Star Wars – “Que a força esteja com você”

“Não vos enganeis, meus amados irmãos. Toda boa dádiva e todo dom perfeito são lá do alto, descendo do Pai das luzes, em quem não pode existir variação ou sombra de mudança” (Tiago 1.16-17).

Em 1977, o diretor George Lucas iniciava a saga de Star Wars (Guerra nas Estrelas). Eu era um adolescente, aluno do colegial, quando entrei com meu pai em um cinema num shopping center na cidade de Nashville, no estado do Tennessee. Meu pai dormiu durante boa parte do filme; depois me disse que as naves em alta velocidade lhe deram sono. No entanto, não pisquei o olho e fiquei fascinado com os acordes da música-tema e com a história em si. Adquiri rapidamente o disco de vinil (naquela época não existia CD) contendo todas as músicas do filme. A frase: “Que a força esteja com você” ecoava na minha mente e passou a fazer parte do meu vocabulário. Cheguei a pronunciá-la dezenas de vezes durante as semanas seguintes.

Uma “força” simultaneamente boa e má

Essa hexalogia foi iniciada pelos três episódios finais, a saber: Star Wars IV (Uma Nova Esperança), Star Wars V (O Império Contra-Ataca) e Star Wars VI (O Retorno de Jedi). Em 1999, George Lucas começou a contar o começo do enredo com Star Wars I (A Ameaça Fantasma). Em 2002 foi lançado Star Wars II (O Ataque dos Clones). E agora, 28 anos após o final da história ter sido contada, ele conclui a saga com Star Wars III (A Vingança dos Sith).

O escritor cristão William M. Alnor critica Star Wars em seu livro UFOs in The New Age (OVNIs na Nova Era):

O retrato dos alienígenas, por parte de Hollywood, tornou-se mais místico a partir do final dos anos setenta até o presente. Em Guerra nas Estrelas, […] nenhum dos personagens era terreno, porque a história do filme ocorreu há muito tempo atrás em uma galáxia distante, muito distante. Porém, o personagem principal era um humanóide e alguns dos extraterrestres eram bons, enquanto outros eram maus. No entanto, essa série promoveu uma visão de mundo oriental onde uma força impessoal auxiliou a ambos, os bons e os maus, enquanto competiam por poder. O bem venceu no final, mas o herói Luke Skywalker descobriu que o ‘lado negro’ também fazia parte dele. Darth Vader, o epítome do mal nesse seriado, era, na verdade, seu pai.

No episódio V (O Império Contra-Ataca), encontramos o jovem Luke Skywalker, representante do lado bom da “força”, sendo treinado por Yoda (puxa! quase que era yoga), um experiente alienígena integrante do “conselho de jedis”. O local de treinamento é um pântano nebuloso. Luke Skywalker curiosamente entra em uma caverna obscura onde explora e enfrenta o lado mau da sua “força”. Skywalker duela e consegue degolar seu oponente com sua “espada de sabre de luz”. Ao observar o rosto do oponente decapitado, fica atônito ao constatar que, na verdade, o oponente era ele próprio. Skywalker matou o seu próprio lado mau da “força”. Do ponto de vista do cristianismo, matar a nossa natureza pecaminosa é muito bom. Skywalker agiu como um cristão. Mas, para surpresa dos cristãos, essa atitude foi reprovada pelo seu professor Yoda, que preferiria que seu pupilo tivesse aprendido a conviver com os seus lados bom e ruim, sem ter de matar ou aniquilar nenhum dos dois. Isso é o que ensinam algumas das religiões orientais, como, por exemplo, o taoísmo.

Sem dúvida, os ensinamentos espirituais, transmitidos pela corja de extraterrestres de Star Wars, são muito mais a favor das religiões orientais do que do cristianismo.

A força “Chi” do taoísmo

O taoísmo ressalta que o bem e o mal emanam de uma única força chamada “chi” ou “qi”, traduzida como “sopro ou energia”. Essa energia “chi” ou “qi” pode ser utilizada tanto para o bem como para o mal, tanto para renovar como para destruir, tanto para a luz como para as trevas.

