Se você caminhar pelas ruas de São Paulo, Brasília, Rio de Janeiro ou visitar países como a Inglaterra, Suíça, Colômbia, Venezuela, Tailândia, Coréia, Rússia, Polônia e outras regiões outrora tão distantes, você perceberá os mesmos tentáculos espaçosos da sociedade de consumo e a influência da civilização ocidental capitalista e neo-liberal. McDonalds, Nike, Windows, Wrangler, Sony, Ford, Fiat, Reebook (e agora que Burguer King foi comprado por uma empresa brasileira?) e muitas outras marcas reinam, produzindo para consumir e consumindo para se produzir ainda mais. Ao entrar num supermercado em lugares remotos da Ásia, África ou Europa, você encontrará o mesmo chocolate Nestlé que gosta, os chicletes da banca de jornal, o Nescafé e Snow Flakes matutinos e muitos outros ingredientes parecidos com seu cotidiano brasileiro.
Embora diferenciados, tudo é muito parecido na aldeia global. E o hiper-consumismo se tornou uma das características mais determinante do mundo pós-moderno!
Sabe-se, é claro, que numa cultura hiper-consumista, a produção nunca corresponde às necessidades reais. As necessidades são falsamente criadas pelas agências de marketing, outdoors, propagandas midiáticas e assim por diante. Nunca será saudável uma sociedade onde as pessoas trabalham mais para ganhar mais dinheiro, para comprar mais coisas desnecessárias que prometem mais felicidade em si mesma. Em longo prazo, esta sociedade se tornará mais vazia, mais sínica, mais ambiciosa, mais mesquinha e mais infeliz.
Enfim, a mídia especialmente mudou e continua mudando os valores da cultura brasileira. Enquanto os meios de comunicação prometem ilusoriamente felicidade àqueles que vivem no ritmo da moda e que imitam os estilos importados de vida dos ricos das novelas de televisão e Hollywood, a realidade é bem diferente: temores e dores, inseguranças, dúvidas e medos, todo tipo de medo, podem ser vistos na cara da maioria dos brasileiros.
Jacques Le Goff está correto quando afirma que, no século XXI, toma corpo um novo tipo de mentalidade, a “mentalidade do mercador”. Suas características são as seguintes:
- Utilitarismo;
- Valorização dos conhecimentos práticos e não os teóricos;
- Percepção das diversidades que deveriam ser atendidas, em oposição à idéia teológica de totalidade;
- Busca do concreto, do material e do mensurável;
- Racionalização do tempo, por meio da elaboração de um calendário profano, atrelado às necessidades do orçamento e não mais regulado pelas festas e liturgias da Igreja;
- Introdução do segredo que deve cercar o negócio, da meticulosa contabilidade que registra todas as atividades de compra e de venda, surgindo, ‘uma moral terra-a-terra, feita de pendência e senso prático, ligada à preservação do dinheiro, da propriedade , da família e da saúde (Campos: 1997, 172)
A mentalidade de mercadoria transformou igualmente a igreja. Vista como um produto religioso – uma entre muitas opções que provê bens e serviços – a igreja local luta para sobreviver num mercado cada vez mais competitivo. Ao se encontrarem inseridos neste agressivo mercado livre de espiritualidades, muitos líderes adotaram a mentalidade de marketing, adequando sua mensagem às necessidades às pessoas e aos desejos de um determinado público. Suas igrejas se identificam com todas as outras organizações especializadas da sociedade, que arduamente procuram engrossar sua fatia do mercado. O problema é que isso vai contra a própria identidade e essência da igreja.
A mentalidade hiper-consumista fermenta o crescimento das igrejas que direcionam sua propaganda a todo tipo de consumidor religioso insatisfeito e desigrejado que existe por ai: ouvintes e telespectadores católicos e protestantes, kardecistas e umbandistas, sem-religião e sem-confissão. Muitos desses religiosos pertencem àquela população flutuante que transita entre as várias expressões da espiritualidade moderna; consumidores que estão à procura de resultados imediatos. A adesão deles às suas respectivas religiões é freqüentemente nominalista, imediatista e consumista. Eles se encontram institucionalmente desligados e emocionalmente frustrados com a falta de resultados práticos de sua religião de origem. (portanto seria melhor esperar para ampliar o templo, pois amanhã ou depois eles poderão não estar mais satisfeitos com você).
Muitas igrejas tornaram-se economias religiosas, verdadeiros mercados, repletos de “crentes clientes”, produtoras dos bens religiosos que competem entre si para atrair consumidores em potencial. Muitas delas passaram a disputar a fidelidade de seus membros, desenvolvendo estratégias de propaganda e marketing para garantir sua permanência. Ouça as palavras de Eugene Peterson):
Os pastores da América se transformaram em um grupo de lojistas e as lojas de comércio que possuem são suas igrejas. Eles estão preocupados com as preocupações dos lojistas: como manter seus clientes felizes, como atrair mais clientes para longe dos competidores do outro lado da rua e como empacotar seus produtos de forma que os consumidores paguem mais dinheiro. Alguns deles são muito bons lojistas. Eles atraem uma multidão de consumidores, angariam grandes somas de dinheiro, adquirem esplendida reputação. Mesmo assim isso é apenas comércio. É verdade que sejam bons donos de lojas, mas não deixam de ser apenas lojistas. As estratégias do marketing, do “franchising”, do “fast-food” ocupam as mentes despertas destes empreendedores. Sonham acordados com aquele tipo de sucesso que atrairá a atenção dos jornalistas. (Peterson: 1987, 2)
A marketização da igreja pode parecer atraente, promissora e positiva para você. Mas lembre-se com o tempo ela poderá aprofundar sua impotência para responder profeticamente as questões e conflitos da vida bem como as questões sociais que sua igreja enfrenta no contexto urbano. É quase impossível fazer imposições aos novos membros clientes.
Para a satisfação dos desejos espirituais de uma cultura consumista, corremos o risco de vender o evangelho a custo quase zero, a chamada “graça barata” descrita por Bonhoeffer.
Notas:
Fonte: www.sepal.org.br