Os Irmãos

I. ESCLARECIMENTO

Tenho lido alguns artigos que, ao que me parece, dão a entender que o grupo ao qual pertencemos existe desde Atos 2. Outros tentam relacionar-nos aos vários movimentos independentes que se levantaram através da história (Montanistas, Anabatistas, Priscilianos; Paulícios [Bogomilos], Valdenses [Pedro Valdo], Albigenses, Lollardos, Hussitas, Anabatistas etc.). Não há dúvida que em todas as épocas houve crentes verdadeiros que não seligaram a “Igreja Oficial”. Contudo, não há como fazer um traçado histórico nos ligando a todos estes grupos. Aliás, existe um livro muito antigo chamado Rasto de Sangue” que também traça um retrocesso histórico passando por todos estes movimentos. A única diferença é que, como foi escrito por um autor pertencente a denominação batista, ele liga a igreja batista a estes grupos. Só para que tenham uma idéia, vejam o que encontrei neste livro:

“Esta designação especial foi aplicada a muitos dos Cristãos que tinham recebido outros apelidos; especialmente isto se deu com os Donatistas, Paulicianos, Albingenses, Antigos Waldenses e outros. Nos séculos subseqüentes essa designação passou a ser aplicada a um grupo distinto. Estes eram então simplesmente chamados `Anabatistas e gradualmente, todos os outros nomes foram caindo do uso. Muito cedo no século 16, antes ainda da origem da Igreja Luterana, a primeira de todas as Igrejas Protestantes, a palavra “ana” foi entrando em desuso e eles foram simplesmente chamados “Batistas”.”

A certa altura, ele chega a dar a entender que os batista remontam ao próprio João Batista. Em outro local escreve:

“0 nome “Batista” é um apelido e lhes foi dado por seus inimigos (se é que não o fora dado legitimamente pelo próprio Salvador, quando Ele se referiu a João, como o “Batista”). Até o dia de hoje o nome batista nunca foi oficialmente adotado por qualquer grupo de batistas. 0 nome, entretanto, se fixou e foi voluntariamente aceito e orgulhosamente recebido. Ele se ajustou perfeitamente. Este foi o nome distintivo do precursor de Cristo, o primeiro a ensinar a doutrina que os batistas agora mantêm” (Rastro de Sangue).

Aquele que ficou mundialmente conhecido como Movimento dos Irmãos tem um ponto inicial que o distingue de todos estes outros movimentos. Há um momento exato na história da Igreja que se destaca por uma ousada iniciativa de voltar aos princípios bíblicos. Esta volta se deu em várias áreas dentre a quais podemos destacar: a completa rejeição do clericarismo, o sacerdócio universal dos santos, liberdade para “partir o pão” sem a presença de um sacerdote devidamente diplomado para oficiar a Ceia do Senhor, igrejas autônomas com liderança local composta por presbíteros (liderança plural) etc.

Negar este fato é tentar tapar o sol com a peneira, pois há copiosa evidência histórica que o comprova. Não somos um povo que vive num vácuo existencial e sem referencial histórico. Pelo contrário, temos um passado, temos uma história que nos situa no tempo e espaço.

Do meu ponto de vista é fundamental conhecer esta história. Pois somente assim poderemos resgatar nossa identidade. Deus levantou e usou homens para promover uma volta as Escrituras. Aqueles homens romperam com o Status Quo e se lançaram de corpo e alma à obra para a qual haviam sido chamados. Eles foram acusados de quebrar as tradições, foram acusados de rebeldia e até mesmo de hereges. A verdade é que abriram mão da glória dos homens para obedecer ao chamado do Senhor.

É inegável que alcançaram sucesso naquele nobre intento, mas alguns deles também cometeram erros. Por motivos que desconheço há pessoas tentam negar ou ignorar estes erros, mas nós falaremos deles, pois quem sabe não venhamos a repeti-los. Destes erros o mais prejudicial, sem sombra de dúvidas, é o exclusivismo. Devemos nos esforçar ao máximo para evitá-lo, pois trata-se do terrível pecado do orgulho, de se achar melhor e mais fiel que os outros.

“Harry Ironside – aparentemente citando Wigram – diz que eles “falavam dos seus grupos como o remanescente do último dia, o restante piedoso, a igreja da Filadélfia e outras expressões de auto-exaltação”. Chamados regulares eram distribuídos a cristãos para separarem-se da corrupção e apostasia de outros crentes e igrejas.

