isso? Que se em nossas canções o centro não é Deus, Ele não está sendo adorado! Se os feitos que são enaltecidos não são os feitos de Deus, logo, Ele não está sendo louvado!
Vamos aos exemplos?
Canções com repetições ao extremo, músicas de dois versos que duram dez minutos (mantras gospel), letras antropocêntricas onde o homem, seu prazer e conquistas são o foco, letras traduzidas mal feitas e desconexas, erros de concordância, gramática e tempos verbais, enfim, a lista vai longe no mercado das aberrações.
Com a desculpa de “é pra Deus, e de todo o coração”, nossa geração está produzindo um legado horripilante!
Veja só (os destaques em caixa alta sempre serão meus):
Alguns chamam esta letra de “melô da criança bêbada”. Não se acha nas Escrituras respaldo para uma música assim (mesmo com licença poética).
Em nome da adoração extravagante, o culto racional é diluído (Rm 12.1).
Elementos da natureza são apreciados em demasia pelos extravagantes. Houve a época recente em que a cada 10 letras, 20 tinham a palavra ‘chuva’. É uma prova contundente que boa parte do mercado da música sempre anda – ou dança? – ao embalo da mesma moda. Nada se cria, tudo se copia.
Eis um exemplo clássico onde a perniciosa Confissão Positiva invadiu o campo musical para espalhar seus devaneios. O mais interessante desta letra é que não se fez menção alguma sobre a fé salvífica, sobre o dom gracioso de Deus atrelado a salvação (Ef 2.8). A mensagem da cruz ficou de lado para que ‘as muralhas caiam diante de mim’. Músicas antropocêntricas para massagear o ego das massas.
Houve também um breve tempo em que a palavra “vinho” figurava em diversas músicas. Esta é mais um exemplo em que o cerne da música é o ser humano. A exaustiva repetição “Vinho novo” mostra – assim como em músicas repetitivas – a característica de letras vazias.
Está música é o clássico exemplo das canções triunfalistas entoadas por aí. Existe um estereótipo de cantora e letras que remetem sempre para a mesma ideologia “da vitória”. Em minha opinião, este é o hino máximo do culto antropocêntrico. E pior que isso, é um tributo à vingança. Talvez o leitor me considere um exagerado, mas quando ouvi tal música e li sua letra não percebi outra coisa na mesma senão o explicito sentimento de vingança. Convém ao cristão tal espírito vingativo?
Com a necessidade de encaixar rimas sem sentido, os “levitas” criam letras que ferem até mesmo a conjugação verbal. Fracas teologicamente, sem glorificar a Deus e cheias de erros de português. O que tal letra agrega?
Sem comentários.
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Percebe? Percebe que na ânsia de entreter as massas tais “artistas” mesclam conceitos, criam aberrações doutrinárias, promovem a Teologia da Prosperidade, focam o homem, seus desejos e vontades, e se esquecem de Deus e Sua santa Palavra?
Nada contra o contemporâneo, mas em nome do novo, cria-se mero entretenimento, e sejamos francos, Deus não é entretenimento, nem Seu Reino, nem Sua glória.
Nesta onda estranha, os valores são invertidos, e o Adorado torna-se um servo da igreja, para deleite de homens.
Basta!