Amigos, os derivados de leite são uma coisa preciosa. Imagine um mundo sem manteiga, queijos, iogurte ou pizza de catupiry. Como poderíamos viver sem pudim de leite condensado, sorvete ou brigadeiro? Dentre todos, porém, há um que sempre me chama atenção. Lembrei-me da dita cuja anteontem no lanche da tarde. Havia um patê à base de ricota, acrescido de azeitonas, salsinha e outros condimentos. Uma delícia. Um pão de forma e uma tigela daquele preparado são suficientes para saciar minha fome de lenhador por algumas horas.
O curioso é que indo à padaria, você vai encontrar o mesmo ingrediente em tortas, bolos e guloseimas adocicadas. Vai a um restaurante, lá está ela misturada a um risoto de frutos do mar. Bem eclética essa tal ricota. Então você resolve experimentá-la pura. Um horror. Não tem gosto de nada. Parece uma pasta de dente sem sabor. Ou então parece quando você come queijo Minas com resfriado. Fica aquela massa passeando pelos cantos de sua boca, sem produzir qualquer tipo de sensação. Muito estranha.
Possivelmente é aí que mora o segredo. Ela serve para qualquer coisa porque não tem um sabor característico. Não tem “luz própria”, ou melhor, “sabor próprio”. Aceita alegremente, sem constestação, qualquer coisa que se lhe apresente. O engraçado é que ela é quem leva a fama. A gente fala em patê de ricota, não em patê de azeitona e salsa. A torta é de ricota, não se uvas passas.
Que me perdoe esta velha e tradicional senhora, mas falta à dona Ricota um tanto de personalidade. Ela é muito “Maria-vai-com-as-outras”. Quem chegar primeiro, leva. Não se impõe, nunca é influência, é sempre influenciada. É legal, bacana, popular. Todo mundo gosta dela, sabe seu nome, chama para o jantar ou para a sobremesa. Mas só se tiver alguma coisa que acompanhe. Sozinha, está perdida. Não serve para mais nada.
Tem muita gente que é assim também. Assume o sabor de onde está. Se na igreja, canta de olhos fechados e braços erguidos (nada contra, absolutamente), faz orações apostólicas, prega sermões inflamados; se na escola, conta as mesmas piadinhas, usa a mesma gíria de presidiário, freqüenta os mesmos eventos da galera; se nos negócios, usa a chamada “mentira comercial”, promete um prazo e não cumpre, trapaceia e paga propina para o comprador. E assim vai vivendo, tentando agradar a todo mundo, mas com uma profunda crise de identidade. Não sabe se é ou não é. Não decidiu ainda se quer ou não quer. Não calculou o custo do discipulado. Prefere a efêmera popularidade à glória da fidelidade. Acha que pode pregar na balada, no churrasco onde todo mundo cai pelado na piscina ou na festa onde a maioria está bêbada ou cheirando algum. Diz que pode “falar de Jesus” no meio do show de reggae, onde a maconha está rolando solta e a música atinge decibéis inimagináveis. Diz que precisa ter amigos não cristãos para poder evangelizar, mas você nunca ouviu falar de algum deles que tenha se convertido ou mesmo ouvido de Cristo através deles. São ricota pura.
O pior é que gente assim não percebe que além de não conseguir fazer diferença, estão sendo profunda e radicalmente influenciados pelo meio em que vivem. Chega um momento em que eles não se sentem bem nem dentro da igreja nem no mundo. Quando estão aqui, pensam que são de lá. Quando estão lá, a consciência lhes acusa, dizendo que são daqui. E, voltando ao tema: vivem vidas profundamente infelizes. Ainda tem um vazio interior tão grande, que é preciso dizer a alguns deles que revejam a fé que professam. Assimilam um estilo de vida tão semelhante e afetado pelos não-cristãos ao seu redor, que fica difícil de acreditar que um dia houve novo nascimento, que beberam da água da vida que sacia a sede do pecador que se arrepende.
A verdade é que é melhor ser um parmesão duro, mas de sabor marcante, do que uma ricota de primeira, que depende do sabor alheio.
Pensando bem:
“Eu não tenho personalidade forte; eu tenho personalidade” Émerson Leão, técnico de futebol