Ironside notou que “olhavam com desdenhoso desprezo para santos tão piedosos quanto eles mesmos – ou até mais piedosos ainda – que permaneciam nos vários grupos organizados [igrejas]. Eles não relutavam, em alguns casos, antes clamar pela possessão exclusiva da mesa do Senhor”” (Family Matters).

Os exclusivistas começaram se separando dos irmãos denominacionais, logo começaram a atacá-los; depois se separaram das outras igrejas locais autônomas e também começaram a atacá-las, para logo então começarem a brigar entre si e acusar uns aos outros de infiéis. Assim, no decurso dos anos eles sofreram várias e sucessivas divisões.

II. O INÍCIO

O início do movimento dos “Irmãos Unidos” deu-se, aproximadamente, em 1825 na cidade de Dublin (Irlanda). Um dos fatos marcantes que levou este movimento a surgir foi a preocupação de um grupo de homens com a condição espiritual da igreja reformada na Irlanda. No castelo da condessa Powescourt, homens das diversas denominações, então existentes, iniciaram reuniões mensais para estudos bíblicos. No início, eles encontravam-se apenas para o estudo das Sagradas Escrituras e para a oração. Até então os participantes permaneciam em suas respectivas igrejas de origem.

“Muitos ministros ocupavam cargos duplos na igreja para ganhar mais salários. Em face disso, muita gente se recusava a dar o dízimo… para as igrejas que sustentavam os ministros. Nessa ocasião, `cristãos dissidentes` (batistas, metodistas etc.) tornaram-se amargamente divididos. Eles atacavam os católicos romanos, anglicanos e dirigiam sua mais cáustica linguagem uns aos outros.

Nesta desesperada e oportuna situação apareceram os “Irmãos”. Eles significativamente alteraram não somente suas próprias igrejas, mas também causaram impacto profundo em grupos de cristãos de toda parte” (Family Matters).

Naquela época iniciou-se o desligamento do “Movimento dos Irmãos” dos demais círculos eclesiásticos e de sua autonomia. Foi Antony Norris Groves que, por assim dizer, deu o “pontapé” inicial para a criação deste importante movimento.

A. Cronin

Edward Cronin, um jovem que fora católico romano – um estudante de Medicina que teve de deslocar-se do interior da Irlanda, de Cork para Dublin, por causa de sua saúde. Primeiro, o jovem Dr. Cronin congregou-se na cidade de Dublin em várias igrejas dissidentes. Mas em sua hostilidade, umas para com as outras, cada uma o procurava para pedir especial membresia, principalmente se ele procurava ter comunhão.

Dr. Cronin cria, pela leitura da Bíblia, que todos crentes já pertenciam à Igreja, portanto eles não precisam pedir participação especial. Ele também percebia que o Espírito Santo havia dado mais de um homem por igreja para exercer o ministério. Mas as igrejas existentes o informaram de que ele não seria bem-vindo com estas idéias. O homem, de 24 anos, disse que depois disso passou muitas manhãs de domingo, sozinho debaixo de uma árvore ou sob um monte de feno. Logo, Cronin seria publicamente denunciado do púlpito.

B. Groves

Antony Norris Groves era um jovem e bem sucedido dentista de 31 anos de idade. Ele afirmava: “Ser sua compreensão, do estudo das Escrituras, que crentes, reunindo-se como discípulos de Cristo, estão livres para partir o pão juntos; e, em qualquer dia, como os apóstolos fizeram, relembrarem a morte do Senhor obedecendo ao seu mandado.”

Groves propôs que é o simples princípio de união e amor a Jesus, e não o princípio de unidade de pensamento acerca de coisas menores, a base da reunião para partir o pão. Quando lhe sugeriram que se unisse formalmente aos batistas ele afirmou: “Eu desejo andar com todos naquelas coisas em que servem a Cristo, mas eu não quero ajuntar-me com um grupo impedindo-me de reunir-me com os outros.”

Naquela época, havia na Inglaterra, Escócia e Irlanda as igrejas oficiais (Anglicana, Escocesa e Irlandesa) e as outras denominações que mão concordavam com a união da igreja com o Estado. Dentre estas estavam a Igreja Presbiteriana, a Igreja Batista, e a Igreja Congregacional ou Independente etc. Por não concordarem com a união da igreja com o Estado eram chamadas de igrejas dissidentes. Contudo, ao unir-se a uma delas, quase sempre, significava separar-se dos outros irmãos, chegando a ponto de não poderem participar juntamente da Ceia do Senhor (até hoje é assim em algumas igreja batistas e, herança dos exclusivistas, em algumas das nossas igrejas locais também). Foi contra isso que os “Irmãos” se levantaram.

