Inconformados

Sou inconformado por natureza. Acho que às vezes sou duro comigo mesmo e com as pessoas que me cercam. Sinceramente, não sei o quanto isto é bom ou ruim, mas vivo numa luta constante ao ver que eu mesmo e a igreja, de forma geral, temos mudado valores eternos por propostas mais agradáveis que o mundo nos sugere.

Temos perdido a reverência e creio que em muitas comunidades cristãs o “temor do Senhor” soa como uma expressão estranha, algo da época do Antigo Testamento. Talvez uma falha em nossa hermenêutica bíblica, tenha tornado Jesus tão amigo (Jo 15:15), que nos esquecemos que Ele é o Senhor. Aliás, o senhorio de Cristo e a mensagem da cruz, há muito, têm sido trocados por mensagens de bênçãos e prosperidade. Jesus dá, Jesus faz, Jesus cura… Jesus mais tem parecido com o gênio da lâmpada do que com o Senhor do Universo.

Antes que você me critique de forma errada, quero deixar claro que creio em milagres e nas intervenções divinas feitas por Deus. Minha experiência cristã é cercada de histórias de curas e livramentos. Já vi Deus segurar chuva no céu ou mesmo suprir necessidades financeiras impossíveis de forma espetacular e, por vezes, inexplicáveis. Porém, a essência do Evangelho não é esta.

Em outro extremo vejo a igreja se misturando com o mundo e tomando sua forma cada vez mais. Esquecemos que nosso chamado é para ser diferente e não igual. Não me refiro a costumes, liturgias ou vestimentas, mas as atitudes que tomamos. Conseguimos jogar uma partida de futebol, participar de uma festa ou sair com amigos sem que nenhum deles veja diferença ou seja impactado por nossas vidas. Se o sal for insípido para nada mais presta do que ser jogado fora (Mt 5:13).

Em nosso chamado de diferença, penso que o inconformismo seja uma das características principais (Rm 12:2). Não podemos aceitar que os padrões de um mundo corrompido e dominado pelo diabo entrem em nossas mentes e igrejas tão facilmente. Palavras como virgindade, casamento, compromisso e santidade devem continuar fazendo parte do dicionário da vida cristã, ainda que o mundo diga que não.

A igreja primitiva caía na graça do povo e gerava incômodo nas autoridades e políticos da época. Hoje muitas igrejas têm servido de trampolim para políticos, enquanto o povo vê assustado, escândalos envolvendo pastores e igrejas.

Creio que precisamos de novos homens com a visão de Isaías (Is 6:1-5) para enxergar nossos pecados. Homens com a coragem e disposição de Lutero, para romper com os padrões mundanos dentro da própria Igreja. Homens com os corações sensíveis como o de Esdras, para se humilharem: “Meu Deus! Estou confuso e envergonhado, para levantar a Ti a minha face, meu Deus; porque as nossas iniqüidades se multiplicaram sobre a nossa cabeça e a nossa culpa tem crescido até aos céus” (Ed 9:6).

Creio que precisamos de homens e mulheres inconformados.

“Senhor, Tu me sondas e me conheces” Sl 139:1.