Entenda a crise entre Israel e Líbano

O Oriente Médio mergulhou em uma nova crise. O jornalista da BBC Tarik Kafala explica os principais pontos da crise.

Como começou a mais recente crise?

O ataque do grupo xiita libanês Hezbollah em Israel – em que oito soldados israelenses foram mortos, e dois, capturados – foi encarado como uma ação surpreendente e provocativa.

Alguns dizem que o objetivo do Hezbollah era testar o primeiro-ministro israelense, Ehud Olmert, que é inexperiente em crises militares.

O líder do grupo libanês, Hassan Nassrallah, disse que os soldados foram capturados como forma de pressionar o governo de Israel a soltar milhares de prisioneiros palestinos.

A ação é uma manifestação clara de solidariedade aos militantes palestinos de Gaza que mantêm capturado um soldado israelense desde o dia 25 de junho.

Como Israel reagiu?

Israel está combatendo em duas frentes. Autoridades israelenses consideraram a invasão do Hezbollah como um “ato de guerra” e responderam com bombardeios aéreos, um ataque terrestre e um bloqueio marítimo, ameaçando lançar operações que “farão o tempo voltar 20 anos no Líbano”.

O objetivo parece ser, como em Gaza, pressionar o governo e a população do Líbano. O número de civis libaneses mortos é alto, com severos danos na infra-estrutura das cidades. Estradas, usinas de energia elétrica e o aeroporto internacional foram atingidos. Os ataques de Israel que não visam instalações do Hezbollah são, no mínimo, uma forma de punir a população.

A resposta de Israel provocou críticas internacionais, que não devem ser ouvidas pelo governo. O Hezbollah continua lançando foguetes contra Israel. Haifa, a terceira maior cidade do país, já foi atingida.

O que o governo libanês pode fazer?

Cidadãos comuns do Líbano estão entre as principais vítimas da crise. O país está lidando com uma ação militar israelense pela primeira vez desde 2000, quando Israel encerrou um período de 22 anos de ocupação no sul.

Israel deixou claro que culpa o governo libanês pela captura de soldados pelo Hezbollah. Muitos analistas acham que essa avaliação é injusta.

Apesar de o Hezbollah atuar em território libanês e possuir dois ministérios no governo, as autoridades libanesas têm pouca influência sobre o grupo radical. São tropas do Hezbollah, e não do governo, que estão no sul do país.

O grupo libanês também é muito respeitado e popular no país, devido às suas atividades políticas, serviços sociais e por seu histórico de lutas contra Israel.

No entanto, a maioria dos libaneses acredita que a captura de dois soldados israelenses é uma atitude irresponsável. Eles estão descontentes, pois o país parece estar sendo arrastado para uma guerra novamente. Mesmo assim, é pouco provável que esse sentimento se transforme em raiva contra o Hezbollah.

Há alguma saída para a crise?

Autoridades israelenses insistiram que não haverá negociações diretas com o Hezbollah ou com o grupo palestino Hamas para troca de prisioneiros. No passado, Israel negociou com o Hezbollah a liberação de centenas de prisioneiros, mas agora o governo diz que se trata de outra situação e propõe novas regras.

Tanto em Gaza como no Líbano, o exército israelense parece estar aproveitando a crise para danificar a estrutura do Hamas e do Hezbollah. Agora, todos os lados estão com discursos duros, mas é difícil imaginar como Israel vai conseguir retomar seus soldados sem um cessar-fogo seguido de negociações, que provavelmente incluirão troca de prisioneiros.

O conflito vai se espalhar?

A crise ainda não alcançou o status de conflito regional. Muito ainda depende da vontade de Israel de estender as operações militares até a Síria e o Irã, países que apóiam financeiramente o Hezbollah. Autoridades israelenses já culparam Damasco e Teerã pela crise atual. O Irã e a Síria são os Estados que mais podem influenciar o grupo libanês.

Inevitavelmente, haverá, em algum ponto, a necessidade de os Estados Unidos segurarem os impulsos de Israel e pressionarem todos os envolvidos para uma negociação de cessar-fogo.

Analistas indicaram que a “guerra contra o terrorismo” de Washington limita muito a sua influência sobre a Síria, o Líbano e o Hezbollah. A questão do desarmamento do Hezbollah, como foi exigida pelo Conselho de Segurança das Nações Unidas, está descartada por ora.