Em uma visita a Dublin, em 1828, Groves disse: “Eu não tenho dúvida que está de conformidade com a vontade de Deus nos reunirmos em toda simplicidade, como os discípulos, não almejando nenhum púlpito ou cargo, mas certos de que o Senhor nos edificará juntos, como lhe aprouver, e usará um dentre nós mesmos.” Nisto baseou-se e este foi um dos fundamentos do “Movimento dos Irmãos”.

C. Müller

George Müller, nascido na Alemanha em 1805, tornou-se um cristão aos 20 anos de idade, após anos de turbulenta e rebelde adolescência. Ele tinha interesse em alcançar judeus e viajou a Londres para juntar-se à Sociedade Judaica de Missões. Lá ouviu sobre um rico dentista chamado Anthony Norris Groves que havia abandonado seu ofício para ir a Pérsia como missionário, dependendo de Deus para atender as suas necessidades.

Durante um breve descanso em 1829 no ocidente da Inglaterra, Müller encontrou e iniciou uma amizade para a vida toda com Henry Craik, que tinha sido tutor de Groves. Müller e Craik foram usados por Deus para fundar instituições, igrejas e associações que causaram impacto a centenas de milhares de pessoas ao redor do mundo.

D. Chapman

“A longa vida e a santidade simples do caráter de Robert C. Chapman,” escreveu o historiador Roy Coad, “fizeram-no notável patriarca e conselheiro dos Irmãos Abertos do século 19. É difícil estudar a vida de algum homem proeminente entre eles durante alguma parte do século, que não foi influenciado de alguma maneira por este homem excepcionalmente piedoso e humilde. Barnstaple tornou-se a `Meca` dos Irmãos.”

Nascido na Dinamarca em 1803 em uma rica família comerciante inglesa, Robert Cleaver Chapman cedo revelou uma aptidão por línguas e uma paixão pela literatura. A família Chapman tinha ligações estreitas tanto com anglicanos como com quakers. Aos 15 anos ele foi a Londres para estudar Direito e aos 20 anos o popular e honrado jovem havia começado a praticar esta profissão.

Em 1832 Thomas Pugsley convidou Chapman para visitar Barnstaple, no oeste da Inglaterra. Foi provavelmente Pugsley quem apresentou Chapman a George Müller e os dois se tornaram amigos íntimos por toda a vida.

III. PONTOS DE LUZ

Vejamos dois importantes lugares do inicio do Movimento dos Irmãos:

A. Bristol

Henry Craik, um jovem batista intensamente dedicado aos estudos lingüísticos e teológicos, e George Muller, um jovem alemão que havia se preparado par ser ministro luterano, começaram o trabalho na Capela Bethesda em 6 de junho e em 13 de agosto de 1832.

Na capela Bethesda desenvolveu-se a parte mais construtiva em pensamento e ação no testemunho e na expansão do trabalho missionário no início deste século. A vida de Müller foi um exemplo de santidade e confiança na oração. Craik foi um dos mais eruditos entre os “irmãos” dos primeiros anos do movimento.

B. Plymouth

Em Plymouth, Newton e Wigran encontraram outros interessados no estudo das profecias bíblicas. Newton convidou Darby para visitar Plymouth como seu hospede, e ele foi. As reuniões se intensificaram. Wigran, vendo a possibilidade de estabelecer um trabalho permanente adquiriu uma capela; uma pequena casa à rua King, onde eram feitas regularmente as reuniões, e onde também partiam o pão.

Mesmo depois de Newton ter se desligado da Igreja Anglicana, Darby continuou ligado a ela. As pregações do também integrante deste grupo, Percy Francis Hall, atraiam um grande número de ouvintes. Assim formou-se uma forte igreja independente, excedendo de longe as de Dublin e Bristol. Pela notoriedade desta igreja em Plymouth, foi que os “irmãos” ficaram conhecidos, nos países de língua inglesa, pelo nome de “Irmãos de Plymouth”.

Uma vez que Darby estava sempre a viajar e alguns dos mais eruditos mudaram-se de Plymouth, quem passou a liderar esta assembléia foi o irmão Benjamim Willis Newton.

