Papagaiada pós-moderna

Amigos, volto ao tema. Escrevi sobre ele no meu artigo do dia 26 de março de 2001, que levava o nome “A indústria do boato“. O assunto, infelizmente, ainda é atual. Agora existe também a Internet. Em poucos minutos, você pode disseminar uma informação falsa a milhares de pessoas, que por sua vez terão seus milhares de contatos e isso vira uma corrente que não acaba mais.

Quem não recebeu (e quantos não retransmitiram) uma foto de um suposto esqueleto de gigante, ao lado de um suposto arqueólogo, o que “comprovava a veracidade da Bíblia”? Puxa vida, pensei ao receber uma das dezenas de e-mails com a dita cuja. Como foi que eu cri na Bíblia esse tempo todo sem ter visto aquela foto? Preguei tantas vezes sobre Gênesis, onde diz que “havia gigantes da terra” e só agora que os meus olhos foram “despertados” para isso! Pior: nunca recebi outro e-mail de ninguém dizendo que aquela foto fazia parte de um concurso de montagens fotográficas. E como ficam aqueles que passaram a crer no relato bíblico só por causa da foto? Vão renegar a fé agora? Tem o e-mail do Mel Gibson, que mostra ele deformado e depois com a cara limpinha, dizendo que foi um milagre de uma santa e que por isso ele fez o filme “A Paixão de Cristo”, tem tantos outros que a gente enjoa de deletar. É porque sempre tem um amigo nosso que acha que aquilo “tem um fundamento” e entope nossa caixa postal. Olha que isso tudo se dá em plena era pós-moderna, quando todo mundo é “descolado”, “esperto”, “ligadaço”, “da hora”.

Minha avó Filomena morreu quando pouca gente falava em Internet. Uma das lembranças inesquecíveis que eu tenho dela é que ela recusava-se peremptoriamente a tomar Coca-Cola, porque “tinha caído um homem dentro do tambor da fábrica”. E a loira que aparecia nos banheiros das escolas? E o Zé do Machado, o homem que colocava crianças dentro de um saco para esquartejar? É impressionante o número e a qualidade de estórias como essas que eram e continuam sendo criadas e transmitidas pelo imaginário popular. Antigamente, pelo boca-a-boca. Hoje, de maneira virtual.

Por esta razão, ao se falar em maledicência, em fofoca, em tomar cuidado com o que a gente fala, não se pode mais deixar de alertar sobre o inestimável poder da palavra via Internet. A gente não consegue medir e nem consegue monitorar os efeitos daquilo que falamos através da rede. Alcançamos simultânea e instantaneamente pessoas que nem conhecemos. Eu fico impressionado de encontrar pessoas por onde passo em todo o Brasil mencionando frases ou artigos meus que leram na Colunet. É uma coisa que chega a ser assustadora, pelo fato de que a nossa “mídia” não é tão famosa e muito menos poderosa. Mas aquilo que a gente escreve aqui, repercute. Volta e meia recebo um boletim de uma igreja lá no nordeste ou em Santa Catarina que republicam a coluna (com a devida autorização do Cara do Site, eu espero). A grande questão é que podemos usar essa ferramenta tanto para construir como para destruir. Podemos usar para conscientizar ou para contaminar. Um e-mail mandado para uma lista de amigos pode ser a maior força como pode ser um tiro à queima-roupa.

Por isso, manos internautas, todo o cuidado é pouco. Nossa responsabilidade é muito grande quando falamos de terceiros, sejam pessoas, igrejas ou ministérios, usando essa poderosíssima arma de multiplicação de informação, o teclado do nosso computador. Pense 10 vezes antes de retransmitir ou criar um e-mail que contenha qualquer coisa sobre a qual você não esteja informado ou não tenha certeza. Leve em consideração qual o efeito daquilo que você está colocando da tela dos outros.

E, se ao analisar com essa ótica cristã, você perceber qualquer coisa, por mínima que seja, que possa destruir o que deve ser construído, desista da idéia. Por mais que depois você se arrependa e tente consertar o estrago, será impossível reverter, desmentir e repor o que você defraudou com um e-mail mentiroso ou negativo sobre alguém ou sobre alguma coisa.

É bom mesmo a gente “se ligar”.