Com a cara de Lois Lane

Esses dias, num domingo pela manhã, eu estava assistindo TV e peguei a última cena da minissérie “As novas aventuras Superman”. Fiquei impressionada com a exatidão da cena e com a verdade dolorida que ela continha e que me fez olhar no espelho e me ver com a cara da Lois Lane. A cena era assim: Clark e Lois entravam no jornal pela manhã. Na noite anterior Superman havia solucionado mais um problema. Clark diz:

– Lois, eu queria te pedir desculpas por ontem!
– Pelo quê? Por ter pedido uma pizza, quando eu tentava falar dos meus sentimentos?
– Acho que não fui muito sensível. (Ele começa a colocar a mão no ouvido, pois está ouvindo gritos de socorro).
– Eu só queria dizer…
– Tenho que ir Lois!

Ela fica parada com duas xícaras de café na mão.

Tratada com descaso, deixada de lado, abandonada, substituída com facilidade, sempre em segundo plano. Quando não são os pais que preferem os irmãos é a namorada que arruma outro, quando não são as amigas que excluem você, é o marido ausente, e assim poderíamos fazer uma lista de situações nas quais ficamos com a cara da senhorita Lane. Por vezes não são xícaras que temos nas mãos, mas um telefone após ouvir “Não vou poder ir”, um jantar que esfria ou uma comemoração que não acontece. Como diz uma frase que li por aí, não importa o quanto você se importa, há pessoas que simplesmente não se importam. Com isso você inventa desculpas para si mesmo e começa a se consolar com as razões que fazem as pessoas agirem assim. É difícil lidar com heróis, suas razões são nobres, os motivos justos, assim fica a esposa jantando sozinha, afinal, o trabalho requer muita dedicação; ficam os filhos sem uma família, afinal, como vamos pagar as despesas deles mesmos?; chora a noiva diante do “Tenho que ir, meu chamado é mais importante!”; fica a família sem pai, afinal, o ministério consome tempo. Parece crueldade minha dizer essas coisas, mas hoje em dia tudo é muito egoísta, até mesmo os cristãos; sempre pressupõem que as pessoas precisam ser fortes, compreensivas, mas até que ponto? Até que ponto Deus quer filhos obstinados em “ser” e não em “cultivar”?

Houve uma mulher que sabia exatamente o que era ser deixada de lado. Durante o percurso de sua vida, ela foi deixada pelo esposo, filhos, amigos, parentes, igreja… Todos, sem distinção, a tratavam com descaso. Ela era impura, doente. E pra tentar recuperar sua vida, ela gastou tudo o que tinha e não conseguiu sua cura.

Ninguém disposto a ouvi-la. Ninguém que se preocupasse com seu bem estar. Ninguém! Aquela mulher entendeu a importância das pequenas coisas, sentiu quão notável era um bom dia, um “Hoje vou passear com você!”, ou simplesmente um abraço de até logo. Assim, quando ela soube que Jesus passaria por perto, almejou grandes coisas. “Se tão somente eu tocar na orla de seu manto, serei curada!”. Podemos ver isso como fé ou como mal costume, costume de ter bem pouco, costume de não querer incomodar, de não esperar demais para não se decepcionar, de não se achar digna.

Mas ela se enganou desta vez. Realmente foi curada, mas também foi vista! Jesus parou (Ele é o máximo!) e disse: “Quem me tocou?” E os discípulos disseram: “Mestre, você está no meio da multidão e pergunta isso?”. Oh! Gente patética!!! Os discípulos parecem aqueles amigos que dizem “O quê? Vai sair com sua esposa?” ou, “Vai mesmo tirar férias pra viajar com a família? Que isso!” E Jesus continua: “ Alguém me tocou porque de mim saiu virtude” e aquela mulher com o coração a mil deve ter olhado para Ele e feito um sinal tímido. Jesus se aproxima e ouve sua história. Ele parou tudo que estava fazendo. A filha do centurião morrendo, os discípulos falando, a multidão aglomerando e Jesus se deliciando com o brilho que se restituía nos olhos daquela mulher. Ele ouve, e a chama de filha (a única na Bíblia, hein!), aquela que achava que não merecia nada, viu qual era o interesse de Deus por ela, um TOTAL interesse.

Às vezes as pessoas não se importam, não ouvem, não aparecem, mas há um olhar voltado para nós, há uma voz que sussurra nosso nome e que quer ouvir nossas histórias, sorrir com os nossos causos, chorar com nossas dores. Ele não precisa salvar o mundo, porque isso Ele já fez e até nisso pensava em você . Assim ouça a Voz que manda tudo parar, somente para ouvir o que você tem a dizer. Este é o seu salvador.

por Érika Silva Santos