EXTRA! EXTRA! Há vaga para papa!

Amigos, não é toda hora que se tem um novo papa. A última vez foi 26 anos atrás. Eu era então um garotinho de 10 anos de idade, foi o ano da primeira Copa do mundo de que me lembro e a maioria dos meus leitores provavelmente não tinha nascido. Estamos ficando velhos e a história vai sendo escrita.

O ritual que se segue para a eleição do novo papa é recheado de tradições, grande parte delas vazias e enfadonhas, como costumam ser as instituições de heranças medievais. No final, será apontado um dos homens mais poderosos e influentes do mundo. Forma-se o chamado “conclave”. Reúnem os cardeais, ficam confinados, votam daqui, votam dali e daqui a alguns dias sai o nome do novo pontífice. O procedimento oficial, segundo um site consultado, é o seguinte:

“Com um máximo de dois assistentes cada, os cardeais não podem levar qualquer instrumento de comunicação com o exterior. Depois de uma missa na Capela Sistina, os assistentes dos cardeais saem, ficando a Capela fechada. Os Cardeais então reunidos procedem ao voto secreto. Qualquer revelação sob as tendências ou circunstâncias eleitorais é punida com a excomunhão. Qualquer batizado do sexo masculino e maior de 30 anos de idade pode ser eleito Papa, embora sempre seja escolhido um dos Cardeais (o último Papa que não era Cardeal foi Urbano VI, em 1378).

Para eleger um Papa são necessários dois terços dos votos dos Cardeais de menos de 80 anos, (mais um se o número de cardeais não for múltiplo de três). A votação, se necessário, pode repetir-se até sete vezes por períodos de três dias.

Durante as votações, a cada cardeal é entregue um boletim, de papel branco e forma retangular, que tem escrito na parte superior Eligo in summum pontificem (Elejo como Sumo Pontífice), com espaço para escrever o nome escolhido. Exige-se caligrafia clara e em letras maiúsculas, mais impessoais. Preenchidos os boletins, os cardeais entregam-nos junto ao altar levando-os bem visíveis na mão para depositá-los numa urna. No fim de cada votação os votos são queimados. A estes é junta uma substância química que provoca uma fumaça branca (caso o novo papa tenha sido eleito) ou negra (caso não tenha).”

Segundo a tradição – uma vez que na Bíblia não se encontra sequer a figura de um chefe religioso com esses poderes e, por isso mesmo, menos ainda se encontra a maneira como ele deva ser eleito – este elemento possui algumas características que muitos gostariam ou até julgam ter. Ele, simplesmente:

  1. é infalível;
  2. não pode ser questionado;
  3. tem sempre a palavra final;
  4. é o chefe de um dos estados mais poderosos do mundo;
  5. suas determinações devem ser seguidas à risca por milhões de pessoas no mundo inteiro.

Uma baita posição. Quem precisa mais? No passado se costumava dizer em latim: “Roma locuta, causa finita”, quer dizer, quando Roma fala, o assunto está encerrado. Não há discussão. Não é democracia, nem teocracia. É “papacracia”. O que o homem fala, está falado.

Há uma questão que não pode ser negada. Embora por convicção discorde totalmente da validade do circo montado pela religião que venera papas ao longo da história, há uma certa honestidade quando o catolicismo afirma que isso tudo é mera tradição. Não é Bíblia. Erram, mas assumem claramente: “não estamos fazendo o que a Bíblia ensinou. Estamos fazendo o que nossa tradição criou e a gente achou que é tão importante quanto a Bíblia. Foi desenvolvida por nosso clero e é o que vamos seguir”.

Como entre nós sempre aparecem aqueles que se acham na condição de concorrer à vaga em questão, é uma ótima oportunidade para que a gente espalhe a notícia rapidamente: está sobrando uma vaga para o papado no século XXI. Todos aqueles que têm uma certa vocação para a coisa, uma certa diotrifite crônica que insiste em não nos abandonar, poderiam bem tentar a sorte, porque outra chance pode levar décadas e a gente teria que suportar mais um longo tempo os arroubos de papismo que cada vez são mais freqüentes no nosso meio. Quem sabe a gente fica livre de pelo menos um deles por uns tempos.
Não fique tentando descobrir a respeito de quem estou falando. Isto não é um recado direcionado. Não é privilégio, lamentavelmente, desta ou daquela localidade. É uma ferida exposta, uma chaga que mancha a história da igreja desde o tempo dos apóstolos e da qual ainda não estamos livres. Por exemplo, nas chamadas “igrejas dos irmãos” ela se manifesta sempre com a desculpa do “defender a sã doutrina”, do “manter nossos princípios”, do “apegar-se àquilo que com esforço recebemos”.

Note bem aqueles que insistem muito em ensinar tópicos como autonomia da igreja local (cada igreja responde ao Senhor e não a uma instituição), pluralidade de liderança (aqueles que vociferam contra a existência de um pastor ordenado na igreja), contra a institucionalização da igreja (como se isso fosse apenas uma questão de termos uma entidade com CGC à qual chamamos de “denominação”) ou contra as chamadas entidades pára-eclesiásticas. Aplique a esses o mesmo que Jesus falou sobre os fariseus: siga o que eles ensinam, porque a maior parte estará certa. Só não faça nada do que fazem, porque estes são candidatos a papa e seu exemplo não deve ser seguido, sob pena de nos colocarmos debaixo da mesma escravidão daqueles que servem o papa real a ser eleito em alguns dias.

São esses que, se pudessem, teriam cortado cabeças como a desse que vos fala há muito tempo. Porque acham-se não apenas os defensores da verdade (que a rigor, não precisa de defesa). Acham-se os únicos donos da verdade, quando não a própria verdade. Falam e não podem ser questionados.

Repito: espalhem a notícia. Quem sabe temos uma chance?