Os Vigaristas

Os Vigaristas é realmente um filme sobre trapaças. O espectador é o primeiro a ser trapaceado. No caso, pelo diretor Ridley Scott e os roteiristas Nicholas e Ted Griffin. Mas, ser enganado aqui, vale a pena. À primeira vista, o filme parece ser uma típica história sobre dois trapaceiros e seus mirabolantes golpes para faturar uma grana em cima de incautos. Mas a impressão se desfaz logo e descobrimos que, na verdade, a história prioriza as relações familiares à ética da picaretagem.

O filme retrata a história de Roy, (Nicolas Cage – perfeito!), um obssessivo-compulsivo cheio de tiques e com mania de limpeza. Junto a seu ambicioso sócio e aprendiz Frank (Sam Rockwell), forma uma dupla que vive de aplicar pequenos golpes. As coisas mudam quando Roy fica sabendo da existência de uma filha, fruto de um relacionamento desfeito há anos. Ela é Angela (Alison Lohman), adolescente voluntariosa que vira pelo avesso a rotina cuidadosamente ordenada do pai neurótico. Mas com o passar do tempo, Roy começa a gostar de sua nova condição de pai. O problema é que a menina fica fascinada por sua carreira questionável na mesma proporção. Depois de muita insistência por parte dela, Roy, mesmo contrariado, a ensina alguns golpes, o que causa a Angela um misto de orgulho e tristeza, apesar dela demonstrar um talento especial para a coisa.

O mais interessante de filmes de bandidos e picaretagens é que nós invariavelmente torcemos para eles se darem bem, e isso não é diferente em Os Vigaristas. Sabemos que pessoas estão sendo lesadas e que a forma deles ganharem dinheiro é ilícita, mas não conseguimos nos colocar no lugar das vítimas. Isso acontece com todo mundo mesmo ou é só comigo? Ainda bem que isso é só enquanto assistimos ao filme.

Ridley Scott ratifica mais uma vez seu talento com essa comédia sem fatuidade e repleta de anacronismos propositais. Tudo acontece, aparentemente, numa cidade moderna, mas alguns detalhes remetem aos anos 50 e 60, o que nos faz ficar em dúvida se o filme é uma história atual ou passada em outra época. Os Vigaristas não é denso, mas os personagens são psicologicamente complexos. As interpretações de Nicolas Cage e da jovem Alison Lohman impressionam. Ela é a grande revelação. Interpreta um adolescente de 14 anos com todas as suas idiossincrasias de modo convincente, apesar de já ter 24 anos. Uma boa pedida para o fim de semana.