IV. DESENTENDIMENTO E DIVISÕES

No período de 1833 a 1834, atitudes, fatos e várias circunstâncias foram se acumulando ao ponto de produzir divisão no “movimento dos irmãos”. Groves, o que iniciara o movimento, foi um dos primeiros a perceber a conduta e o pensamento de ficar contra as outras igrejas evangélicas por causa de coisas secundárias. Em março de 1836, antes de deixar a Inglaterra para retornar ao seu trabalho na Índia, escreveu uma carta a Darby na qual dizia:

“Vocês serão conhecidos mais pelo que são contra do que pelo que vocês concordam. Vossa união torna-se mais uma questão de doutrina e de opinião do que de vida e amor. Aqueles princípios que eu me glorio de ter descoberto na Palavra de Deus, hoje me glorio ainda dez vezes por ter experimentado sua aplicabilidade a todas as circunstâncias do presente estado da igreja, que nos permitem conviver com cada indivíduo, ou grupo de indivíduos, como Deus os vê, sem nos comprometermos com qualquer dos seus males, aprendi que o nosso princípio de união é a posse da vida comum a toda a família de Deus, “pois a vida está no seu sangue”.

Quando foi acusado de reunir-se com outros grupos, Groves respondeu: “Eu acho melhor suportar os seus erros do que separar-me do que há de bom neles”, e acrescentou: “As coisas que nos unem são mais importantes do que as que nos dividem”. Dizia também: “Não devemos nos preocupar em sermos diferentes das outras igrejas, mas em sermos semelhantes a Cristo. Eu desejo ter de cada grupo o que cada grupo tem de Cristo” (grifo meu).

“A divisão de Plymouth tinha tons doutrinários, já que B. W. Newton tinha opiniões avançadas que alguns viam como negação da impecabilidade de Cristo. Depois que Darby o confrontou sobre estas coisas, Newton retirou suas publicações que estavam em questão e desculpou-se por ter estado em erro. O assunto podia ter sido deixado por aí. Mas para muitos observadores houve alto grau de tensão entre J. N. Darby e B. W. Newton em quem seria o principal líder em Plymouth e, com certeza, sobre o movimento dos Irmãos. Darby ganhou a disputa quando Newton retirou-se dos Irmãos. Newton mais tarde tornou-se figura principal entre os Batistas Rigorosos” (Family Maters).

Darby era humilde e de personalidade cativante; paciente e afetuoso para com os fracos, pobres e de nível intelectual inferior, porém, quando alguém que era do seu mesmo nível intelectual se lhe opunha, recebia dele um tratamento cujas palavras ficavam indeléveis em sua memória.

Devido à sua imensa devoção a Cristo, zelava para que a igreja fosse pura, porém, pelo seu temperamento, seu modo de entender as coisas, fez com que suas atitudes causassem a desonra ao nome de Cristo a quem ele tanto amava. Agia como tendo uma chamada direta de Deus, como alguém que considerava estar no caminho certo; considerando inimigos de Deus todos os que dele discordavam.

Darby acusou Newton de ter reintroduzido no movimento o espírito eclesiástico. Assim, de desentendimento em desentendimento, Darby acabou rompendo com Newton e com os que o apoiavam na assembléia à rua Ebrington, em Plymouth, estabelecendo uma capela à rua Raleigh, também em Plymouth.

George Müller e Craik, de Bristol, bem como Chapman, de Barnstaple, dedicavam-se intensamente ao seu trabalho no evangelho, não se ocupando com controvérsias. Porém, haviam estabelecido presbíteros em suas igrejas, fato este que desagradava a Darby. Entretanto, em 1847, aconteceu que uns irmãos da assembléia de Newton foram a Bristol e a assembléia de Bethesda (onde reuniam George Müller e Craik) permitiu que eles participassem do partir do pão. Ao saber disto, Darby rompeu com a assembléia de Bethesda e todos ligados a ela, inclusive Cahpaman. Ficou assim concretizada a divisão no “Movimento dos Irmãos” na Grã-Bretanha, espalhando-se também para outros países. Assim sendo, surgiram dois grupos distintos, o dos “Irmãos Exclusivista” (Exclusive Brethren), composto por Darby e seus seguidores, e o dos “Irmãos Livres” ou “Tolerantes” (Open Brethren). Este era constituído dos que tomavam a mesma atitude de tolerância como Müller, Craik, Chapman e Groves. Os exclusivistas, com seu espírito intolerante, têm sofrido sucessivas divisões e cada grupo vai criando o seu próprio princípio de divisão.

