Amigos, ele permanece ali, incólume. Enfrentou os anos com valentia. Já foi a vedete, a sensação. Já foi sonho de consumo. Havia fila para vê-lo. Era um avanço para sua época. Hoje permanece ali, do lado de fora da garagem do meu vizinho. A placa de “vende-se” já está amarelada. Faz meses que o dono a colocou. Não aparecem muitos interessados. Às vezes, de graça ele sairia caro. Falo de um FIAT 147L, ano 70 e poucos. Será mais fácil livrar o Brasil da corrupção do que arrumar um comprador para a peça. Faz-me lembrar de um vizinho do Mário, poeta deste site, que depois de passar pelo mesmo processo finalmente encontrou um maluco que aceitou levar a encomenda. Ao invés de entregar na hora e pedir para ele sumir de vez, o camarada pediu para entregar o carro na segunda-feira. Na noite de sábado para domingo, um motorista bêbado bateu na traseira do seu possante. Perdeu o negócio. Aí é de amargar, hein? Um abismo chama outro abismo…
É incrível como a gente muda o jeito de ver as coisas à medida que o tempo passa. Eu me lembro de quando lançaram este modelo no Brasil, no ano de 1978. Era o que havia. Hoje, já foi. Saiu coisa melhor, houve uma evolução. O mercado exigia isso. Se houve alguma coisa certa que o Collor falou enquanto era presidente foi isso: os carros brasileiros eram uma carroça. Houve uma grita geral, mas ele estava certo. Não havia abertura para importação, as montadoras nacionais deitavam e rolavam com produtos de baixo custo para eles, com altíssima lucratividade. A abertura provocou uma necessidade de busca por excelência, de fazer a indústria se mexer, criar algo novo, implementar mudanças. E graças a isso, não precisamos mais andar de Fiat 147.
Fico pensando o que seria de nós se a indústria automobilística pensasse como nós pensamos na igreja. Em que era estaríamos? Porque a igreja é o único lugar do mundo em que se pode fazer a coisa de qualquer jeito, sem capricho, sem compromisso, sem cumprir prazos, com displicência. Em duas palavras: sem excelência. Na igreja, os piores podem se perpetuar em suas funções e ainda chamamos isso de “amor” e “tolerância”. O que seria inaceitável em qualquer ramo de atividade humana, no ambiente eclesiástico é aceito como normal. Qualquer tentativa de fazer as coisas serem diferentes, choca, causa espécie, ofende, assusta. Não existe muita gente disposta a abrir a cabeça e pensar fora da caixa. É mais cômodo continuar produzindo a mesma coisa que se produziu em outras gerações do que buscar um caminho novo e vivo.
Sim, eu sei muito bem que a igreja não é uma empresa. Os objetivos são diferentes, a essência da coisa é outra, os procedimentos não podem ser os mesmos. É fácil dar esta desculpa fajuta. O que não se leva em conta é que a igreja vale muito mais do que qualquer empresa. O desenvolvimento dos automóveis, resultante da busca incessante de progresso, é alguma coisa que vai ficar por aqui. O desenvolvimento de homens e mulheres de acordo com a imagem do Filho de Deus causa efeitos eternos. Causa efeitos muito maiores do que um novo design ou conceito de carro. É algo incomparavalmente mais importante.
Por isso mesmo, deveríamos pensar e fazer igreja com muito mais gana, vontade, disposição e compromisso. Nossa motivação é a mais alta e sublime que existe. Não tem nada na vida que nos possa trazer mais alegria, prazer e realização do que servir e adorar a Deus e levar outros a fazer o mesmo. E não há outro ambiente ou projeto em que se possa fazer isso do jeito que agrade a Deus do que a igreja. Enquanto a gente não quer fazer desse jeito, a única opção que nos resta é ler livros e ouvir a experiência de outros que fizeram. Ver com os olhos e lamber com a testa. Ficar de fora do que Deus está fazendo e quando não, movidos por inveja, falar mal de quem está dando certo.
Há um preço a se pagar pelo progresso. Nada acontece por acaso. O que já foi novo e moderno há 20 anos, hoje pode estar superado e desconfortável. Para mudar esse quadro, é preciso muita inspiração e transpiração. Não vem de ficar olhando para o vento ou de ficar olhando a banda passar pela janela.
Você pode alegar que o 147 do meu vizinho pode levá-lo aos mesmos lugares que o último modelo da Honda. Pode ser verdade, mas você prefere ir com qual dos dois? Você pode argumentar que ele é mais econômico, mas ainda assim, se puder optar, você ficaria com o primeiro? Nada contra quem anda de carro velho, até porque eu sou um deles. Mas assumo que só ando porque não tenho dinheiro para comprar um melhor. É uma situação absolutamente imposta pelas circunstâncias da vida. Não é uma opção, porque seria uma opção imbecil. Eu prefiro coisa boa, atualizada. A gente pode ficar andando de carro velho, daqueles que você conserta uma coisa e quebra outra. Daqueles que na hora que você mais precisa, não pegam. Daqueles que você precisa empurrar ladeira acima quando está vestido para um casamento. Não sei quanto a você, mas eu tenho certeza de que isso não é o que eu quero para mim. Prefiro um carro novo, daqueles que você nem lembra que tem bateria. Que você pode por na estrada e viajar sem sobressaltos, com conforto e segurança.
Na igreja é a mesma coisa. Você pode ser cristão em qualquer tipo de igreja. Por exemplo, pode ser parte de uma igreja que olha para trás, ao invés de olhar para frente. Pode ser parte de uma igreja que fossiliza modelos ao invés de seguir princípios. Pode celebrar ou lamentar. Pode ser parte do problema ou da solução. Em qualquer uma delas dá para ser cristão e até cristão fiel. Mas é a mesma coisa de ir de BMW ou de Fiat 147L.
Acredite, tem quem prefira o 147. São aqueles que nunca viram, não sabem que existe e, especialmente, nunca andaram em um BMW. A única coisa que eles conhecem é o antigo “Fietinho”, como chamam meus conterrâneos da terra da pamonha. Para estes, isso é o máximo do máximo. Não existe nada melhor. É como aqueles que comem carne de terceira todo dia e quando comem um picanha argentina acham horrorosa.
Ainda bem que não é todo mundo que pensa assim. Seja você um dos que quer coisa boa, inclusive no Reino de Deus.