Carreira sem brilho

Amigos, vontade para tripudiar não falta. Afinal, é argentino, joga futebol e se autodenomina o maior jogador de todos os tempos. Deixou a gente fora de uma Copa do Mundo. Foi um jogador excepcional, acima da média, certamente um dos 10 melhores de todos os tempos. Teve uma carreira brilhante na sua vida esportiva. Só que fora dela, a única carreira que conseguiu foi a de cocaína. E aí a gente não tem como tripudiar.

Primeiro, porque a maioria dos argentinos são finíssimos e amados (excetuam-se os jogadores de futebol, a não ser quando jogam contra o Corinthians). Claro que a gozação por causa do futebol vai existir. Mas tem que parar aí.

Segundo, porque um esportista é sempre um exemplo, uma vitrine. O espaço que a mídia lhes dá faz com que sejam formadores de opinião ou, no mínimo, modelos de comportamento para jovens e crianças. Se um Ronaldinho faz um corte ridículo, à lá Cascão, a molecada faz o mesmo. Se Roberto Carlos fica careca, parecendo aquele rato do cientista, com orelha nas costas, isso vira moda. E se um deles usa drogas, acaba copiado também.

Mas, sobretudo não se pode tripudiar porque ver um ser humano, seja quem for ou de onde for, todo arrebentado, destruído, acorrentado, violentado pela droga, jamais poderá ser motivo de chacota. Será sempre de dar pena.

A última internação de Maradona, noticiada na noite de ontem, é mais um capítulo de uma vida tristemente escravizada. O dinheiro, a fama, a quase idolatria com que o trataram, ao invés de trazer felicidade, trouxeram a desgraça. Preso ao seu próprio vício, vê o que de mais precioso ele recebeu de Deus, sua dignidade como ser humano, indo pelo ralo. Parece não haver mais remédio. Nem Cuba com sua avançada medicina consegue libertar o homem. Isso porque o problema de Dieguito não está no corpo. Está na alma.

Como ele, milhares de jovens de todas as classes, origens e raças descem a cada dia as escadarias sombrias que conduzem ao submundo sombrio, limboso e devastador das baladas e das drogas. Acreditam muitos deles que estão acabando somente com eles próprios. Acham que o corpo é deles e por isso podem fazer com ele o que quiserem. Ledo engano. Arrastam para seu mundo maligno suas famílias, seus amigos e até a sociedade. Há poucos dias assisti o desespero de uma mãe, que depois de lutar bravamente para criar sozinha o filho, recebe a rádio-patrulha na porta de casa com a notícia de que seu garoto de 17 anos acabara de matar um taxista. O motivo? Drogas. A própria mãe advogava na porta da delegacia cadeia para o filho, agora um assassino.

Quem são os principais responsáveis pela escalada sem precedentes de violência, notadamente nos grandes centros urbanos? Quem criou a figura nefasta e perversa do traficante de drogas? Quem arrumou o dinheiro para os fuzis, metralhadoras e granadas usados pelas quadrilhas que aterrorizam os morros? Quem, senão os consumidores dos papelotes de crack e cocaína, dos comprimidos de Êxtase e dos cigarros de maconha? Enquanto houver quem pague o preço, haverá quem produza e venda.

E então surgem os iluminados que querem liberar geral. “Acabando a ilegalidade, vai acabar o tráfico e a violência”. É verdade. Se esse for o objetivo, assino embaixo. O problema é que isso não vai acabar com a desgraça das famílias que têm viciados e muito menos vai diminuir a miséria da vida dos viciados. Tapa o sol com a peneira. Empurra o problema com a barriga. É como se a sociedade passasse a fingir que não sabe que existem dependentes químicos no mundo.

“Ah”, dizem outros, “porque então não se proíbem o cigarro ou as bebidas alcoólicas”? Minha resposta é simples: por mim, tudo bem. Já se provou que medidas restritivas nesta área reduzem a criminalidade, evitam acidentes de trânsito e mortes por motivos banais. Sou totalmente a favor algum tipo de “lei seca”. Mas, insisto, ainda não é a solução.

Porque a droga é para o jovem o que o trabalho é para o empresário, o que a compra é para o consumista, o que a comida é para o compulsivo, o que o bar é para o pinguço. É fuga. É uma tentativa de esquecer a realidade, de encarar a vida. É um ato de desespero para preencher o vazio existencial há muito percebido e que clama com a fúria de um vulcão para ser saciado.

Aí vinha o comunista para dizer que “a religião é o ópio do povo”. Concordo. A religião é como uma droga. Custa caro, escraviza e não satisfaz ninguém. Mas Cristo não é uma religião. Ele não é um sonho ou uma nuvem passageira. O vazio do coração do homem só poderá ser preenchido com a Água e o Pão da vida.

Agora conheço dois homens que “completaram a carreira”. O apóstolo Paulo e Maradona. O primeiro encontrou uma coroa de glória e a vida eterna. O segundo vai acabar encontrando a morte.

Pensando bem:

“Se o mundo conhecer a Ti, ele se encherá com a Tua alegria”