V. O INÍCIO NO BRASIL

O início de nossa história no Brasil tem relação com dois servos de Deus, o Sr. Richard Holden e o Dr. Robert Reid Kalley. Por conseguinte com a Igreja Evangélica Fluminense (hoje conhecida como Igreja Congregacional). Holden, que havia sido pastor na Igreja Evangélica Fluminense, veio a ter contato com John Nelson Darby e outros expoentes do Movimento dos Irmãos, aos poucos foi assimilando os princípios do novo movimento surgido no Reino Unido por volta de 1825. Devido a pontos de vista diferentes entre ele e o Dr. Kalley, ele veio a se desligar do pastorado da Igreja Fluminense e passou a viver segundo o seu novo entendimento. Isto influenciou outros membros que se desligaram da Igreja Evangélica Fluminense e passaram a se reunir da forma como reunimos. Nesta época Holden já havia ido embora do Brasil

A primeira reunião de um grupo dos Irmãos no Brasil se deu em Junho/Julho de 1878. De início eram em número de seis e logo depois chegaram a um total de 26. Depois de alguns exageros por parte dos que se desligaram da Igreja Fluminense a paz voltou a reinar entre os dois grupos. A este respeito o Dr. João Gomes da Rocha escreveu: “Cremos que deixaram de ser exclusivistas e fazem parte da família de Cristo e das Igrejas de Deus que existem no Brasil e em Portugal e em todo o mundo” (I Ts 2:14). Este passou a ser o comportamento da maioria dos Irmãos no Brasil: tolerância, compreensão e um relacionamento fraternal com os outros grupos evangélicos. A igreja que se reúne à Rua São Carlos na cidade do Rio de Janeiro a continuidade daquele primeiro grupo que nunca deixou de existir como igreja local.

Cronologia do Movimento dos Irmãos no Brasil:

    Junho/Julho de 1878 – Primeira reunião de um grupo dos Irmãos.
    Julho de 1879 – Holden volta ao Rio para visitar a congregação dos Irmãos.
    1881 – F. S. Arnot viaja para a África.
    Janeiro de 1886 – Aos 58 anos falece, em Lisboa, Richard Holden.
    Maio de 1896 – Chegada do missionário Stuart Edmund Mc Nair.
    1898 – Chegada do missionário George Howes.
    1901 – Início do trabalho dos Irmãos na região de Carangola (MG).
    1907 – Mc Nair vai para a Inglaterra e depois vai evangelizar os estudantes em Coimbra.
    1913 – Mc Nair volta para o Brasil e vai residir em Carangola (MG).
    1914 – Inaugurada em Conceição de Carangola (MG) a primeira Casa de Oração construída especificamente para local de reunião dos irmãos.
    1923 – Em 16 de Dezembro a assembléia dos Irmãos no Rio de Janeiro reúne-se pela primeira vez à Rua São Carlos, 36 (hoje 104).
    1924 – Publicação das primeiras revistas com lições para a escola dominical.
    1927 – Impresso o Boletim Evangélico (órgão de ensino e notícias dos trabalhos dos Irmãos no Brasil).
    1933 – Fundada por Mc Nair a Casa Editora Evangélica localizada em Teresópolis (RJ). Ali foram impressos: A Bíblia Explicada, O Boletim Evangélico, O Pequeno Dicionário Bíblico, Cartas Ocasionais, Palestras com os Meninos, Catecismo Rimado, O Cristão em Casa, Aula Noturna Cristã, A vida Cristã, Consultório Espiritual, Álbum de Reminiscências, Mais Reminiscências (estes de autoria de Mc Nair), Leni e seus Filhos, Como ensinar Obediência às Crianças, O empregado Crente (folheto), Para a nossa Consolação (de Carlota Mc Nair). Em Inglês: A Christian Anthology e The Browns in Brazil.

Outros estrangeiros que vieram para o Brasil foram: Harold St John. Mais tarde os irmãos W. Anglin e W. J. Goldsmith. Entretanto não tenho o registro da data de chegada destes irmãos ao Brasil.

VI. CONCLUSÃO

O Movimento dos Irmãos foi encabeçado por pessoas jovens. Foi algo revolucionário para os frios padrões daquela época na qual os cultos eram sem vida e formais. Os líderes denominacionais os acusaram de intrometidos e de hereges.

