Entrevista da semana: Ana

: A sra viveu numa época de poligamia e era a segunda esposa de Elcana. Por que a sra se submeteu a este sistema de casamento?

Ana: Bem, acho que isso não foi o que Deus queria desde o começo para um casamento. Mas na minha época não havia opção possível para uma mulher, especialmente no meu caso que era estéril e não podia suscitar uma descendência ao meu marido.

: A sra nunca se sentiu “a outra”?

Ana: Não. Ele não me traía. Ter mais de uma esposa era uma situação normal, aceita pela sociedade.

: Por que a sra acha que a dna Penina pegava tanto no seu pé?

Ana: Eu entendo o porquê de ela agir assim. Elcana nunca escondeu de ninguém que ele realmente me amava. Ele procurava me tratar bem, me dava coisas, era muito carinhoso comigo e ela sentia ciúmes disso. A gente subia para adorar e na hora do sacrifício ele sempre me dava o dobro do que dava para ela comer. Então, ela aproveitava para descontar no fato de eu ter esse problema. Você sabe, naquele tempo não ter filho era considerado uma maldição de Deus. Era muito difícil conviver com a esterilidade. Fazia com que as pessoas te considerassem inferior às outras mulheres. Mas o Senhor pesa todos os feitos na balança. Quando Ele me deu Samuel, ele tirou de uma vez só os dois grandes dramas da minha vida.

: Diz-se que um dia a sra estava no templo orando e Eli a chamou de bêbada. É verdade isso? Como a sra se sentiu?

Ana: Ah! Pobre Eli! (suspiro) Ele parecia mesmo entender mais de bebida do que de oração. Eu fiquei muito triste, é claro. Mas esta era uma marca do meu tempo. A gente não podia contar muito com nossos líderes para nos ajudar quando tínhamos algum problema. Em alguns momentos, eles precisavam mais da nossa ajuda do que o contrário. Mas não guardo mágoa, não. Depois de tudo, ficamos até amigos. Afinal, foi ele quem criou o meu filho. Toda vez que a gente subia para a adoração anual ele me abençoava, me queria bem.

: Depois de esperar e orar tanto tempo, a sra deu seu único filho para Deus. Qual a vantagem desta contabilidade?

Ana: Acho que na verdade você deveria dizer que Deus foi quem me deu um filho. Eu apenas o devolvi a quem era de fato. Nossos filhos não são propriedade nossa, eles são herança do Senhor. Além disso, ser mãe de um dos maiores profetas da nossa história não é pouca coisa. E depois, eu tive mais 5 filhos. Deus fez muito mais por mim do que eu poderia fazer por Ele.

: A sra tinha alguma idéia de quem seria o seu filho?

Ana: A gente nunca tem idéia do que Deus é capaz de fazer quando a gente coloca o que tem nas mãos dEle. Samuel foi a minha experiência de vida com Deus. Não houve lição mais preciosa na minha vida do que esta.

: O que a sra sentiu no dia em que levou o menino para deixá-lo com Eli?

Ana: É difícil dizer. Era um sentimento misto. Por um lado, a dor inevitável da separação, mas por outro a alegria pelo privilégio de carregar nos braços a resposta do Senhor para o momento mais amargurado da minha vida.

: A sra não ficou preocupada em deixar seu filho num lugar estranho e ainda na companhia de pessoas que tinham como apelido “filhos de Belial”?

Ana: Se eu disser que não fiquei preocupada e que não pensava nisso cada dia, estaria mentido. Mas naquele momento eu já tinha vivido com Deus o suficiente para aprender que o Senhor cuidaria dele melhor do que eu poderia fazer. Acabei aprendendo que a gente não pode criar os nossos filhos como se eles nunca fossem enfrentar a vida real.

Pensando bem:

Nota da redação: Como naquele tempo não tinha “Home School”, Ana não pôde criar seu filho Samuel numa redoma de vidro. Ele acabou virando o menino por meio de quem Deus falava.