Vai entender?

Amigos, dois assuntos estão gravados na minha mente e tem sido difícil esquecê-los. Aparentemente, um não tem nada a ver com o outro. Envolvem pessoas diferentes, áreas diferentes do poder público, situações diferentes.

O primeiro é o caso de um traficante brasileiro preso na Indonésia com 13 quilos de cocaína. O camarada é um instrutor de asa delta e alega ter entrado para o tráfico para saldar dívidas que contraiu em um hospital em Cingapura, em 1997. Quando percebeu que ia ser preso, fugiu do aeroporto, mas foi finalmente encontrado e pode ser condenado à morte e a uma multa equivalente a cerca de R$ 130.000,00. O governo brasileiro está fazendo o maior esforço para trazê-lo de volta ao Brasil e fazê-lo cumprir pena aqui. Quer dizer, estamos na iminência de gastar dinheiro público para extraditar um bandido, um traficante que acha que não fez nada de mais. Sua expressão durante o julgamento era de cinismo. Ele chega aqui, fica seis meses numa cela especial, com TV a cores, café, almoço e janta (com direito a iogurte e suco), algo com o que a imensa maioria dos trabalhadores brasileiros não pode nem sonhar. Sem contar o futebolzinho e o banho de sol nas manhãs, porque ninguém é de ferro. Celular à vontade, uma maravilha. Ok, ok. Eu sei que está na lei, que tem os Direitos Humanos, que muita gente acha a pena de morte absurda e tal. Não estou aqui defendendo a Indonésia, nem suas leis nem sua justiça. Estou discutindo se tem cabimento a gente fazer tanta questão de trazer de volta um camarada que carrega a morte na bagagem.

Enquanto isso, acontece o outro caso. É o dos professores apanhando da polícia carioca em frente o Palácio da Guanabara na última terça-feira. A cena lembrava os tempos mais cruéis da ditadura militar. Uma moça foi presa com violência desproporcional na frente das câmeras de TV e muita gente levou borrachada dos policiais. Se eles agissem com esse rigor contra os traficantes e bandidos em geral, seguramente o Rio de Janeiro continuaria lindo. Mas parece que eles não conseguem ter a mesma valentia e energia quando se trata de combater a criminalidade.

Mas essas duas situações são emblemáticas. Revelam bem quem vale e quanto se vale neste país. Aqui entre nós: não é muito estranho viver num lugar que defende traficante e açoita professores? Não tem alguma coisa errada nisso tudo? Será que esses casos não refletem os valores de uma sociedade corrompida e sem referências?

Como é que se pode ter dó de um bandido descarado como esse traficante brasileiro e achar que ele é um coitadinho? O que vai virar este país se cada pessoa que tem dívida resolver encher a mala de cocaína e sair pelo mundo?

A professora foi para a cadeia. Ao entrar no camburão, ela gritou: `por favor, alguém me siga, porque eu não confio neles!`.

Cada vez mais eu entendo menos!