“O procedimento dos Irmãos, permitir e encorajar vários membros da congregação a participarem publicamente, atraiu imediatamente pessoas para ver esta nova forma de culto na igreja. A corajosa abolição da distinção clero/leigo excitou pessoas em toda parte. Nessas novas assembléias os homens podiam praticar o sacerdócio dos crentes” (Family Matters).

Contudo, esta “inovação” não foi motivada pela rebeldia ou pela simples vontade de mudar as coisas. Ela foi motivada pelo profundo e sério estudo da Palavra de Deus. Eram pessoas comprometidas com Deus que experimentaram um avivamento bíblico que “contagiou” a muitos milhares de pessoas.

“Quase todos os primeiros líderes dos Irmãos tinham trinta anos de idade ou menos quando começaram praticar os princípios do Novo Testamento: Anthony Norris Groves (30), J.G. Bellett (30), J. N. Darby (26), Senhora Theodosia Powerscourt (30`s), Francis Hutchinson (27), Lord Congleton (25), B. W. Newton (25), Henry Craik (27), George Müller (27), Robert C. Chapman (29), William Stokes 20 anos.

Eles também se beneficiaram de bom treinamento em estudos bíblicos. Craik, Müller, Darby, Newton, Wigram, Tregelles, C. H. Mackintosh, Harris e muitos outros tinham perícia e alto treinamento acadêmico em Hebraico e Grego, assim como em Teologia. Eles podiam discutir pontos sensíveis da gramática e vocabulário bíblicos com os principais eruditos dos seus dias” (Family Matters).

Pra vermos como as coisas mudam, gostaria de citar meu exemplo. Cresci ouvindo que não devemos estudar línguas originais e nem freqüentar escola bíblica, pois o Espírito Santo nos ensina tudo. Ainda está fresca na minha memória uma frase que ouvi de alguém (com ares de super espiritual) quando decidi ir estudar no Palavra da Vida: “jovem, o melhor seminário é aos pés do Senhor”. Quero dizer que concordo com isto, mas ir para um seminário não significa automaticamente que não se está aos pés do Senhor, assim como não ir significa estar. Quando ouvimos isto de alguém que foi ensinado assim ainda vai, mas quando ouvimos isso de pessoas que tiveram oportunidade de estudar as línguas originais, ai é de doer! Porque ele pôde e eu não?

“Recentemente um obreiro por tempo integral disse: `Foi a inquietação com respeito à rígida estrutura e frieza de espírito que levaram os Irmãos iniciais a romperem com os movimentos existentes. É a inquietação com respeito à nossa tradicional estrutura e o nosso espírito frio que está fazendo muitos de nossos jovens desaparecerem.` Ele estava errado?”

O Historiador F. Roy Coad refere-se a quatro “liberdades dos Irmãos Abertos.” Elas merecem nossa reflexão e consideração:

  • A liberdade da Palavra de Deus em meu pensamento.
  • A liberdade do Cristo Senhor em meu viver.
  • A liberdade do Espírito Santo na minha adoração e serviço.
  • A liberdade de todo Corpo de Cristo em minha comunhão” (Family Matters).

NÃO DEIXE NINGUÉM ROUBAR ESTAS LIBERDADES!

Oxalá nossas assembléias não precisem aprender pelo jeito difícil, como aconteceu aos cristãos na Capela Bethesda de Bristol, uns dos berços do movimento dos Irmãos Abertos. Durante os ataques de Hitler à Inglaterra, na II Guerra Mundial, uma bomba foi despejada através do telhado da capela de Bethesda e explodiu, destruindo totalmente a construção, não obstante ninguém se feriu. Um ancião em Bristol que tem memórias calorosas da velha construção e que cresceu ali disse: “Esta foi uma das melhores bombas das da guerra! Com a Capela Bethesda destruída o Senhor livrou-nos de tradições que serviram bem em seu tempo. Agora nós podemos buscar de novo as Escrituras para perceber como servir ao Senhor mais efetiva e fielmente hoje”.

“Que desafio continua diante de nós: conservar os princípios e valores Abertos do início, enquanto adaptamos nossa prática às necessidades diárias das pessoas confusas e perdidas a quem Cristo nos mandou para servir.

“Que o nosso bendito Senhor nos dê a graça para aceitar o desafio!” (Family Matters)

VII. DATAS DOS PRIMEIROS IRMÃOS

1825 – John Vesey Parnell, sete outros homens e duas mulheres começaram a partir o pão em Bristol.

