Estamos nos aproximando do dia 7 de Setembro. Nosso país escolheu esta data para chamar de “Dia da Independência”. Neste ano, o “dia da independência” será “comemorado” em meio à uma gravíssima crise política. Uma densa cadeia de corrupção está se desmontando aos nossos olhos. Indivíduos investidos democraticamente para o governo do nosso país estão atolados em um lamaçal de acusações de proporções épicas, que a cada dia cresce mais.
“Agora temos a oportunidade de mudar o Brasil mais uma vez”! Esta é a expressão que ouvimos todos os anos, especialmente nos anos no entorno de eleições. Mas o que deveríamos esperar da Igreja do Senhor nesses dias de tribulação? O povo brasileiro vive um momento de profunda desesperança.
É rotina nas conversas seculares hoje falarmos de mensalão, corrupção, cuecão… Discutimos os rumos da política nacional durante o almoço em família, as últimas notícias policiais durante o jantar e aos domingos à tarde ficamos nos divertindo com as fofocas dos artistas – quem “pegou” quem e todo tipo de notícias.
Leia atentamente o capítulo 3 do livro de Isaías, segundo a paráfrase da Bíblia Viva:
- O SENHOR do Universo vai cortar o sustento da cidade de Jerusalém e do povo de Judá tanto o pão quanto a água. Vão desaparecer os soldados, os juizes, os profetas verdadeiros e falsos, e os velhos, cidadãos; o oficiais do exército, os comerciantes,os advogados, os mágicos e os feiticeiros. Os reis,de Israel serão como crianças – suas leis,e suas ordens serão tolices de criança. As pessoas não darão importância a seus vizinhos; todos vão viver brigando. Os jovens ofenderão, os velhos e.lutarão contra as autoridades. Os criminosos atacarão os homens de bem.
Naqueles dias, um homem dirá a seu irmão: “Você, você ainda tem uma roupa decente. Você vai ser o nosso rei e dar um jeito em toda essa confusão!”
E a resposta será: “Nunca! Eu não posso ajudar ninguém. Não tenho roupas nem comida sobrando. Não quero me envolver com isso!”
Todo o reino de Judá está caindo aos pedaços porque os judeus ofenderam o Senhor falando e fazendo coisas indignas da Sua glória. Basta olhar para os seus rostos para ver o seu pecado. Eles não sentem nem um pouco de vergonha em mostrar publicamente os seus pecados, como fazia o povo em Sodoma. Já escolheram seu destino, o castigo de Deus.
Mas, para as pessoas que obedecem a Deus, tudo correrá bem. Digam a elas: “Vocês receberão um prêmio por terem obedecido a Deus!” Mas para os que não obedecem digam: “O seu castigo não demora! Vocês vão sofrer por todo o mal que fizeram!”
Ah, meu pobre povo! Os seus líderes não passam de crianças, brincando de reis. São fracos como mulheres! Eles enganam o meu povo, levando-o pelo caminho da destruição.
O Senhor se levanta, e como um advogado de acusação num tribunal, Ele acusa o seu povo! Os primeiros a ser castigados serão os velhos e os príncipes, que exploraram o povo. Encheram os bolsos com o que roubaram de gente pobre e humilde.
O Senhor do Universo pedirá contas, dizendo: “Como vocês tiveram coragem de fazer tanto mal ao meu povo; de explorar tanto os pobres?”
Depois disso, Ele vai julgar as orgulhosas mulheres de Judá, que desfilam pelas ruas, de cabeças erguidas, exibindo seus enfeites, que fazem barulho quando elas andam.Enquanto isso, provocam os homens, com olhares maliciosos. Mas o Senhor vai castigar essas mulheres com uma doença no couro cabeludo! Vai deixá-las nuas e envergonhadas diante de todos. Quando isso acontecer, elas já não terão os dedos todos enfeitados de anéis, nem os enfeites de meia-lua e as toucas; os belos colares, as pulseiras e os véus que as deixam tão belas desaparecerão. os lindos chapéus, as correntes que prendem nos tornozelos para andar com ,elegância, as cintas; os brincos com perfumes e os amuletos; os anéis com selo e.as jóias até no.nariz, os belos vestidos de festa, os xales elegantes, os mantos e as bolsas; seus espelhos, as blusas delicadas, os enfeites para o cabelo e os longos véus, tudo isso vai desaparecer. Em lugar do perfume vai haver o mau cheiro; em vez de belos cintos elas usarão pedaços de cordas; seus cabelos, sempre tão bem penteados, cairão completamente; em vez de belos vestidos, usarão pano de saco.
Toda a antiga beleza dessas mulheres desaparecerá; tudo que lhes resta é a vergonha e a desgraça.
