Falamos esta semana com uma das figuras mais conhecidas do mundo chamado cristão. São Pedro é quase uma celebridade. Não há quem nunca tenha ouvido falar dele no mundo cristão. Construíram-se até mitos em torno dele. Conversamos sobre seu ministério, desde o tempo dos Evangelhos até o período que ficou conhecido como o dos “Atos dos Apóstolos”.
: Como o sr se sentiu como o primeiro Papa da História?
Pedro: (com ar de espanto) Primeiro Papa? O que é isso?
: É o dirigente máximo da igreja universal, que é chamado de infalível e vigário de Cristo na terra e solteiro?
Pedro: Puxa. Que estranho que tenham “eleito” justo a mim. Eu quando escrevi uma de minhas cartas deixei claro que eu era apenas um dentre os outros presbíteros. Agora, infalível é ótimo! Só quem conviveu comigo é que sabe. Solteiro, então, nem se fala. Lembra que Jesus curou minha sogra?
: Então o sr. nega que esteve em Roma?
Pedro: Por que? Dizem isso também?
: Não só isso, mas também que o sr é quem controla as chuvas e até tem as chaves do portão do céu…
Pedro: Não é de admirar. Talvez seja por causa daquele episódio de andar sobre as águas.
: Andar por cima da água, Pedro! De onde sr. tirou essa idéia?
Pedro: (risos) Quando você está conhecendo a Jesus, cada possibilidade é maravilhosa. Se eu não tivesse pedido aquilo naquela hora, talvez não tivesse outra oportunidade.
: Mas o sr. precisava disso para crer que Ele era o Messias?
Pedro: Claro que não. Eu não fiz isso porque duvidava que Ele era o Messias, apenas porque eu queria viver com ele uma experiência só minha. Você conhece alguém mais na história que fez isso? Se você diz que conhece a Jesus, deve ser capaz de contar uma experiência que só você teve com ele.
: Houve algum momento em que o sr. achou que não valeria a pena continuar seguindo a Jesus ou que, fazendo a pergunta de outra forma, o sr. pensou em abandonar tudo e voltar às redes?
Pedro: Infelizmente, eu cheguei até a fazer isso. Depois de tudo o que tínhamos visto e ouvido, depois dos relatos de tantos irmãos sobre o Senhor ressureto, não sei de onde eu tirei a idéia de voltar a pescar. Pior foi que a minha decisão afetou os outros. Eles voltaram comigo. Se não fosse a misericórdia do Senhor, que nos procurou naquela praia, a minha história seria muito diferente e a de muita gente também.
: Quem o influenciou a ver Jesus como o Messias?
Pedro: Principalmente meu irmão André. Ele quando falou comigo o fez com uma convicção tão firme, que eu não tinha como não ir pelo menos ver do que se tratava. Mas quando eu O conheci, daí não era mais por causa do que André me dissera. Eu mesmo passei a andar com Jesus, ouvir seus ensinos e observar seu procedimento. Não ficou nenhuma dúvida de que Ele era o Messias, o Cristo de Deus.
: Algum episódio dos dias de Jesus na terra o marcou em especial?
Pedro: Sem dúvida. Quando da Excelsa Glória ouvimos a voz “Este é o meu filho amado em quem me comprazo”. Aquele dia ficou marcado para sempre. Colou na minha retina. Se eu tivesse ficado quieto, poderíamos ter experimentado mais daquele momento, mas a idéia de construir tendas para todos veio numa hora meio imprópria…
: Qual a diferença entre o sr. e Judas, por exemplo?
Pedro: (pausa)… É que eu cri.
: Mas Judas não creu? Ele não andou com vocês até o fim?
Pedro: Andar com quem crê não significa crer. Crer em Jesus Cristo é uma experiência única. Não basta estar no meio da multidão. É preciso ter uma experiência pessoal e verdadeira com Ele.
: Mas o sr. não pecou ainda mais gravemente do que Judas? Ele traiu uma vez só, o sr. negou 3 vezes!!
Pedro: Concordo. A diferença é que eu me arrependi e tratei meu pecado com o Senhor. Judas não quis fazer isso. Preferiu tentar fugir do problema, mas isso não resolve o pecado.
: O sr. não acha que pegou pesado demais com Judas, afirmou que ele tinha comprado um campo com o preço da iniqüidade? Hoje, anos depois, o sr. mudaria a sua colocação?
Pedro: Sobre isso, não. O que eu não deveria ter feito naquele dia era ter promovido a eleição de um outro apóstolo sem consultar o Senhor primeiro. Matias era um bom sujeito, mas não era ele que Deus queria como um dos doze. Sobre o que eu falei de Judas, o próprio Senhor tinha se referido a ele como o “filho da perdição”. Então, eu não falei nada de mais.
: Como o sr. avalia sua atitude no episódio de Ananias e Safira? Não foi radical demais?
Pedro: Não. Acho que foi normal. Eu fiz o que deveria fazer naquele momento. Você pode anotar isso: igreja sem problema nunca existiu e nunca vai existir. A gente estava no começo de tudo, todo mundo naquele primeiro amor, a igreja em franco crescimento, e mesmo assim surgiam problemas. Então a questão era como encará-los. Era preciso deixar bem claro o que significa o verdadeiro cristianismo. Nós somos raça eleita, nação santa, um povo de propriedade exclusiva de Deus. Foi lamentável ter que agir assim tão duro, mas o resultado foi positivo. As pessoas de dentro e de fora passaram a respeitar ainda mais a igreja, viram que a coisa era séria, que ali não havia lugar para mentiras e hipocrisias.
: Foi muito difícil para o sr. aceitar a liderança de Paulo, um ex-perseguidor da igreja, que acabou roubando a cena depois que foi enviado como missionário?
Pedro: Nunca vi Paulo como um concorrente. Desde sua conversão, fomos feitos irmãos. Tivemos nossas diferenças, algumas se tornaram até públicas. Houve uma ocasião em que ele me deu uma bronca no meio de todo mundo. Mas ele tinha razão. Suas cartas sempre foram muito profundas. Muita gente que não conseguia entender o que ele escrevia, inspirado pelo Espírito Santo, acabavam deturpando as coisas. Ele foi perseguidor da igreja, eu neguei o Senhor. Cada um de nós tem o seu passado, mas depois que a gente deixou Jesus Cristo muda-lo, nossas vidas transformaram-se para sempre.
: Se o sr. tivesse que pregar um sermão em uma igreja hoje, que tema escolheria?
Pedro: Bem, depois de andar com Cristo por três anos e meio, assuntos não me faltariam. São muitas as virtudes daquele que nos chamou das trevas para sua maravilhosa luz.
: Mas se tivesse que pregar em um sermão sobre auto-confiança, como seria?
Pedro: Ah! Esta é fácil. Seria um sermão curto em três atos, uma para cada uma das vezes em que neguei a Jesus: 1) Não confie em si mesmo 2) Não confie em si mesmo e 3)Não confie em si mesmo.
: O sr. acha que poderia ter evitado aquele episódio da negação?
Pedro: Sem dúvida. Por exemplo, o próprio Cristo me avisou de que eu corria este perigo. Mas eu achei um absurdo. Eu estava disposto a morrer por ele. Estava mesmo. Tentei até defendê-lo no jardim, cortando a orelha do pobre Malco. Mas uma boa intenção não é tudo. Na verdade, às vezes não é nada! Depois eu fiquei no lugar errado, na hora errada e com as pessoas erradas. Não podia ter dado certo.
Pensando bem:
Uma boa intenção não é tudo. Na verdade, às vezes não é nada!