Entrevista com o presbítero anônimo da igreja de Éfeso

Entrevistamos esta semana um presbítero, anônimo, da igreja de Éfeso. Ele não quer ser identificado. Para facilitar, vamos chamá-lo de “Mr. M”. Esta igreja foi iniciada por Apolo, depois ensinada por Paulo. Viveu dias de glória, nos quais incomodou profundamente a religião fortemente arraigada de sua cidade. Houve grande tumulto na cidade, por causa da revolta dos adoradores de Diana. Ela fez diferença. Nos dias desta entrevista, a situação era outra.

: Foi difícil conseguir um espaço na sua agenda. Muita correria?

“Mr. M”: Ah, a gente não tem tempo sobrando mesmo, não. Temos muita coisa pra fazer no ministério, não dá tempo para ficar respondendo carta com pergunta. Temos outras prioridades. Agora, por exemplo, estamos trabalhando na organização do IV Congresso Asiático de Defesa dos Princípios, Sã Doutrina e Identidade. Você sabe, a gente não pode deixar a peteca cair. Estamos muito, muito ocupados. Não paramos um minuto.

: O sr. mencionou prioridades. Qual é a maior preocupação do presbitério de Éfeso hoje em dia?

“Mr. M”: Olha, veja o que aconteceu com a igreja em Corinto. Aquilo tá uma bagunça. Todo mundo falando em língua, muita música, som alto demais. Nós não podemos deixar que isso aconteça aqui. Precisamos zelar para que os nossos princípios permaneçam. Nós começamos a usar salmos, hinos e cânticos espirituais. Mas tudo tinha rima, métrica, direitinho. Agora tem essas músicas modernas aí. O som é muito alto. Precisamos tomar providências porque senão vamos perder nossa simplicidade.

: Por que o sr. acha que a igreja de Éfeso parou de crescer? Este não é sintoma de que a igreja não vai bem?

“Mr. M”: Deus não está preocupado com números. O que importa é a qualidade, não a quantidade. Essas igrejas que estão crescendo é porque não estão pregando o evangelho puro. Números são enganosos. A gente não pode se basear neles para dizer se uma igreja é boa ou não. Depois, hoje em dia tem essa idolatria aí, o pessoal marca programação do templo de Diana bem na hora da nossa reunião, só para não deixar as pessoas freqüentarem a nossa igreja. É muito difícil com essa concorrência. Ninguém quer saber mais do evangelho puro.

: Mas no tempo de Paulo também não tinha essa oposição?

“Mr. M”: Tinha, mas era diferente.

: O que era diferente?

“Mr. M”: Era diferente.

: Mas qual era a diferença?

“Mr. M”: Diferente, rapaz, diferente. Você não sabe o que é uma coisa diferente? Era diferente.

: A que o sr. atribui o atual declínio da igreja em Éfeso?

“Mr. M”: Que declínio? A gente tem um monte de coisas boas aqui. Você é que parece que não se contenta com nada! Nós temos suportado provas aqui, temos resistido a homens maus e não desistimos facilmente. Faz muito tempo que estamos aqui. Nós não chegamos ontem. Não podemos jogar no lixo tudo o que nossos pais fizeram.

: Desculpe, acho que o sr. não entendeu minha pergunta. Eu não disse nada sobre o que os nossos pais fizeram. Estou perguntando sobre o que vocês estão fazendo. O que o sr. tem a dizer da situação atual?

“Mr. M”: Irmão, quem é que não tem problemas? Não existe igreja perfeita! Olha o que está acontecendo com Laodicéia, com Esmirna, com Tiatira. Todo mundo está enfrentando problemas. O que importa é continuar perseverante.

: Mesmo que não esteja dando certo?

“Mr. M”: Não está dando certo por que? Para mim, está ótimo. A gente tem as reuniões, estudo biblico, oração, tudo o que qualquer igreja tem.

: Então, na sua opinião, não há problemas?

