Extremistas hindus no oeste do Estado de Orissa seqüestraram na quarta-feira, 4 de outubro, um jovem cristão de sua casa e o torturaram e rasparam seu cabelo, para puni-lo por ter aceitado o cristianismo.
Ranjan Dangua, do vilarejo de Gokulpur, em Tihidi, no distrito de Bhadrak, do Estado de Orissa, ainda estava desaparecido até o momento desta reportagem.
O superintendente da polícia do distrito de Bhadrak, Diptesh Kumar Patnaik, disse ao Compass: “Alguns ativistas hindus supostamente rasparam o cabelo de Ranjan, que logo depois desapareceu”. Ele disse que a polícia está procurando por Ranjan, um trabalhador.
Mas o Dr. Sajan K. George, presidente nacional do Conselho Global de Cristãos da Índia, disse ao Compass que os extremistas supostamente rasparam o cabelo de Ranjan depois de seqüestrá-lo e torturá-lo.
“Os radicais invadiram a casa de Ranjan e o seqüestraram”, disse George. “Depois, eles o espancaram e rasparam seu cabelo. Eles o levaram pelo vilarejo após raspar seu cabelo”.
Ele disse que a situação no vilarejo, onde dois pelotões de policiais foram colocados de prontidão, é “muito tensa”.
George acrescentou que Ranjan, sua família e outras famílias cristãs do vilarejo enfrentaram oposição intensa dos extremistas hindus das cidades vizinhas desde que se tornaram cristãos, a alguns anos atrás.
Dois dias antes do seqüestro, o Conselho Mundial Hindu (VHP) relatou que reconverteu 129 cristãos tribais, incluindo 40 mulheres e 29 crianças, na presença dos líderes do Partido Bharatiya Janata (BJP).
A cerimônia de reconversão aconteceu na segunda feira, 2 de outubro, em Chengua Mangalpur, no distrito de Mayurbhanj, de acordo com a agência de notícias Indo-Asian
“Todos eram hindus que foram forçados a se converter ao cristianismo”, disse o secretário de estado do VHP Gouri Rath. “Agora eles retornaram à sua religião”.
Aqueles que se reconverteram moravam em sete vilarejos – Bhandara, Serengisahi, Saradiha, Baghadhapa, Prasannachandrapur e Gokulachandrapur, no distrito de Mayurbhanj, e Durgadevi, no distrito de Balasore.
Um clérigo hindu, Swamy Adwaitananda Brahmachari, celebrou os rituais com um grande número de pessoas, incluindo Bhagirathi Majhi, um membro do parlamento do partido BJP, e o legislador Pratap Sarangi assistindo à programação.
O partido nacionalista BJP faz parte de uma coalizão em Orissa.
Relatório de perseguição
Um relatório liberado na quarta feira, 4 de outubro, ressaltou o crescimento das atividades das organizações extremistas hindus em Orissa, incluindo perseguição a comunidades cristãs e muçulmanas minoritárias.
O Tribunal Comunitário do Povo Indiano (IPTC, sigla em inglês), um grupo independente de ativistas sociais, liberou um relatório de 80 páginas intitulado “Apoio às minorias em Orissa”. Ele mostra que Sangh Parivar (um grupo de organizações ligadas ao RSS, grupo extremista hindu) está ativo em 25 dos 30 distritos de Orissa com milhares de membros.
Justice K.K. Usha, ex-chefe de justiça da Suprema Corte de Kerala, que conduziu a investigação do IPTC, declarou: “Como em toda Índia, estes grupos legitimam suas ações contra as minorias, alegando que muçulmanos e cristãos ameaçam os hindus”.
Dr. Angana Chatterji, organizadora do IPTC e professora associada do Instituo de Estudo Integral da Califórnia, disse que o Sangh Parivar estabeleceu centros “em todos os níveis da vida civil, desde as aldeias até as cidades”.
Ela disse que grupos hindus operam através de 35 organizações, incluindo instituições ideológicas, de serviço e de caridade, grupos militantes e educacionais, uniões estudantis e de comércio e organizações políticas e de mulheres.
Angana Chatterji acrescentou que conversões forçadas ao hinduísmo dominante, boicotes sociais e econômicos, intimidação física, violência, acusações de incêndios e até mesmo assassinato são as armas que o Sangh Parivar usa contra as minorias religiosas.
O IPTC incentivou o Departamento de Investigação Central a investigar as atividades dos grupos extremistas hindus Bajrang Dal, VHP e RSS, de acordo com o Ato de 1967 de (Prevenção de) Atividades Ilegais.
O grupo pede a revogação do Ato de 1967 de Liberdade Religiosa de Orissa, ou lei anticonversão, “que tem sido usada para atingir e proibir conversões voluntárias nas comunidades minoritárias”.
Ele também alerta aos cidadãos a reconhecerem seu dever de responder às violações e a desafiarem a cultura de impunidade existente.
Depois de 20 meses de pesquisas, o IPTC foi comissionado em junho de 2005 a controlar a força, o alcance, e o impacto dos grupos extremistas no Estado.
De acordo com o censo de 2001, existem 897.861 cristãos em um total de 36 milhões de habitantes no Estado.