Responda rapidamente: quem você deletaria de sua memória sem pestanejar? Proponho que você anote esse nome em um papel e vá assistir a Brilho Eterno de Uma Mente Sem Lembrança, que levanta uma questão na qual (quase) nunca pensamos: existem memórias ruins?
Joel (Jim Carrey) é um cara tímido que arruma uma namorada, Clementine (Kate Winslet), cuja personalidade é oposta à dele. Mesmo assim, os dois começam a namorar e, juntos, constroem uma história. Nenhuma novidade até aqui: quantos filmes têm um casal protagonista? Milhões. Só que Brilho Eterno de Uma Mente Sem Lembrança não é como qualquer um desses que você deve ter imaginado.
Depois que Joel e Clementine terminam, ela resolve contratar a empresa do doutor Howard Mierzwaik (Tom Wilkinson), que oferece um serviço um tanto quanto peculiar: ele desenvolveu uma técnica que deleta, literalmente, alguém de suas lembranças. Os técnicos – vividos
por Kirsten Dunst, Mark Ruffalo e Elijah Wood – entram na mente do contratante e apagam qualquer lembrança existente relacionada à pessoa escolhida. Clementine, claro, pede que eliminem Joel de sua vida. Quando ele descobre a tramóia, não pensa duas vezes e contrata a empresa para fazer o mesmo serviço em sua mente, desta vez eliminando a ex-namorada.
O roteiro de “Brilho Eterno…” é louco e muito bem amarrado. Trabalho de Charlie Kaufman (responsável pelas histórias dos não menos alucinados Adaptação e Quero Ser John Malkovich), que mostra ser um verdadeiro aficionado pelos mistérios da mente humana. Enquanto que Kaufman nos mostra seu mapa das lembranças humanas, Michel Gondry – que já dirigiu alguns dos melhores e mais loucos clipes da islandesa Björk – nos guia pela mente de Joel. Vale também destacar a performance do comediante Jim Carrey que, mais uma vez se aventurando no gênero dos longas dramáticos, se sai muito bem, assim como Kate Winslet – mas isso não é novidade para ninguém, a inglesa já provou ser mais do que “a mocinha do Titanic”.
Brilho Eterno de Uma Mente Sem Lembrança não é somente uma experiência que brinca com a mente humana: é um filme triste. Portanto, se você resolver assisti-lo (e eu recomendo que realmente o faça), prepare-se para ter vontade de entrar em suas próprias lembranças, buscando pessoas que passaram por sua vida e estão escondidos em cantos isolados de sua mente. E, claro, chegar à conclusão de que nenhum relacionamento é tão ruim a ponto de merecer ser sumariamente deletado da memória.