Os seus maridos morrerão na guerra e as mulheres, tristes e sem esperança, chorarão sentadas à porta da cidade.
O Senhor traça um panorama muito sombrio para o seu povo! Eles haviam fugido da presença do Senhor e se rendido à secularização. E perderam…
- O sustento alimentar (v.1). Israel, por se afastar da presença do Senhor, perdeu “tanto o pão quanto a água”. Nosso país, à semelhança de Israel, tem experimentado esta escassez. Somos o maior exportador de café e outros produtos agrícolas do mundo. Temos a maior reserva de água doce do planeta. Nosso povo, porém, morre de fome. Um terço da nossa população pediátrica é desnutrida. A diarréia ainda é uma das maiores causas de mortalidade em todas as faixas etárias entre a população pobre – nossa água está contaminada. A Igreja de Cristo precisa lamentar isto.
- Pessoas responsáveis pela ordem cívica (vv. 2-3). Deus imprime justiça sobre nós e sobre a nossa nação, nos deixando sem referenciais de moral e de espiritualidade. Desesperado, o povo brasileiro se apega aos ídolos do futebol, aos ídolos da música popular e aos ídolos da televisão e do cinema, reproduzindo seus costumes imorais, amorais e espiritualistas. Mas quando questionamos os nossos ídolos da mídia sobre determinados problemas nacionais, nem mesmo os adivinhos e os encantadores assumem responsabilidades ou se afinam em suas previsões futurísticas. Até mesmo aqueles que supostamente identificamos com possibilidades de servirem como espinha dorsal da ordem cívica nos surpreendem com suas ações corruptas e com o seu linguajar chulo.1 A Igreja de Cristo precisa lamentar isto.
Por tais afrontas e pelo pecado da omissão profético-testemunhal, amaldiçoamos o nosso país com a perda de bênçãos divinas. Bênçãos primordiais e elementares para o equilíbrio sociopolítico, para a governabilidade e para o resgate de valores éticos e morais sublimados que devem caracterizar uma nação cristã.
- Governantes amadurecidos e austeros, devidamente preparados para o cargo (v.4). A história dos governantes do Brasil nos mostram que acordos espúrios para a manipulação do povo existem desde a colonização. Capitanias Hereditárias foram entregues a “dignatários” indignos e administradas indolentemente. Governos gerais idem. O Brasil império foi marcado pela corrupção evidente na corte. A República fundada em 1889 não alterou muito o panorama dos governantes. Você é capaz de lembrar-se dos últimos debates eleitorais? Parecem garotos mimados discutindo entre si, qual será o menino mimado que vai “ganhar” a disputa! E que padrões morais a igreja tem levantado no país? Temos buscado ídolos no futebol, na música popular, na televisão, nos mega-shows evangélicos… e ainda assim continuamos não tendo uma referência de integridade moral e espiritual reconhecida. A Igreja de Cristo precisa lamentar isto.
- O Respeito pelo indivíduo (v5). Devolver uma carteira cheia de dinheiro ao verdadeiro dono vira “jingle” publicitário! “Traficante bom é traficante morto”, “velho é peso morto”, “igreja é uma mina de dinheiro”, “pastor é gente safada”… Devemos chorar rios de lágrimas. Devemos clamar aos prantos e berros diante de Deus, visto que quando a nação se perverte a este ponto, prevaricando a cidadania, o que vemos prevalecer é a decadência moral e espiritual em seus mais elevados graus. O Brasil de hoje referenda o escrito de Caminha a Coroa Portuguesa, preconizando que no futuro seríamos um país de degradados e prostitutas. A Igreja de Cristo precisa lamentar isto.
- Pessoas devidamente preparadas e dispostas a participarem no processo de restauração sociopolítica do Brasil – vs. 6 e 7. Necessitamos de alguém que nos apresente diretrizes pautadas nos absolutos de Deus, na Bíblia Sagrada, não na Republica de Platão, no Capital de Marx, nos ideais de Getulio ou de Juscelino e muito menos no Príncipe de Maquiavel. Precisamos de um governante que nos estimule à esperança viva e não a esperança fugaz de um futuro ou de um país melhor, mas esperança de vida eterna. A vida que nos outorga a cidadania celestial que se refletirá em nossa ação sociopolítica e no exercício da cidadania terrena. Amados, não será o continuísmo neoliberal e muito menos um trabalhista, ou um populista, ou um socialista elitizado, ou mesmo um aventureiro que se apresente como o salvador da pátria que apresentará a cura para as diversas mazelas sociais e espirituais do Brasil. A Igreja de Cristo precisa lamentar isto.
