Bom Samaritano: Religião X Reino de Deus

Lc 10.25-37

A relação de “próximo”. O termo grego (plesíon) corresponde a um hebraico, que significa vizinho Pv 25.17; 27.14 ou amigo Pv 27.9; Pv17.17; Ec 37.1-6. É um conceito de relação recíproca, que inclui dois correlativos: um considera e trata o outro como próximo = amigo. Isso explica o deslocamento da resposta com relação à pergunta: – quem é o meu próximo? Quem se comportou como próximo? É preciso tomar a iniciativa, é preciso tornar-se próximo do necessitado. A resposta de Jesus não é teórica: sua palavra quer educar na arte de tornar-se próximo.

O diálogo começa com uma pergunta inicial feita por um letrado jurista judeu que coloca a pergunta em termos deuteronomista, para viver é preciso cumprir Lc 4.1; Lc 5.1, Lc 33.8-12; Lc 16.20; Lc 30.16. O termo “herdar” é termo técnico no AT e seu objeto é a terra. A pergunta do legislado tem resposta na “Lei”, por isso Jesus faz ele mesmo responder. Ele responde sintetizando os (seiscentos e treze preceitos, nas contas dos rabinos) em dois, o amor a Deus e ao próximo Dt 6.5 e Lv 19.18; síntese que Jesus faz segundo Mt 12.28 – se expulso demônios…logo é chegado o Reino de Deus; Lc 22.29 – errais não conhecendo as Escrituras, nem o poder de Deus).

Vemos então que o problema daquele magistrado, não estava na identificação de Deus, mas sim do próximo. No contexto levítico, próximo era o israelita; em Deuteronômio reserva-lhe o título de “irmãos”. Na prática dos doutores podia excluir pecadores e não observantes, eles decidiam quem era e quem não era o próximo. Analisemos os personagens e suas reações.

Podemos observar as personagens e estudar sua relação:

1. Um “homem qualquer”, anônimo, sem identificação de pátria nem ofício, vítima indefesa de salteadores; jaz meio morto num caminho de curvas e abismos. Talvez um viajante, um desempregado em busca de trabalho; quem sabe um bóia-fria. Enfim, é alguém carente, desprotegido, marginalizado, sem amigos, sem dinheiro, sem família – sem ninguém – a sós no mundo, como milhões de outros por aí. Lá está ele: jogado à beira da estrada, caído na sarjeta abandonado.

Entram em cena então, os homens religiosos da época, pensemos: este é o momento de expressão da verdadeira religião, pois o texto diz que eles o viram.

2. Um “Sacerdote” e um “levita” (clérigo de ordem inferior), ou seja, funcionários do culto, atentos as prescrições da pureza ritual. A tensão entre culto e ajuda ao próximo, justiça social, é uma constante no AT, Profetas, Sapienciais, Salmos Is 1.10-20; Jr 7; Sl 50. Os dois clérigos da parábola separaram compaixão e culto. Talvez eles não puderam parar por que iriam participar de algum ritual, e o contato com tal imundo os contaminaria.

3. Um “Samaritano”, isto é, meio pagão; gentílico que é quase um insulto para um judeu Jo 4.9; Jo 8.48. Durante cerca de 800 anos os judeus não se davam com os samaritanos, porque em 722, Salmanezer ou Sargão II, reis da Assíria tomara Samaria e substituíram seus habitantes por bailônios e sírios, que trouxeram suas tradições, crenças religiosas contrárias às dos judeus.

Os samaritanos eram inimigos, para os judeus, um foco purulento incrustado no seu território. Eram considerados como cães. Mas este, compassivo, solícito, generoso, tanto que a tradição o distinguiu com o título de “bom samaritano”.

Aqui estão algumas verdades para nós:

a) Há muitos que se dizem religiosos, crentes, cristãos, mas não desejam nenhum comprometimento com os problemas dos outros. Isto é negação de religião, isto é negar a Cristo;

b) Muitos julgam que devam ajudar apenas à sua prole, seus parentes, colegas e amigos, àqueles que fazem parte do seu círculo restrito de amizade, “panelinhas” e nada mais. Este raio de atuação é bastante limitado, sua atuação muito restrita;

c) Na concepção cristã, o nosso próximo não está limitado à nossa família, nossas amizades, nossa raça, a nossa língua. Nosso próximo é todo aquele que necessita de auxílio e quem podemos ajudar; e

c) A parábola nos ensina que a verdadeira religião é a prática do amor. É crer fazendo. É viver o que crê, e fazer o bem que se deve fazer. Tiago 1.27 diz:

“A religião pura e sem mácula, para com o nosso Deus e Pai, é esta: visitar os órfãos e as viúvas nas suas tribulações.”

Nesta parábola contada por Jesus, se você fosse um dos integrantes, quem seria você? O sacerdote? O levita? Ou o bom samaritano?

Agora olhe ao seu redor: Veja quantos necessitados, abandonados e carentes estão à beira da estrada, destruídos pelo pecado assaltados pelo mal. Observe quanta ruína e tragédia! Então reaja: Ajude alguém hoje! Faça o bem a alguém; diga uma palavra de conforto; levante um caído, anime-o, ponha seu amor em prática. Chega de palavras que levam ao desespero e a dor, diga algo proveitoso para alguém, seja ele seu irmão em Cristo, seja ele confesso de qualquer outro credo…vamos! Saia do ostracismo, vamos, vamos, vamos…por favor! Talvez ao ajudar ou receber alguns destes em sua casa, você poderá estar acolhendo o próprio Senhor.

Concluo com as palavras de Jesus ao legislador no final desta parábola: “Vai e procede tu de igual modo, e mais… faze isto e viverás.” Lc 10.37-38.