“Mr. M”: Agora quem não me ouviu foi você! Eu já falei que todos nós temos problemas. Você já visitou a igreja de Sardes? Tem gente que é membro lá que pertence à sinagoga de Satanás. Você acha que isso é pouca coisa? E em Tiatira, então? Aquela Jeza que eles têm lá. Aqui pelo menos nós não temos nenhuma Jeza.

: É que a entrevista de hoje não é com Sardes, nem com Tiatira, é com Éfeso…

“Mr. M”: Pois é, mas isso mostra que tem gente pior do que nós. Tem gente muito pior do que nós. Pelo menos aqui nóis tem “dutrina” (sic).

: Como vocês reagiram à carta que Jesus mandou para vocês, onde há ameaça até de fechamento da igreja?

“Mr. M”: É… bom… (meio sem graça). Bom, eu não li a carta inteira ainda. Estamos esperando marcar uma reunião com todos os presbíteros, mas está difícil, porque todo mundo trabalha e não estamos conseguindo um horário que dê pra todo mundo estar presente. Mas me pareceu uma carta muito agressiva. Pode ser que ele não tenha tentado dizer isso.

: Pelo jeito vocês já leram a carta de Sardes, Tiatira e Laodicéia, não é?

“Mr. M”: Não, não. Você sabe como são essas coisas. As notícias correm. A gente é de certa maneira uma referência para as igrejas. A nossa igreja foi fundada por Apolo, depois Paulo esteve aqui. Aliás, no tempo de Paulo é que era bom. Mas, enfim, as pessoas acabam procurando a gente para saber a nossa opinião sobre as coisas. Não tem como evitar isso.

: Aí vocês conseguem tempo?

“Mr. M” (vermelho, irritado): Você está insinuando alguma coisa, meu jovem? A gente ficou sabendo porque nos contaram. Eu não fui atrás de nada. Me contaram. Me contaram.

: Seriam bem-vindas mudanças neste momento?

“Mr. M”: Não tem nada para mudar. Nós sempre fizemos assim. Pedir para mudar depois que a gente se acostumou com este esquema é pedir demais. Tem coisas que algumas igrejas fazem que não é do nosso costume. Ah! No tempo de Paulo… Hoje em dia ficam aí toda hora pedindo mudança, mudança. Precisamos manter as tradições.

: Mas parece que a carta que Cristo enviou a vocês exige mudanças.

“Mr. M”: Eu já lhe disse que não tivemos tempo ainda de analisar esta tal carta. Vamos ver isso com calma. É preciso dar tempo ao tempo. Tem várias maneiras de se derrubar uma árvore. Podemos cortar de uma vez e podemos ir cortando galho por galho. A gente não pode ser radical. Tem muitas famílias na igreja que vêm desde o tempo de Paulo. Não podemos assustar essas pessoas.

: O sr. parece respeitar muito o que Paulo disse. Ele não deixou avisado que havia o risco de lobos entrarem na igreja? Como vocês permitiram isso, se conheciam tanto os ensinos de Paulo?

“Mr. M”: Não era de nós que Paulo estava falando. Aqui tem gente de personalidade forte, mas lobo não! Não conheço nenhum lobo aqui. Somos todos apenas humildes servos do Senhor.

: O sr. acredita que se Paulo estivesse vivo hoje, ele ficaria contente com a situação da sua igreja?

“Mr. M”: Tenho certeza! Você acha que ele ia querer ser de outra igreja? No meio desta confusão que as igrejas vivem hoje, só nós defendemos a verdade. Paulo nunca ia querer ser membro de outro grupo.

Pensando bem:

O presbítero “entrevistado” é fictício, mas as respostas a estas perguntas foram ouvidas por Colunet ao longo da vida, em algum momento, em vários locais e situações diferentes. O resultado dessas respostas em Éfeso foi uma igreja sepultada pela história. Hoje, na região onde estava a igreja de Éfeso (a atual Turquia), tem menos cristãos que qualquer igreja de qualquer leitor que esteja lendo esta coluna.