Qi – Sopro; vapor que se eleva… A tradução literal para o ideograma qi nos mostra seu caráter imaterial. Ele é o vapor que sobe e abre a tampa da chaleira. Existe, mas não é palpável… Circula, mas não pode ser visto… Quando existe significa vida. Quando falta significa morte.

O escritor taoísta Richard Craze acrescenta:

Uma força energética, invisível que a tudo anima, a força vital. Não podemos ver, tocar, experimentar, ouvir ou sentir chi, mas percebemos seus efeitos.

Ainda, segundo o taoísmo, o “chi” é impessoal e harmoniza todo o universo (tanto o indivíduo como o universo). O “chi” pode ser classificado em Chi Sheng (o bom “chi”) e Chi Shar (o mau “chi”).

Chi Sheng = Afirma-se que o dragão é o principal dos animais celestes e que o seu sopro cósmico é auspicioso, prometedor e “sortudo”. É energia positiva, crescente, vinda do leste.

Chi Shar = Diz-se que é o sopro matador do dragão. É energia negativa, disruptiva, vinda do oeste. Sua presença é sempre perigosa, não promissora e “azarenta”.

Educando sobre a força “Chi” em Star Wars

Na verdade, até o momento atual, não conheço nenhum livro e/ou filme infanto-juventil que tenha passado com tanta eficiência o conceito de “Deus” como uma “força energética” do que a série cinematográfica Star Wars.

Em Guerra nas Estrelas I (A Ameaça Fantasma), enquanto o mestre jedi Qui-gon Jinn, o jovem Obi-wan Kenobi e o desengonçado Jar-jar Binks faziam uma arriscada viagem pelo núcleo do planeta, ameaçados de serem engolidos por peixes enormes, presenciamos o seguinte diálogo sobre a força:

Jar-jar Binks (angustiado): “Onde iremos?”

Mestre Qui-gon Jinn (bem tranqüilo): “Não se preocupe. A força nos guiará”.

Jar-jar Binks: “Coisa forte essa tal força”.

Em Guerra nas Estrelas IV (Uma Nova Esperança), constatamos uma tremenda propaganda a favor dessa força energética, Obi-wan Kenobi é um guerreiro jedi dos filmes Star Wars e faz um papel semelhante ao de um guru para Luke Skywalker. Ele é um perfeito porta-voz dessa “força impessoal” quando define-a para o seu jovem discípulo:

A força é o que dá ao jedi o seu poder. A força é um campo de energia criada por todas as coisas vivas: cerca-nos e penetra-nos. E une a galáxia. […] Precisa aprender como age a força. […] Aprenda sobre a força, Luke.

Em Guerra nas Estrelas V (O Império Contra-Ataca), observamos outro jedi, chamado Yoda, ministrando para Luke Skywalker sobre essa força energética:

O poder do jedi flui da força, mas cuidado com o lado negro da força. […] Use a força. […] A força é minha aliada e uma poderosa aliada. A vida a cria e a faz crescer. Sua energia nos cerca e nos une. […] Precisa sentir a força à sua volta. Aqui entre você e eu, na árvore, na pedra. Em tudo.

Uma “força” energética ou o Deus pessoal?

Temos de fazer um diagnóstico diferenciado dessa “força” de Star Wars com o Deus do cristianismo. Tenciono salientar apenas duas irreconciliáveis diferenças:

A primeira: esse universo de ficção científica apresenta um conceito óbvio e constante em todos os seus episódios, o conceito do bem e do mal de acordo com as filosofias das religiões orientais. Existe uma “força” mística e impessoal que age tanto a favor dos heróis (manipulada pelo bem) como a favor dos vilões (manipulada pelo mal). É o conceito “yin-yang” de Deus e da humanidade. Deus e os humanos seriam bons e maus. Do ponto de vista do cristianismo, é inconcebível pensar que essa “força” significa Deus. De acordo com Tiago, Deus é sempre bom e perfeito e nEle “não pode existir variação ou sombra de mudança” (Tg 1.17).

