Valores

Amigos, este final de semana acontece em São Paulo mais um GP Brasil de Fórmula 1. A partir de sexta-feira, treinos livres, movimentação intensa de pilotos, mecânicos e máquinas, além do exército de celebridades, esportistas, jornalistas e homens de negócios circulando pelos boxes das equipes. Não considero a Fórmula 1 um esporte. Para mim, ela é muito mais um negócio. Ali já quase não se fala mais em competição. O interesse financeiro predomina e já nem se faz questão de esconder isso. Desde que o Senna se foi, há 10 anos, o interesse do brasileiro médio por corrida de carro diminuiu muito. Mas ainda há alguns aficcionados, que gostam de velocidade e de ronco de motores, e estes não estão nem aí para os críticos.

Entre eles encontra-se um aluno meu, que hoje é também meu amigo. Ele tem um grupo de amigos que há alguns anos investe dinheiro no fim de semana da corrida. Ele me contou que o ingresso mais barato custa cerca de R$ 300,00 (US$ 100,00), mas que o ideal é comprar um de R$ 800,00 (US$ 265,00), porque fica em um local de onde se pode ver melhor a pista. Como as esposas deles não gostam de carros e corridas, eles fizeram um acordo: no domingo do GP Brasil, elas podem gastar 50% do que eles gastarem no autódromo em compras no Shopping. O gasto total, considerando comida, transporte, ingressos, estacionamento e viagem, chega perto de R$ 1.200,00 (U$ 400,00). E não é só isso. No domingo, eles precisam acordar 3 horas da manhã, pegar lugar na fila na porta do autódromo, esperar os portões abrirem às 7h, muitas vezes debaixo de chuva. Aí, entram na arquibancada e ficam esperando até 14h00 para começar a corrida. Até que conseguem sair, vão chegar em casa já de noite. Isso é que é gostar de sofrer.

A parte mais interessante da história é a que veio depois. Seu chefe ganha todo ano ingresso VIP de um fornecedor de pneus. Ele é “obrigado” (porque detesta Fórmula 1) a ir para São Paulo, ficar num hotel 5 estrelas, ser levado em ônibus refrigerado até dentro da pista, tomar café nos boxes de Interlagos, rodar entre pilotos e mecânicos, tirar fotos, almoçar na ala reservada e depois assistir a corrida do camarote. Sem pagar um tostão. E, obviamente, ao ouvir a “via crucis” que meu amigo faria e quanto iria gastar com o programa, ele achou um absurdo, um desperdício, uma bobagem. Onde já se viu gastar 400 dólares para ver uma porcaria de corrida?

Enquanto conversavam, meu amigo notou uma belíssima caneta importada sobre a mesa. Perguntou de quem tinha sido o presente. Orgulhosamente, seu chefe lhe respondeu: “Ninguém me deu. Fui eu mesmo que comprei. Paguei R$1.300,00” E então, o espanto foi do meu aluno. Como pode alguém pagar R$ 1.300,00 por uma caneta? Isso, sim, é um absurdo, um desperdício! Mas o cara é um colecionador de canetas. Para ele, vale.

Eu, que estou de fora, acho que nenhuma das duas coisas vale tudo isso. Por que? Porque meus valores são diferentes. Meus gostos são outros. Eu preferia pegar 10% desse dinheiro e ir para uma bela churrascaria comer um rodízio “daqueles”. Para mim, canetas e corrida de Fórmula 1 não representam qualquer atrativo. Posso me virar muito bem com minha Bic mesmo e quanto à corrida, no máximo assistir à largada. Não são coisas que apelam à minha vontade e, por isso, não compensam o esforço e não justificam o investimento. Agora, se você falar o que eu faria com esse dinheiro para um vegetariano, ele tem um ataque do coração.

Sábias foram as palavras de Jesus, quando disse: “onde está o teu tesouro, aí estará também o teu coração”. Nós estamos dispostos a fazer qualquer sacrifício, investir qualquer quantia, abrir mão de qualquer conforto, pagar qualquer mico e correr qualquer risco para conseguir aquilo que nós queremos de verdade. Nada é difícil demais quando realmente o desejamos. Muitos anos se tornam em poucos dias, como no caso de Jacó trabalhando por Raquel, desde que a gente queira de coração alguma coisa.

Isso funciona assim em todas as áreas de nossa vida, inclusive em nosso relacionamento com Deus. O que mais a gente ouve as pessoas dizendo é que não se envolvem com as coisas de Deus porque não têm tempo. Muita gente se mata a semana inteira no trabalho e na faculdade e quando chega o fim-de-semana não pode assumir nenhum compromisso na igreja porque está cansada. Muita gente chega atrasada aos cultos, mas se tem que pegar um avião para viajar a negócios ou a passeio, madruga e até fica sem dormir. Reclama se o pregador passa 15 minutos da hora, mas fica até 2 da manhã na internet ou na televisão. É hiper regrado na hora de contribuir, mas é liberal na hora de gastar no shopping.

Investimos mais naquilo que fala mais alto ao nosso coração. Gastamos mais tempo naquilo que nos atrai mais. Se temos a perspectiva da Eternidade bem viva em nosso coração, investiremos cada vez mais no Reino eterno, aquele que é inabalável. Se vivemos como os demais que não têm esperança, embarcamos na filosofia da gratificação imediata e investimos naquilo que é passageiro mesmo.

É tudo uma questão de valores.

Pensando bem:

A fatura do cartão de crédito, o canhoto do cheque e os boletos bancários são muito úteis para mostrar onde está o teu tesouro.