Os cristãos no Nepal estão exultantes com a decisão dramática do parlamento nacional de abolir a monarquia e se declarar um Estado laico, deixando de ser oficialmente um reino hindu. A decisão foi tomada no dia 18 de maio.
“Não temos palavras para expressar nossa alegria”, o secretário geral da Aliança Nacional de Igreja do Nepal (NCFN, sigla em inglês) disse à revista Christianity Today. O voto unânime da Assembléia Legislativa, disse ele, terá “um impacto de longo alcance na vida da igreja”. Os cristãos podem agora registrar suas congregações e construir templos.
O parlamento também fez do rei um contribuinte fiscal, aboliu seu conselho particular e o excluiu dos poderes executivos, incluindo o comando das forças armadas.
Protestos pró-democracia forçaram o rei Gyanendra a desistir do poder absoluto no dia 24 de abril. Ele restabeleceu o parlamento que ele tinha dissolvido há quatro anos e empossou um governo popular liderado por uma coalizão dos partidos da oposição.
Mais de um milhão de manifestantes foram às ruas de Katmandu, capital do país, por três semanas em abril. O rei se rendeu somente depois que dezoito manifestantes democratas foram mortos e mais de cinco mil ficaram feridos em confrontos com a polícia e com o exército.
“As coisas começaram a mudar rapidamente, mais do que qualquer um poderia sonhar”, disse Kalai Bahadur Rokaya, secretário geral do Conselho Cristão Nacional do Nepal (NCCN, sigla em inglês). O NCCN e o NCFN contam com a maioria das cinco mil e quinhentas pequenas congregações espalhadas nessa nação de maioria hindu, localizada na base do Himalaia. Os cristãos compreendem um pouco mais de 700 mil, em uma população de 25 milhões.
“Nos últimos dez anos, todas as reuniões de oração ou cultos em nossas igrejas tinham orações específicas pela nação”, disse Narayan Sharma, líder nacional do Evangelho para Ásia no Nepal.
Debaixo da constituição monarquista hindu, a “liberdade religiosa” significava justamente o oposto: “nenhuma pessoa tem o direito de converter uma pessoa de uma religião a outra”. A constituição também declarava que “toda a pessoa deverá ter a liberdade de professar e praticar sua própria religião como lhe foi entregue desde os tempos antigos, tendo o devido respeito pelas práticas tradicionais”. Isso conseqüentemente bania as conversões.
As autoridades do governo reforçam a “liberdade religiosa” sob o sistema de panchayat (conselhos de vilas), em vigor desde 1990. Os pastores e evangelistas punham em risco as próprias vidas pra pregar, com dezenas sendo presos e torturados. A nova constituição de 1990, que introduziu a democracia multi-partidária, reiterou a proibição na mudança de religião. Mas as autoridades raramente punham em prática tal medida e, desde de 1990, as igrejas passaram a crescer.
No meio de tal liberdade, os líderes são cautelosos quanto à “anarquia religiosa” que a nova liberdade religiosa pode convidar. “Evangelistas mercenários irão todos em sua concorrência para aumentar seus números”, disse Kalai. “Isso poderá levar a uma oposição”.
Entretanto, a NCCN já recorreu ao governo e aos partidos políticos para providenciar um “Ministério de Coordenação Religiosa” quando uma Constituição for elaborada para o novo Nepal.