Era uma vez, num mundo qualquer, uma família que só comia arroz, feijão e ovo. Nunca mudou os hábitos, nunca passou além do arroz, feijão e ovo. Todos os dias, à mesa, é sempre a mesma coisa que a fez se acomodar somente com o arroz, feijão e ovo.
Tudo tornou-se tão mecânico que seria inútil perguntar o que seria servido na próxima refeição. A única novidade era sempre o arroz, feijão e ovo.
Com o estômago acostumado somente a essa comida, qualquer outra coisa seria tratada como imunda, obrigando a pessoa que comesse essa outra coisa, que não fosse o arroz, feijão e ovo, a ficar de castigo até que todo o vestígio de impureza fosse eliminado do seu organismo.
Um dia, um dos membros da família teve a brilhante idéia de acrescentar ao prato, o tomate, a alface e a cebola. Para ele tornou-se um alimento bem mais nutritivo e mais colorido, o que lhe fez abrir os olhos mais do que os olhos de todo o restante da família. Foi expulso na hora.
Agora, tornou-se em duas famílias com idéias antagônicas sobre culinária. A família Arroz-Feijão-Ovo não se comunicava de jeito nenhum com a família Tomate-Alface-Cebola, muito embora esta última continuasse baseando sua alimentação no arroz, feijão e ovo. Ambas se consideravam donas da verdadeira culinária, ambas não avançavam além do que já estava estabelecido.
E assim foram vivendo, numa inimizade gritante, lamentando o fato de não mais serem uma única família, mas duas que tiveram origem no mesmo prato. A família Arroz-Feijão-Ovo crescia bem, mas a família Tomate-Alface-Cebola crescia muito mais, pois sua alimentação era mais saborosa e mais nutritiva, e lhe dava força. A única coisa que as uniam era o primeiro prato com que começaram: o arroz, feijão e ovo.
O tempo passou, a família Tomate-Alface-Cebola também teve um cisma. Alguns de seus membros resolveu acrescentar além do estabelecido, a carne de boi. Foram ficando mais gordos que não tinham mais como esconder que adotaram a carne. Também foram expulsos.
A família Carne de Boi também obteve vários adeptos, cresceu tanto que gerou outras inúmeras ramificações, como a família Carne de Frango, a família Carne de Porco, a família Peixe e, finalmente, a família Caviar.
Algumas delas mantiveram como base o arroz, feijão e ovo da primeira família, ao passo que outras acrescentavam os ingredientes de uma ou outra família. Ainda outras criaram suas próprias versões de arroz, feijão e ovo. Outras famílias tornaram-se tão ricas que deixaram completamente de lado o arroz, feijão e ovo, acrescentando outros ingredientes para substituí-los.
Porém, a família Arroz-Feijão-Ovo manteve-se fiel à sua tradição a qual foi a sua sobrevivência. Continuava incentivando seus membros a permanecerem fiéis ao prato.
Enquanto isso, a família Tomate-Alface-Cebola também se manteve fiel, pois continuava a se alimentar da base do arroz, feijão e ovo, desta forma, era uma família equilibrada.
Essas duas famílias voltaram a comunicar-se, pois tinham em comum o fato de possuírem a mesma origem, porém, com uma pequena diferença.
Enquanto isso, a numerosa família Carne crescia cada vez mais, criando cada vez mais versões e outros tantos ingredientes que está difícil identificá-las.
Esta é a triste história da igreja brasileira. Tão triste que dá vontade de chorar.
Queira Deus que dentre todas essas versões culinárias se ache um indivíduo que se levante perante Ele para tapar a brecha e interceder pelo povo, para que o povo volte para a pureza da Palavra sem nenhum outro acréscimo, nem disputas sobre quem é o dono da verdade.
Voltemo-nos ao mais puro “arroz, feijão e ovo” da Palavra de Deus.
por Fernando P. Ferreira