A Bíblia Sagrada fala de duas forças diametralmente opostas, uma do bem e outra do mal, atuando no Cosmo. Por outro lado, tanto na série Star Wars quanto na de Harry Potter a noção é puramente taoísta: existe apenas uma força que pode ser manipulada tanto para o bem como para o mal. Portanto, o bem e o mal viriam da mesma fonte, teriam uma só origem.

A segunda diferença: o Deus-Pai do cristianismo é um Espírito que não tem corpo como os homens, mas isso não significa que seja uma “força” energética.

Para os cristãos, Deus é uma pessoa! Se assim não fosse, conseqüentemente não poderia amar, perdoar, ter misericórdia e nenhum outro sentimento. No entanto, contrastando com Guerra nas Estrelas e também com a Nova Era, a Bíblia ensina que Deus é um Deus pessoal, amoroso, justo e santo.

A maior demonstração do amor de Deus para conosco foi na cruz do Calvário: “Mas Deus prova o seu próprio amor para conosco, pelo fato de ter Cristo morrido por nós, sendo nós ainda pecadores” (Romanos 5.8).

Além disso, Deus executa ações que só uma pessoa é capaz de realizar: Deus ama (João 16.27), Deus ouve (Êxodo 2.24), Deus cria (Gênesis 1.1), Deus vê (Gênesis 1.4), Deus conhece as pessoas (2 Timóteo 2.19) e Deus castiga (Salmos 118.18).

Portanto, essa “força” é iníqua na medida que contribui para nos afastar do conhecimento do verdadeiro Deus.

Conclusão

Já está nos cinemas Guerra nas Estrelas III: A Vingança dos Sith, o último episódio da hexalogia. Ufa! Entrarei novamente num cinema dentro de um shopping center, dessa vez acompanhado dos meus dois filhos adolescentes, sentarei na poltrona entre eles, as luzes do auditório diminuirão gradativamente até se apagarem por completo. Após a exibição de alguns trailers, o telão na nossa frente iniciará mais uma atraente e espiritualmente nociva propaganda para que “a força esteja conosco” e milhares de adolescentes serão seduzidos por essa força, como um dia eu fui.

Espero que a velocidade das naves espaciais não me faça cochilar durante o filme, mas se por acaso tirar uma soneca, é minha oração que jamais venhamos a fazer parceria com essa “força”.

No mais, querido leitor, que “o Senhor te abençoe e te guarde; o Senhor faça resplandecer o rosto sobre ti e tenha misericórdia de ti; o Senhor sobre ti levante o rosto e te dê a paz” (Nm 6.24-26). Que o Senhor, e não a “força”, esteja com meus filhos, com você e com todos os adolescentes. Amém!

Notas:

Alnor, William M., UFOs in The New Age. Baker Book House. Grand Rapids, Michigan, 1993, page 123-124. Artigo: “O que é Medicina Tradicional Chinesa?” – http://www.angelfire.com/folk/bemestar/superficial/artigos/mtc.htm Craze, Richard, Feng Shui – A Arte Milenar Chinesa da Organização do Espaço. Editora Campos Ltda. Rio de Janeiro, RJ, 1998, página 17. Too, Lillian, The Complete Illustrated Guide to Feng Shui. Barnes & Noble Books. New York, 1997, page 12. Craze, Richard, Feng Shui – A Arte Milenar Chinesa da Organização do Espaço. Página 52-53. Too, Lillian, The Complete Illustrated Guide to Feng Shui. Page 12. Craze, Richard, Feng Shui – A Arte Milenar Chinesa da Organização do Espaço. Páginas 53-54. Fonte: www.chamada.com.br Publicado anteriormente na revista Chamada da Meia-Noite, março de 2005.

por Samuel Costa