Amigos, a onda “gospel” chegou para ficar. Já faz algum tempo que o mercado descobriu que o número de pessoas que se declaram “evangélicas” está crescendo muito. Chega a ser um fenômeno social, estudado por mestrandos, doutorandos e teólogos de outras religiões.
Outro dia estava numa exposição de produtores de uva em Vinhedo e fui surpreendido com a programação que me foi entregue na entrada. Shows de música e teatro evangélico todos os dias, quase o dia inteiro. Agora, até o Playcenter está pegando carona e reservando espaço nas suas atrações para a mesma coisa. O número de pessoas vestindo camisetas com dizeres evangélicos, coisa rara há alguns anos, é incrivelmente crescente. Já temos rádios, TV’s, pizzarias, bares, tudo com motivos “gospel”. Agências de viagem, então, fazem a festa. Não há muita dificuldade em se fretar jatos e jatos para conhecer os mega-templos da América do Norte, os lançamentos de CD nacionais e internacionais. E a Terra Santa, claro. Com direito até a um inexplicável batismo no rio Jordão. Conheço promotores de eventos em hotéis de luxo que são contratados apenas para atender às igrejas evangélicas. O mercado está aquecido.
O fato é que se descobriu que é só colocar o nome “Jesus” escrito em qualquer pedacinho de papel que vende adoidado. E então, isso é bom ou é ruim?
Antes de mais nada, é preciso esclarecer os rótulos. Ser “evangélico” não é mais a mesma coisa que ser “cristão”, termo, aliás, que foi criado como um deboche, uma maneira pejorativa de se cognominar os seguidores verdadeiros de Cristo. “Evangélico” vem de “Evangelho”. Literalmente, significa “relativo ao Evangelho”. Deveria referir-se àqueles que pregam, crêem e vivem o Evangelho. É bom lembrar, no entanto, do alerta do apóstolo Paulo aos irmãos gálatas: surgiriam pessoas pregando um “outro” evangelho, falsificado, modificado, adaptado aos interesses dos seus divulgadores. O Evangelho da Bíblia não tem nada a ver com isso.
O Evangelho verdadeiro é uma mensagem de arrependimento, confissão e abandono do pecado. É um apelo a um acerto de contas com Deus, pela cruz do Seu Filho Jesus. Mas é também o Evangelho da graça, porque tudo isso é feito não pelos méritos daquele que crê, senão por causa do amor de Deus pelo pecador. Não tem custo. Não exige sacrifícios, penitências, cerimônias, dízimos, mãos levantadas e celebrações de rituais místicos.
Eu sou Evangélico, com “E” maiúsculo, somente enquanto isso significar crer e seguir este Evangelho eterno. Quando a coisa parte para a vulgaridade, o comércio do nome de Jesus e da fé, deixa de ser Evangelho e passa a ser “evangelho”, entre aspas e com letras minúsculas. É imitação barata do que o catolicismo faz desde a Idade Média, quando o papa resolveu lotear o céu e começar a vender terreno, através da venda de indulgências. Vira manipulação do sagrado, uma tentativa de segurar a atenção do povo com coisas passageiras. Está cheio de gente que não tem qualquer compromisso com o Senhor aproveitando-se de um nicho que cresce a cada ano. Antigamente este nicho eram os chamados “crentes”. Mas nessa época, não eram economicamente interessantes. Agora o bolo já cresceu e tem muita gente lambendo os beiços e procurando comer o seu pedaço.
Nada contra o crescimento da igreja. Sempre fui um ardoroso defensor de que é necessário que a igreja de Deus seja cada vez maior no mundo. A igreja apostólica crescia e se multiplicava e era séria e comprometida. Acontece que quando surgiu um Simão querendo auferir lucros com o poder de Deus, foi descartado e imediatamente amaldiçoado por Pedro. Quando começaram a aparecer líderes gananciosos, os apóstolos escreveram cartas avisando à irmandade do perigo. “Farão comércio de vós”, foi o brado. E este é o alerta necessário em nossos dias. Nem todo crescimento vem de Deus. Não somente coisas boas se desenvolvem. O mal também tem seu progresso.
Alguém vai dizer que precisamos aproveitar as oportunidades. Sem dúvida. Precisa ver é para que são essas oportunidades. Se são para uma meia dúzia de espertinhos faturar em nome da fé, não são oportunidades, são armadilhas. O diabo ofereceu a Jesus todos os reinos do mundo e a glória deles. Uma chance de ouro? Depende do ponto de vista. E do ponto de vista do Senhor aquela era uma proposta que nem mereceu consideração.
Ser “evangélico” pode estar na moda, mas ninguém vai entrar no céu porque está cantando músicas da Lagoinha nem vestindo camiseta escrita “Jesus Cristo é Senhor”.
O passaporte ali é bem outro.
Pensando bem:
“É fácil andar com Jesus no peito. Difícil é ter peito para se andar com Jesus” (Anônimo, citado em alguma camiseta “gospel”)