Dia do trabalho

Amigos, acabamos de comemorar o dia do Trabalho. Sem dúvida, um paradoxo no mundo neoliberal e globalizado em que vivemos. Cada vez menos pessoas conseguem uma ocupação digna para sustentar a si mesmas e às suas famílias. Não parece haver muito que comemorar quando o assunto é emprego e renda, pelo menos no Brasil. De presente, ganham os trabalhadores brasileiros R$ 20,00 de aumento no salário mínimo. Dá para pegar 4 ônibus em algumas cidades grandes do país. Onde estão os 10 milhões de novos empregos da promessa de campanha, fica difícil responder. Eram 2,5 milhões por ano de governo. Agora, que só faltam 3 anos, são 3,3 milhões por ano. Talvez seja porque assim fica mais emocionante. Onde está o salário mínimo dobrado, fica difícil explicar. Porque para chegar a R$ 480,00 em 3 anos de governo, nem se aparecer uma granja de galinhas de ovos de ouro.

De novo, os tucanos têm que ficar de bico calado. Eles também prometeram e não cumpriram, também são responsáveis pelos acordos com o FMI que drenam nosso esforço produtivo e alimentam a insaciável ganância dos banqueiros nacionais e internacionais. Se tem alguém que deveria ter vergonha de criticar qualquer governo durante muitos séculos, é o PSDB e sua corja. Não sei como o FHC tem coragem de dar entrevista e palestra, depois de meter a nação de joelhos diante do mundo, como se fôssemos mendigos sem esperança. Onde fica o “gigante” pela própria natureza” do Hino Nacional?

Esses dias, li um pensamento interessante num artigo da revista Ultimato. Dizia o autor que “Deus criou o trabalho, não o emprego”. É verdade.

Antes mesmo de que o pecado entrasse no mundo, Adão e Eva eram ocupados. Primeiro, Deus lhe dá a incumbência de cultivar e guardar o jardim. Depois, coube-lhe a curiosa e criativa tarefa de dar nome a todos os animais. Imagine quanto tempo ele gastou com isso. Foi, aliás, nessa empreitada que ele se descobriu só. Não havia entre os animais alguém que lhe servisse de companheira. Quer dizer que desde o começo, Adão tinha trabalho. O próprio Deus era seu exemplo, pois Jesus Cristo afirmaria séculos depois: “Meu Pai trabalha até agora e eu trabalho também”. Engana-se quem pensa que Adão fica o dia inteiro de papo para o ar, vendo as borboletas voarem, escutando o gorjear dos pássaros e ouvindo a água cair na cascata. Ele tinha ocupações, estabelecidas por Deus mesmo. O trabalho não foi um castigo de Deus. Foi um ato de amor, que podia encher o coração do homem de realização e graça.

Então, alguém perguntaria, onde é que entra a história de “do suor de teu rosto comerás o teu pão”? Bem, esta é outra parte da história. O trabalho, a ocupação, o cultivar de uma terra em equilíbrio perfeito, sem pragas, sem tempestades, sem variações climáticas, sem chuvas, dentro de uma estufa maravilhosamente controlada é uma coisa. O esforço para plantar, colher, produzir em uma terra amaldiçoada e que começa agora a contar com ervas daninhas e competição de parasitas é outra coisa. Aí está o castigo. Não o trabalho em si, mas as condições que agora passam a se impor sobre o trabalho. Surgem a fadiga, o stress, o suor, a estafa. É apenas mais uma das conseqüências da escolha errada que nossos pais fizeram no Éden.

E não para por aí. A história do desenvolvimento econômico vai mostrar como o homem passa a se tornar opressor de si mesmo. À medida em que vai descobrindo maneiras de produzir excedente e atribuir valor à produção, as sociedades vão se organizando de maneira a agregar poder às mãos de quem tem mais. Cada vez mais passa a valer aquilo que se tem e não aquilo que se é. É o que Caio Fábio chamaria recentemente de “A Crise do Ser e do Ter”.

Chegou-se ao absurdo de considerar direito e justo o possuir pessoas como escravos, como se fossem objetos que se compra, vende e descarta. Os filhos dos escravos são apenas mais uma engrenagem na máquina produtiva. Não são gente. Não têm valor como seres humanos. Nações podem subjugar outras pela força de seus exércitos, espoliar seus bens, seja pela violência física, seja pela imposição de tributos. Você olha para o que aconteceu nas colônias pertencentes ao “Primeiro” Mundo, a roubalheira e as barbáries que Inglaterra, França, Portugal e Espanha fizeram com o que hoje é a parte mais miserável do mundo e vai descobrir qual é a fonte da riqueza que até hoje eles desfrutam. Você estuda as grandes fortunas brasileiras e vai descobrir que elas têm muito pouco a ver com o trabalho duro e a dedicação exemplar. Têm muito mais a ver com as capitanias hereditárias, com as benesses concedidas aos amigos do poder, com o toma-lá-dá-cá sempre presente na história do Brasil. E muito disso apoiado e até incentivado pela cristandade professa. Muito disso aceito no seio da igreja cristã, como se fosse a trajetória normal da vida.

O que era o tráfico de escravos, a invasão das tropas e a taxação impagável dos colonizadores nos séculos passados é hoje a opressão do emprego, do neoliberalismo, dos Mercados Comuns Europeus e Alcas, do protecionismo, das barreiras alfandegárias, dos subsídios desleais, do sistema financeiro internacional. Imagine que só no ano passado o Brasil pagou do FMI U$ 14.000.000.000,00 (14 bilhões de dólares) somente de JUROS DA DÍVIDA! Enquanto isso, o povo tenta (sobre)viver com R$ 260,00 por mês. E não pode dar mais, porque precisa ter superávit para cumprir o acordo com esses ladrões.

Quem ganha com esta situação? A quem ela interessa? Será possível que existem pessoas entre o povo de Deus que consideram isto justo? A resposta é a mesma do tempo da escravidão. Há e sempre haverá. Alguns conseguem até uma justificativa bíblica para isso. Com pouco escrúpulo e muita falta de vergonha na cara, a gente consegue fazer a Bíblia dizer qualquer coisa.

Pensando bem:

“Quem conhece a Deus não pode ouvir e se calar, Tem que ser profeta e sua bandeira levantar; Transformar o mundo é uma questão de compromisso, É muito mais e tudo isso” (João Alexandre)