A tarefa de escrever esta matéria levou mais do que os 110 minutos de projeção dO Guia do Mochileiro das Galáxias e alguns minutos redigindo este texto diante do computador. Eu sempre tive a vontade de ler um livro antes de assistir o filme escrito baseado nele e até hoje nunca tinha tido a oportunidade, a não ser dos filmes que adaptaram histórias bíblicas.
Quando “O Guia…” entrou nas telonas, tratei de procurar o livro para ler. Quando achei, fiquei um pouco relutante de comprar, mas finalmente acabei adquirindo-o na semana passada, quando o filme já não estava mais em cartaz na maioria dos cinemas devido à chegada de outros blockbusters como Batman Begins e Guerra dos Mundos. Li as 210 páginas do livro em apenas 4 dias e ontem consegui ir ao último cinema do Brasil que ainda está exibindo o filme.
O fato de ler uma obra antes de ver sua adaptação no cinema tem dois lados: a satisfação de ver materializadas aquelas cenas que estavam apenas no seu imaginário, e a frustração de ver outras brutalmente alteradas.
Ao assistir “O Guia” no cinema tive essas duas sensações. Muitas das cenas são literalmente como descritas no livro, inclusive alguns dos diálogos estão na íntegra, como imaginados originalmente pelo autor do livro Douglas Adams, que morreu em 2001 quando o filme já estava sendo produzido.
Por outro lado, a sensação de “adultério” incomoda em várias ocasiões. Principalmente quando um planeta, vários personagens e diversas situações são encravados na obra, fazendo eco até no final da história, que teve desfecho diferente da original.
No entanto, não podemos ser tão radicais a ponto de exigirmos que a dramatização seja exatamente como contada no livro, pois são mídias muito diferentes que produzem expectativas diferentes. Até um sentimentalismo descartável e uma lição de restauração foi inserida na história simplesmente porque o público “pede” isso. E quem sou eu pra dizer que eles estavam errados?
Para os desavisados, O Guia do Mochileiro das Galáxias é uma comédia completamente nonsense que me fez lembrar várias vezes o humor refinado do grupo inglês Monthy Pyton. Aliás, Douglas Adams era britânico, o que já dá a garantia de que o humor é muito mais inteligente do que os famosos besteiróis americanos.
Para finalizar, quero dizer que gostei muito do filme todo, apesar de todas as alterações em relação à obra original. É muito engraçado, muito inteligente e completamente sem-noção. Tem hora que você não acredita no que está vendo (é geralmente nessas horas que o filme aproxima-se mais do livro que é todo nesse clima). É diversão garantida para toda a família! (que frase mais batida! hehehe).
Um alerta
Só para você não me acusar depois de indicar um filme (e um livro) herege, aviso que Adams era um ateu convicto. O filme tem a ver com seres extraterrestes e teorias absurdas de evolução e ausência de Deus. No entanto, em última instância, sua obra é uma busca ao verdadeiro sentido da vida que, até onde sabemos, ele morreu sem conhecer.