A Igreja de Cristo precisa lamentar. “Chegai-vos a Deus, e ele se chegará a vós outros. Purificai as mãos, pecadores; e vós que sois de ânimo dobre, limpai o coração. Afligi-vos, lamentai e chorai. Converta-se o vosso riso em pranto, e a vossa alegria, em tristeza. Humilhai-vos na presença do Senhor, e ele vos exaltará.” Tiago 4:8-10.
Entenda, eu não estou te convidando a participar de um lamento lamurioso2. A Santa convocação do Senhor para o Seu povo é para uma atitude verdadeira de “contrição”. A Igreja precisa “sentir” o que Deus sente. Você já se perguntou para onde foram as lágrimas nas nossas assembléias e igrejas?
As lágrimas representam o derramar da alma. Pode-se dizer que lágrimas são orações líquidas. Lágrimas são amor sem palavras. Não importa em que país estiver, ou em que cultura, ou com qual raça, as lágrimas sempre dizem a mesma coisa. São eloqüentes. Comunicam quando a linguagem não é capaz de fazê-lo, e mostram que o coração está envolvido.
Observamos a igreja brasileira muito voltada para a solução das necessidades individuais. Vivenciamos o tempo em que uma migração intensa está ocorrendo na direção dos cultos. E de fato, Deus tem operado grande restauração individual na vida de muitas pessoas.
Ocorre que uma grande bênção traz consigo uma grande responsabilidade. O que a igreja – multidão dos abençoados do Senhor – está fazendo enquanto nação? Você não está chorando? Você não se importa? Não te incomoda que o seu país permita que homossexuais se casem? Não te incomoda que os dirigentes eleitos do seu país estejam atolados no lamaçal da corrupção? Não te incomoda que os pastores sejam mais vistos como “aproveitadores” do que “ministros de Deus”?
Há solução? Sim! Não é utopia política e nem devaneio profético. É Bíblia! É vida devocional consistente! Jesus Cristo no coração do povo brasileiro é a solução para este dantesco quadro sociopolítico que reflete séculos de exploração econômica, de frouxidão ética, de escravidão no pecado e na idolatria. Só seremos uma nação melhor, um povo melhor, quando formos pessoas melhores. Quando formos pessoas transformadas pelo poder do evangelho e cristãos comprometidos com a salvação que nos regenera e com o testemunho.
Jesus lamentou por Jerusalém, e sobre ela fez uma dura profecia: “Jerusalém, Jerusalém, que matas os profetas e apedrejas os que te foram enviados! Quantas vezes quis eu reunir os teus filhos, como a galinha ajunta os seus pintinhos debaixo das asas, e vós não o quisestes! Eis que a vossa casa vos ficará deserta. Declaro-vos, pois, que, desde agora, já não me vereis, até que venhais a dizer: Bendito o que vem em nome do Senhor!” Mateus 23:37-39
A Igreja de Cristo precisa lamentar pelo Brasil. Precisamos sentir como Deus. E, como Deus não ficou parado, também não podemos ficar estáticos.
“Não há justo, nem um sequer” (Romanos 3:10); “Pois também Cristo morreu, uma única vez, pelos pecados, o justo pelos injustos, para conduzir-vos a Deus; morto, sim, na carne, mas vivificado no espírito” (1 Pedro 3:18) “Justificados, pois, mediante a fé, temos paz com Deus por meio de nosso Senhor Jesus Cristo” ( Romanos 5:1).
Para recuperar as bênçãos que o Brasil perdeu por causa da sua incredulidade, é preciso reconhecer nossas injustiças e denunciá-las. Se o mundo nos odiar por isso, que odeie. Se nos perseguir por isso, que venha a perseguição. Se o Brasil não se render aos pés de Jesus, ainda assim lutaremos e pregaremos! Proclamaremos o evangelho a esta brava gente brasileira para que longe vá o temor servil, visto que para ficar esta pátria salva, Jesus morreu pelo Brasil.
Precisamos quebrar o poder das trevas e a maldição dita por Pero Vaz de Caminha de que nossa terra seria terra de “degradados e prostitutas”.
Estamos sendo convidados a nos “afligir, chorar e lamentar” pela nossa nação e, ao mesmo tempo, Convocados a nos “achegar a Deus”.
Leia também: Um breve testemunho do Brasil, por Fabrício Batistoni.
Notas:
1 Texto adaptado da mensagem: Bênçãos que o Brasil perdeu do Pr Fernando Fernandes 2 Segundo o Dicionário Aurélio, Lamúria significa: Lamentação (2 e 3); Lengalenga de desgraças, para se alcançar o que se pede; choradeira.