Somos mortais

Amigos, o domingo passado foi daqueles que entrarão para a história como uma das páginas negras inesquecíveis. A imagem é daquelas que impressiona: num jogo do campeonato português de futebol, quase no final, um jogador húngaro recebe cartão amarelo e sai sorrindo ironicamente. De repente pára. Curva-se sobre os joelhos e então desaba. Todos correm para cima dele, médicos, massagistas, os outros jogadores. Não adianta. Fehér morre após ser atendido em um hospital em Guimarães. Ao que tudo indica, infarto agudo. 24 anos. Atleta profissional de alta performance. Embora não fosse um atleta mundialmente famoso, mas jogava em um grande time da Europa, o Benfica, e estava praticamente o começo de sua carreira.

Embora milhares de pessoas morram de ataque cardíaco todos os dias, ver a cena, ao vivo, pela televisão e depois vê-la repetida à exaustão em todos os programas de esporte no dia seguinte, é algo que assusta e impressiona. Começam as especulações, a exploração das possibilidades, as análises dos médicos do esporte. O fato permanece: um jovem de pouco mais de 2 décadas de vida, fora de qualquer grupo de risco conhecido, cai morto no meio de um campo de futebol, sem aviso, sem nada. Miklos Fehér era um desses jovens a respeito de quem a gente costuma dizer que “tem a vida inteira pela frente”. Não tinha.

O sorriso de Fehér após o cartão é um resumo da história de muitos. Eu não sei como é morrer, porque nunca morri. Aliás, morrer é a última coisa que pretendo fazer na vida. E quando isso acontecer comigo, porque um dia vai acontecer, pode ficar tranqüilo que eu não vou vir aqui contar para vocês, vou estar ocupado com coisas muito importantes. Já “vi a morte com os olhos”, como diziam os antigos. Já estive em situações de risco extremo, das quais só saí porque Deus segurou a minha vida. Mas mesmo nestes momentos, a gente não se dá conta de que “agora vai”. Nós amamos a vida. Queremos viver. Ninguém recebe um cartão amarelo num jogo de futebol e pensa: “Pôxa, que chato, este foi meu último cartão amarelo da vida”. Ninguém pisa num gramado, nem que esteja encerrando a carreira, e diz pros amigos: “Cara, eu vou sair daqui direto para a morada eterna”.

Aí é que se encontra o “Y” da questão. A maior tragédia da vida não é a morte. A maior tragédia da vida é não estar pronto para a morte. Não tenho a mínima informação sobre qual era a condição espiritual deste moço. Não sei se era alguém que estava pronto para a eternidade ou não. Talvez fosse como o jovem médio de todos os tempos, que pensa ser imortal, posto que é chama, mas que é infinito enquanto dura, como o amor frívolo e fugaz de Vinícius de Moraes. Mas as coisas não funcionam assim. Estamos dia a dia recebendo avisos e vendo exemplos de que todos somos mortais. O fio que segura a vida, este sopro de Deus na nossa narina, é extremamente tênue. Pode romper-se a qualquer momento.

Não era para ser assim. Deus não criou o homem com prazo de validade. Ele o fez à Sua imagem e semelhança. Ele nos criou para sempre. “Morte” nunca fez parte do Seu vocabulário. Ele é o Autor da Vida. “Morte” foi um neologismo da humanidade decaída. Mas agora, é esta a regra do jogo: “A alma que pecar, esta morrerá”; e como “todos pecaram”, para morrer basta estar vivo.

Constato que cada dia mais o jovem quer saber menos sobre a eternidade. O importante é o hoje. É aproveitar, é curtir, é embarcar na próxima onda, seja ela o LSD (lembram, papais?), o rock, o baseado, o rabo-de-cavalo ou o piercing. Nada de pensar em conseqüências. Nada de avaliar prós e contras. O negócio é chutar pro lado que estiver virado. A eternidade não faz parte das nossas preocupações. Temos outros itens na nossa lista. Vivemos como se a morte fosse apenas uma daquelas notícias distantes que nunca acontecem perto da gente. E com isso nos desligamos completamente do fato de que a morte é a chave que gira a fechadura da eternidade.

O chato disso tudo é que este é também o pensamento de muitos jovens cristãos. Perdemos o senso da nossa imortalidade. Nem sabemos o que é isso. Somos cidadãos dos céus, mas nossas raízes estão tão profundamente afundadas na terra, que vivemos como se fôssemos ficar aqui eternamente. Não nos preocupa o assunto. Não faz o nosso coração bater mais forte. Talvez depois de um acidente com a moto ou de um susto na praia a gente se liga, mas depois as coisas vão se acomodando e tudo volta a ser o que sempre foi.

Que a morte deste rapaz, noticiada nos jornais de hoje e destacada neste módico alerta, nos desperte para uma vida que tenha perspectiva certa. A perspectiva daqueles que são filhos do Pai da Eternidade.

Pensando bem:

A maior tragédia da vida não é a morte. A maior tragédia da vida é não estar pronto para a morte.