1826 – Edward Cronin, Edward Wilson e um outro começaram a partir o pão em Dublin; o grupo cresceu para sete, incluindo duas irmãs.
– Groves inscreveu-se no Trinity College de Dublin.
– Groves contratou Henry Craik como seu tutor.

1827 – Groves sugeriu a Bellett que eles partissem o pão (J. N. Darby juntou-se mais tarde a este grupo).

1829 – Os grupos de Cronin e Bellett fundiram-se.
– A família e amigos de Groves foram para Bagdá como missionários.
– George Müller conheceu Henry Craik; Craik batizou Müller.

1830 – O grupo de Parnell e os grupos Cronin/Bellett fundiram-se.

1831 – Começaram as reuniões em Plymouth.

1831-1835 – Os Irmãos lutaram contra o pentecostalismo de Edward Irving, depois o rejeitaram.

1832 – Craik e Müller começaram a Capela Bethesda (Bristol) R. C. Chapman começou o seu trabalho em Barnstaple.

1834 – A primeira revista dos Irmãos, O Testemunho Cristão, começou em Plymouth.
– Groves escreveu a Darby advertindo que a unidade dos Irmãos tinha sido mudada para um testemunho contra todos que diferiam deles.
– Müller e Craik fundaram a “Instituição do Conhecimento das Escrituras” que distribuiu milhões de partes das Escrituras e educou milhares de pessoas pobres.

1836 – Müller abriu a primeira casa alugada para órfãos (Nas casas de Müller milhares de crianças foram cuidadas).

1837 – A Capela Bethesda de Bristol tinha 400 membros.

1845 – A congregação de Plymouth tinha 1.200 pessoas.
– Müller começou os planos para construir seus próprios prédios orfanatos.

1845 – 1846 – Discórdias entre J. N. Darby e B. W. Newton dizimaram as reuniões de Plymouth.

1848 – Darby denunciou Bethesda (Müller e Craik) e excomungou toda assembléia (650 membros); Os Exclusivistas separaram-se dos Irmãos Abertos.

1849 – Müller abriu seu primeiro prédio próprio para orfanato na Ashley Downs de Bristol.

1853 – Groves morreu na casa de Müller.

1859 – Um reavivamento escocês e irlandês começou com dois jovens que foram inspirados pela leitura de um relatório de Müller sobre a provisão de Deus através de suas orações.

1863 – A Sala Merrion (3.000 lugares) foi construída em Dublin já que multidões vinham para ouvir J. Denham Smith pregar.
– 800 pessoas ouviram regularmente Chapman pregar em Barnstaple.

1866 – Morte de Henry Craik.
– Os escritos de Darby causam a primeira controvérsia dos Exclusivistas.

1879-1881 – Primeira maior divisão entre Exclusivistas; facções Kelly/Stoney.

1881 – Os Irmãos Abertos foram identificados como “Irmãos Cristãos” nos censos religiosos Britânicos.

1882 – Morte de J. N. Darby; temendo que seria excomungado pelos seus próprios seguidores.

1898 – Müller morreu; dez mil ou mais assistiram ao seu funeral.

1902 – Chapman morreu; toda Barnstaple lamentou sua partida.

Notas:

OBS.: A maior parte deste artigo foi compilado do livro Os “Irmãos”, de Autoria de Silas G. Filgueiras, Petrópolis, RJ; porém, há nele, alguma colaboração do resumista. OUTRAS FONTES CONSULTADAS Willian W. Conard, Family Matters.Traduzido por Gilberto Feitosa Filho. Interest Ministries, 1992. Hermelink, Jan. As Igrejas no Mundo: Um estudo das Confissões Cristãs.Editora Sinodal. São Leopoldo, 1981. Erickson, Millard J. Opções Contemporâneas na Escatologia. Traduzido por Gordon Chown. Edições Vida Nova. São Paulo, 1982. Enciclopédia Britânica. 23 vols. Editada por John V. Dodge. Willian Benton Publisher. Chicago, 1964. Enciclopédia Histórico Teológica. 3 vols. Editada por Walter A. Elwell. Traduzida por Gordon Chown. Edições Vida Nova. São Paulo, junho de 1988. Álbum de Reminiscências. 1953. Por S. E. Mc Nair.

por Jabesmar Guimarães