Qualquer imigrante estrangeiro, para permanecer no nosso país, precisa apresentar um passaporte. Este documento identifica o país de origem daquele indivíduo e quais são os seus objetivos no nosso meio. Já que a moda hoje em dia é falar de imigração, imagine se você, enquanto estrangeiro, recebe uma proposta “indecente” no país que visita… Sua conduta pode tomar pelo menos 3 caminhos diferentes:
- Calar-se. Afinal por não pertencer àquele país, ficar calado seria uma opção. Você pode até não praticar o ato que se choca com suas crenças, mas omite sua opinião a respeito. Deixa pra lá.
- Conformar-se. O estrangeiro pode aceitar o comportamento alheio e incorporar ao seu próprio – entrar na “bocada”.
- Manifestar sua opinião, respeitosamente, deixando claro que aquele comportamento ofende aquilo que você acredita e que não se permitirá fazer parte dele.
Quando cremos em Cristo, Deus nos insere na Sua Família. Efésios 2:19 diz: “Assim, já não sois estrangeiros e peregrinos, mas concidadãos dos santos, e sois da família de Deus”. No Reino de Deus, os crentes são “cidadãos”. Em 1Pe 2:11-12 lemos: “Amados, exorto-vos, como peregrinos e forasteiros que sois, a vos absterdes das paixões carnais, que fazem guerra contra a alma, mantendo exemplar o vosso procedimento no meio dos gentios, para que, naquilo que falam contra vós outros como de malfeitores, observando-vos em vossas boas obras, glorifiquem a Deus no dia da visitação.”
Controverso, não? Em uma passagem, a Bíblia diz que não somos peregrinos porque somos “concidadãos dos santos e da família de Deus”. Em outra passagem, a idéia parece ser oposta: “como peregrinos e forasteiros que sois…” Será que a Bíblia cometeu um engano?
A história de José poderá nos ensinar a compreender melhor estas duas passagens de Efésios e 1Pedro. Leia atentamente Gênesis 39:1-20
Imagine José, um “israelita”… Vendido por seus irmãos para um povo estrangeiro. Em um espaço relativamente curto de tempo, José se viu inserido no dia-a-dia Egípcio. No Egito era moeda corrente a idolatria, os vícios e toda uma gama de práticas abomináveis aos israelitas. Como um estrangeiro em terra estranha, José teve que escolher uma opção quando confrontado com uma situação que feria sua identidade israelita. Ele poderia ter escolhido todas as três possibilidades:
- ele poderia ter se calado. Neste caso ele pediria demissão e sairia daquela casa sem nunca mais falar com a mulher de Potifar. Poderia até sujeitar-se a um trabalho inferior – enquanto escravo certamente ele não teria muitas escolhas de trabalho.
- ele poderia se conformar. Deitar-se com a esposa de Potifar traria prazer carnal. A prisão certamente não seria seu futuro. E até poderia ganhar alguns “mimos” da amante.
- ele poderia fazer a diferença. José preferiu abrir sua boca para a Mulher de Potifar reprendendo-a (vv 8-9). A indignação nas palavras de José estão evidentes. Nenhum escravo ousaria levantar a voz para os patrões – que nesse caso eram seus “proprietários” – como José fez. Ele se indignou profundamente com a insistência daquela mulher egípcia.
Ao tomar aquela atitude, José deixou claro que ele não era um cidadão egípcio. O Egito não havia infiltrado o seu coração. Ele preferia sentir-se “peregrino, estrangeiro” do que conformar-se com aquela situação ou permanecer calado.
- A Europa vive hoje um pós-cristianiso, onde poucos se voltam para a Bíblia. Os EUA, caso não tome providências, irá pelo mesmo caminho. E o Brasil? Será uma exceção? A desmotivação para a Santificação é um sinal claro de que estamos sendo “cozidos em fogo brando” por Satanás, achando que está tudo normal, pois hoje em dia o mundo é assim mesmo…[1]
A Igreja está experimentando um sentimento de que “não adianta resistir às tentações”. Este sentimento diabólico explica por que a Igreja tem perdido sua identidade nos dias de hoje. Esquecemos que nosso passaporte é de “cidadãos do Reino de Deus” e não “cidadãos deste mundo”… Neste mundo, sim, somos peregrinos, estrangeiros conforme lemos em 1Pedro 2.
Santificação não é um sinônimo de perfeição. Tornar-se “santo” não é tornar-se isento de pecado. Santificação é um desejo real, ardente, individual, por manifestar uma identidade parecida com Jesus. Santificação, portanto, é um processo… e está sob a égide do Espírito Santo em João 16:7-8: “Mas eu vos digo a verdade: convém-vos que eu vá, porque, se eu não for, o Consolador não virá para vós outros; se, porém, eu for, eu vo-lo enviarei. Quando ele vier, convencerá o mundo do pecado, da justiça e do juízo:”
Relembre-se de José… “como, pois, cometeria eu tamanha maldade, e pecaria contra Deus?” (v.9) … José não se deixou levar pelo pecado por medo de Potifar, mas por medo de perder sua comunhão com Deus (v.2). Ele não estava preocupado com o que falariam dele, mas o que Deus pensaria da sua atitude. A Igreja precisa recuperar seu desejo por Santidade. E a motivação para isto não é o de “ser visto pela sociedade”, mas “ser visto pelo seu Senhor”.
- Santificação é algo absolutamente irrelevante, quando vista pelos olhos de alguém que não entregou sua vida a Jesus.
No trabalho, no lar, na vizinhança, na Internet, no telefone, na televisão, a Igreja precisa recuperar o padrão de santidade de Deus… Até mesmo nos cultos é preciso recuperar a Santidade… Somos brasileiros peregrinos no próprio Brasil. Deus nos transformou e hoje somos estrangeiros – cidadãos celestes, habitando uma terra de homens de lábios impuros[2].
O comportamento ético do cristão precisa ser guiado pelo seu desejo de santidade. A mordomia do dinheiro, das contas domésticas, dos gastos individuais, do tempo… O cristão não pode se render ao jeitinho brasileiro. É inadmissível! É vergonhoso! Mancha nossa identidade com Cristo…
Que o mundo vá de mal a pior, a gente até entende – afinal o mundo “jaz no maligno”. Agora, se a Igreja de Cristo queira seguir a identidade do mundo, nega a própria Cruz de Cristo. A santidade começa com um desejo íntimo… Abra a sua boca… defenda o Reino de Deus, pois Maior é o que está em nós do que o que está no mundo…. Aleluia.
Notas:
[1] Sérgio e Magali Leoto em “Eu, um servo? Tá difícil” [2] Isaías 6:5