Desde o tempo em que seriados japoneses como Jaspion e Changeman eram exibidos pela extinta TV Manchete que a arte oriental já me chamava a atenção. Mais ou menos nessa época fui apresentado à obra-prima Lanternas Vermelhas de Zhang Yimou e, embora criança, já me apaixonei pelo cinema chinês, sem bem saber o que isso significava. Esse amor esfriou com o tempo e o cinema começou a abrir mais espaço para filmes de Swarzeabecedário e Van “Daime” e eu acabei perdendo tempo vendo muitos desses. Mas lá em algum lugar dentro de mim essa atração estava hibernando e foi finalmente despertada quando assisti ao excelente O Tigre e o Dragão, que venceu em 2000 o Oscar de melhor filme estrangeiro.
Mais alguns anos se passaram e novas produções orientais não tiveram força suficiente para chegar ao ocidente, sendo algumas inclusive brutalmente assassinadas tentando entrar ilegalmente pelo México. Mas a aflição acabou e chegam aos cinemas, inclusive os brasileiros, duas superproduções: Herói e O Clã das Adagas Voadoras, ambos do já citado Zhang Yimou que volta à ativa e já pode se orgulhar por estar na minha seleta lista dos caras mais mais na qual figuram celebridades como Clint Eastwood, Darth Vader e Jack Bauer.
Não preciso nem falar que achei O Clã… maravilhoso, né? Da primeira à última cena, o filme é pura poesia. Apesar de ser seu ponto mais forte, não faz sentido esperar um filme só de artes marciais. Elas estão bem presentes e dão um toque especial à beleza do filme, mas o longa é bem mais do que isso. Entre muitas coisas que dá pra destacar, vale mencionar a história bem amarrada e com desfechos imprevisíveis, a coreografia das lutas que enche os olhos e nos deixa de boca aberta (você chora e baba mesmo!), o belíssimo figurino que dá leveza às cenas de luta e nos permite distingüir os personagens que parecem todos iguais no princípio, e a trilha sonora de Shigeru Umebayashi que faz da música quase que um outro personagem da trama.
É de se esperar que um filme oriental esteja repleto de alusões às suas religiões, principalmente um filme que explora as artes marciais já que é sabido que todas elas têm origem no ocultismo, mas O Clã surpreendeu-me positivamente pois não consegui detectar nada nessa esfera. Pelo contrário, trata-se de uma história de amor que tem como pano de fundo as lutas marciais. Algumas cenas, digamos, mais picantes fatalmente acontecem, mas não passam de insinuações até certo ponto “assistíveis”. E no quesito “sangue jorrando”, ele está presente mas nem de longe se compara aos dois volumes de Kill Bill. O filme não é recomendável para crianças.
Se você acha que filme bom é aquele que tem ação do começo ao fim e um enredo previsível em que tudo acontece do jeito que você sempre sonhou, nem assista O Clã pois você vai achá-lo chato, lento e “mintirooooso”. Mas se você aprecia a arte do cinema e acredita que existe vida fora de Hollywood, compre já o seu ingresso!
Ah! Adagas são uma espécie de punhal forjadas de forma que, ao serem arremessadas, atuam como verdadeiros bumerangues laminados, indo e voltando, dando a impressão de voarem.