Muitos dos nomes na Bíblia que se referem ao nosso Senhor não são nada menos que suntuosos e majestosos. Filho de Deus, O Cordeiro de Deus, A Luz do Mundo, A Ressurreição e A Vida, A Brilhante Estrela da Manhã, Aquele que Havia de Vir, Alfa e Ômega.
São frases que ultrapassam as fronteiras da linguagem humana em uma tentativa de apreender o que não é apreensível, a grandeza de Deus. Por mais que elas tentem esboçar o mais próximo possível, é sempre pouco. Escutá-las é algo como escutar uma banda de Natal do Exército da Salvação na esquina tocar o Messias de Handel. Boa tentativa, mas não funciona. A mensagem é majestosa demais para o medíocre.
E assim é com a linguagem. A frase “Não há palavras para explicar…” é realmente a única que pode honestamente ser aplicada a Deus. Nenhum nome faz jus a Ele.
Mas há um nome que recorda uma qualidade do Mestre que desnorteou e compeliu aqueles que o conheciam. Revela um lado dEle que, quando reconhecido, é o suficiente para que você caia sobre seu rosto.
Não é muito pequeno nem muito grande. É um nome que se encaixa como o sapato no pé da Cinderela.
Jesus.
Nos evangelhos, é o Seu nome mais comum – usado quase seiscentas vezes. E era um nome comum. Jesus é a forma grega de Josué e Jesuá – todos nomes familiares do Antigo Testamento. Havia pelo menos cinco sumos sacerdotes conhecidos como Jesus.
Os escritos do historiador Josephus fazem referência a perto de vinte pessoas chamadas Jesus. O Novo Testamento fala de Jesus Justo, o amigo de Paulo1, e o mago de Pafos é chamado Bar-Jesus2. Alguns manuscritos mostram Jesus como o primeiro nome de Barrabás. “Qual quereis que vos solte? Jesus Barrabás, ou Jesus, chamado o Cristo?” 3.
Qual é o objetivo? Jesus poderia ter sido um “Zé”. Se Jesus viesse hoje, seu nome poderia ter sido João ou José ou Pedro. Se Ele estivesse aqui hoje, é questionável que Ele se distanciaria com um nome imponente como reverendo Divindade Angélica da Santidade III. Não. Quando Deus escolheu o nome que seu Filho levaria, escolheu um nome humano4. Ele escolheu um nome tão característico que apareceria duas ou três vezes em qualquer lista de classe dada. “O Verbo se fez carne,” João disse, em outras palavras.
Ele era palpável, acessível, alcançável. E, o que é melhor, Ele era normal. Se Ele estivesse aqui hoje, você provavelmente não O notaria enquanto Ele passeasse no shopping. Ele não viraria cabeças pelas jóias ou pelas roupas que usava.
“Somente me chame de Jesus,” você quase pode ouvi-lo dizer.
Ele era o tipo de homem que você convidaria para assistir Fla-Flu em sua casa. Ele rolaria com seus filhos no chão, cochilaria em seu sofá, e cozinharia bifes em sua grelha. Ele riria das suas piadas e contaria algumas dEle mesmo. E quando você falasse, Ele o ouviria como se Ele tivesse toda a eternidade.
E uma coisa é certa, você O convidaria novamente.
Vale notar que aqueles que O conheciam melhor lembravam dEle como Jesus. Os títulos Jesus Cristo e Senhor Jesus são vistos apenas seis vezes. Aqueles que andavam com Ele lembravam dEle não por um título ou designação, mas por um nome – Jesus.
Pense nas implicações. Quando Deus decidiu revelar-Se à humanidade, que meio Ele usou? Um livro? Não, isso foi secundário. Uma igreja? Não. Isso foi conseqüência. Um código moral? Não. Limitar a revelação de Deus a uma lista fria de faça e não faça é tão trágico quanto olhar o mapa rodoviário de Colorado e dizer que você viu as Montanhas Rochosas.
Quando Deus decidiu revelar-Se, Ele o fez (surpresa das surpresas) através de um corpo humano. A língua que chamou um morto para fora era humana. A mão que tocou o leproso tinha sujeira embaixo das unhas. Os pés sobre os quais a mulher chorou eram calejados e empoeirados. E suas lágrimas… ah, não perca as lágrimas. Elas vieram de um coração tão quebrado quanto o meu ou o seu já esteve.
“Porque não temos um sumo sacerdote que não possa compadecer-se das nossas fraquezas.” 5
Então, as pessoas vinham a Ele. E como vinham a Ele. Vinham à noite; tocavam-no enquanto Ele andava pelas ruas; seguiam-no em volta do mar; convidavam-no para ir a suas casas e colocavam seus filhos a seus pés. Por quê? Porque Ele se recusava a ser uma estátua em uma catedral ou um padre em um púlpito elevado. Em vez disso, Ele escolheu ser Jesus.
Não há alusão de uma pessoa que estivesse com medo de chegar perto dEle. Existiam aqueles que zombavam dEle. Existiam aqueles que O invejavam. Existiam aquele que O mal interpretavam. Existiam aquele que O honravam. Mas não havia uma pessoa que O considerasse tão santo, tão divino, ou tão celestial para tocar. Não havia uma pessoa que fosse relutante em se aproximar dEle por medo de ser rejeitada.
Lembre-se disso.
Lembre-se disso da próxima vez que você se encontrar surpreso com suas próprias falhas.
Ou da próxima vez que acusações ácidas cavarem buracos em sua alma.
Ou da próxima vez que você vir uma catedral fria ou ouvir uma liturgia sem vida.
Lembre-se. É o homem que cria a distância. É Jesus que constrói a ponte.
“Somente me chame de Jesus.”
1Colossenses 4:11 2Atos 13:6 3Mateus 27:17; William Barclay, Jesus As They Saw Him (Grand Rapids, Minch.: Wm. B. Eerdmans). 4Mateus 1:21 5Hebreus 4:15
Guia de estudo
Não havia uma pessoa que O considerasse tão santo, tão divino, ou tão celestial para tocar. Não havia uma pessoa que fosse relutante em se aproximar dEle por medo de ser rejeitada.
A. Por quais razões as pessoas se aproximavam de Jesus? Quais eram as reações das pessoas em relação a Ele?
B. Como Jesus tratava as pessoas marginalizadas da sociedade? As pessoas marginalizadas moralmente (João 8:1-11)? As pessoas marginalizadas socialmente (Marcos 2:13-17)? As pessoas marginalizadas espiritual e fisicamente (Mateus 8:1-4; Marcos 5:1-20)?
C. Como Jesus tratava aqueles que O rejeitavam? Judas (Mateus 26:47-50)? Pedro (Marcos 14:66-72; 16:1-7)? O jovem rico (Marcos 10:17-27)? Qual é o elemento mais surpreendente de cada caso?
D. Para quem as palavras mais duras de Jesus estavam reservadas (Mateus 23; João 2:12-16)? Por que Jesus os condenava?
E. Quão parecido a Cristo e acessível você é? a seus filhos? a Seu companheiro? às pessoas que trabalham com você? a desconhecidos que você encontra diariamente? àqueles menos afortunados que você? àqueles que estão “mais abaixo na escala social”? O que você pode fazer para ser mais acessível?
Traduzido por Cynthia Rosa de Andrade Marques
Texto original extraído com permissão do site www.maxlucado.com