Amigos, chegou a ser ridícula a atitude da televisão em relação ao Segundinho Barrichelo. A semana inteira a imprensa (leia-se, a Rede Globo) fez o maior carnaval para o camarada. Tinha até vinheta com o nome dele. Todos davam como certa a vitória do sujeito. Bom moço, simpático, educado. Mas como isso não vale nada na hora da corrida, ele continuou sendo aquilo que sempre foi: um derrotado. Quem aceita ser sempre o segundo, está fadado ao fracasso. Venho falando isso há muito tempo (leia O terceiro lugar de Barrichello, de 15/10/2001). Não quero ser implicante com o rapaz, mas está óbvio desde o dia em que ele encostou para deixar o Schumacher passar que ele não vai sair disso. Eu concordo que nem sempre ser vencedor é o que vale. Imagine, por exemplo, se Hitler tivesse sido o vencedor na 2ª Guerra, como seria o mundo. Mas ser sempre conivente com a derrota, já é outra coisa.
Por que o histerismo da Globo de querer fazê-lo um campeão? Claro que é para cobrir o vácuo imenso que a falta de competitividade de um brasileiro na Fórmula 1 faz. Mais do que isso, esta atitude demonstra também a necessidade que as pessoas têm de uma referência, a quem exageradamente colocam na categoria de “ídolo”, alguém em quem possam espelhar-se, projetar seus próprios sonhos de chegar onde esta pessoa chegou. Imagine se ele ganha domingo, o ufanismo do Galvão Bueno.
É o mesmo caso da polêmica entre Romário e Ronaldo, que a imprensa fomentou esses dias. São dois craques, sem dúvida. Mas será que tem cabimento nessa conversa de querer dizer que um dos dois foi o melhor depois de Pelé? E Rivelino? E Zico? E Sócrates? Os atuais craques são melhores do que eles só porque fazem gols? O Ronaldinho não sabe nem cabecear uma bola, como pode ser tão fenomenal? De novo, é preciso arrumar alguém para chamar a atenção, porque a coisa no gramado anda feia. Não tem mais graça assistir um jogo de futebol. Não há mais jogo bonito. Sempre gostei de assistir às partidas, mas agora eu durmo em quase todas. Então, é preciso fabricar um novo mito.
Não é só no futebol. Há uma crise generalizada de modelos, em todas as áreas. Quando você pensa na música popular, por exemplo. Por piores que fossem, os cantores brasileiros de um tempo atrás ainda conseguiam ser alguma coisa que se prezasse, pelo menos na qualidade musical. Agora, o sujeito cria uma frase, repete 20 vezes, chama isso de música, grava um CD e em pouco tempo está na televisão. E o povo delira… Que falta absurda de opção!
As meninas todas querem ser Gisele Bunchen, outra que é boa moça, bem educada, de família, mas de tão magra, parece palito de algodão doce enfeitado. Porém, badalada como é, acaba virando o “sonho” de um monte de gente que fica até doente, deixa de comer, induz o vômito com medo de engordar, só para ser igual a ela.
Se de um lado isso tudo nos mostra um pouco do nível cultural e da facilidade com que se manipulam as massas e se formam opiniões na sociedade pós-moderna, também nos remete a uma outra questão séria. É meio patológica essa necessidade de sermos alguém. Muita gente se espelha em figuras públicas, as chamadas “celebridades”, projetando no sucesso deles seu próprio desejo de ser alguém. Parece que nunca está bom ser quem somos de fato. Há toda uma orquestração da sociedade para que estejamos sempre descontentes, desmotivados, desanimados e decepcionados com nossa própria individualidade.
A gente parece imaginar que ser o outro é sempre melhor. É diferente de olhar para bons exemplos, para pessoas que realizam grandes feitos, para vencedores de verdade. Quando podemos aprender com a trajetória alheia, precisamos aprender. Os romanos diziam que “é certo aprender até de um inimigo”. Mas esta projeção invejosa, mesquinha, da comparação pela comparação, não leva a nada. Ninguém vai ser “você” tão bem quanto você mesmo pode ser. Ninguém poderá ser pior (ou melhor, quem sabe?) do que o Barrichelo, além dele mesmo.
Somos indivíduos. Fomos criados com uma extraordinária diversidade. Viemos de uma fôrma única, não sujeita à clonagem nem à pirataria. Por isso, o melhor da vida é evitar a cópia, a falsificação. Seja você mesmo, cumpra a sua missão o melhor que puder.
Este é o melhor caminho para o sucesso verdadeiro.