Há uma grande diferença entre ser persistente e ser teimoso. O persistente busca vários métodos para alcançar o que deseja, já o teimoso bate sempre na mesma tecla. Estou dizendo isso porque eu era uma teimosa disfarçada de persistente, e sei que não era a única.
Por vezes, para ter o que desejamos, nos enchemos de “boas intenções” (lembre-se do velho ditado) e tentamos santificar aquilo que Deus condena. Pensamentos do tipo: “Se eu ganhasse na mega sena daria o dízimo, seria uma benção!”, “Eu sei que esse rapaz não é crente, mas quando se converter será um grande testemunho!”, “Se eu fosse pro Big Brother o Brasil inteiro ouviria falar de Jesus!”, – nos fazem encher nossa desobediência de boas intenções e assim vestimos a carapuça da persistência por cima da nossa teimosia. Os resultados nesse caso são claros: até uma mula seria mais sábia e realmente foi.
A jumentinha de Balãao nos dá uma lição que nos faz baixar as orelhas e murchar na cadeira. Ela pertencia ao profeta Balãao, um homem escolhido por Deus, alguém que ouvia Deus, como eu e você. Balãao vivia fora do arraial do povo de Israel e um dia o rei Balaque mandou chamá-lo para que amaldiçoasse Israel, pois a fama daquele povo era grande e ele temia ser vencido por eles.
No início, Balãao recusou veemente – como nós também resistimos no começo – e não queria as riquezas oferecidas. Ele ainda consultou a Deus e Deus disse: “Não vá!”. Era tudo muito claro. As riquezas não o atraiam e ele sabia a vontade de Deus. Precisava de mais alguma coisa? Entretanto, Balaque não desistiu, mandou mais gente, com mais riquezas, e Balãao voltou a ouvi-los e foi novamente falar com Deus. Peraí! Por que ele consultou Deus novamente? Xerá que Deus mudaria de idéia ou será que Balãao começou a se influenciar? Seria o início de uma jornada de persistência ou teimosia?
Devemos atentar para um fato interessante: nosso inimigo nunca parará de propor situações a nós e Deus também não voltará atrás no que disse. Mas para o teimoso sempre haverá uma desculpa, uma justificativa. A de Balãao foi a de que ele só falaria o que Deus mandasse. E lá se foi Balãao na sua jumenta. Deus permitiu que fossem, como Ele permite tantas coisas na nossa vida, mas não aprovou, não aceitou. No meio do caminho, Deus manda um anjo, com uma espada desembainhada pronto para impedir o caminho. Nesse momento a jumentinha viu o anjo. Preste atenção, o profeta, o homem de Deus não viu o anjo. A jumentinha, no entanto, foi mais espiritual que ele. De uma hora para outra algo cegou sua visão.
A jumentinha se desviou do caminho, entrando no campo e Balãao furioso começou a bater na pobrezinha. Começa aí o drama da jumentinha e o papelão de Balãao. Ele a forçava a voltar para o caminho, ela via o anjo e fugia para o outro lado. O anjo se pôs no caminho de novo, ela aperta o pé de Balãao contra os arbustos e ele batendo nela até o ponto em que ela derrubou Balãao. Deve ter sido muito engraçado: Balãao gritando, furioso, caído no mato, imaginando ser “coisa do inimigo”, mas era o mover de Deus.
A teimosia cegou o profeta e ela nos cega também. Passamos a lutar, esbravejar, forçar um caminho, repreendendo o inimigo, quando na realidade é Deus quem nos impede.
Balãao quase matou a jumetinha. Começou a espancá-la ela até que ela falou (essa jumentinha é melhor que o burro do Shrek!) e perguntou por que ele a espancava, só aí ele pôde ver quem era o jumento da história.
Quanto a nós, o que podemos refletir sobre isso? Ou somos persistentes como a jumentinha que lutou a todo custo mas não foi por onde Deus decretou impedido, ou somos como Balãao, teimosos feito uma mula, empacados, sem visão espiritual, lutando contra Deus. A escolha é nossa. Eu nunca pensei que diria isso, mas quero ser como a jumentinha! Essa história não termina aqui, mas se eu fosse dar um final para este capitulo, colocaria a jumentinha montada em Balãao passeando calmamente pelo caminho.
por Érika Silva Santos