Histórias para a vida: Ingratidão, a pior das ofensas

    Atentai noutra parábola. Havia um homem, dono de casa, que plantou uma vinha. Cercou -a de uma sebe, construiu nela um lagar, edificou-lhe uma torre e arrendou-a a uns lavradores. Depois, se ausentou do país. Ao tempo da colheita, enviou os seus servos aos lavradores, para receber os frutos que lhe tocavam. E os lavradores, agarrando os servos, espancaram a um, mataram a outro e a outro apedrejaram. Enviou ainda outros servos em maior número; e trataram-nos da mesma sorte. E, por último, enviou-lhes o seu próprio filho, dizendo: A meu filho respeitarão. Mas os lavradores, vendo o filho, disseram entre si: Este é o herdeiro; ora, vamos, matemo-lo e apoderemo-nos da sua herança. E, agarrando-o, lançaram-no fora da vinha e o mataram. Quando, pois, vier o senhor da vinha, que fará àqueles lavradores? Responderam-lhe: Fará perecer horrivelmente a estes malvados e arrendará a vinha a outros lavradores que lhe remetam os frutos nos seus devidos tempos.

A pior das fraquezas é a ingratidão. Como é difícil lidar com gente assim. Você faz “das tripas coração” para agradar uma pessoa e no fim das contas, não ouve sequer um “muito obrigado”. Pior ainda é quando a pessoa que foi objeto de sua ação se volta contra você, com acusações que não pode provar, movidas nem se sabe porquê. É muito dolorido quando isso acontece.

Se você já sentiu o gosto amargo da ingratidão, pode saber um pouco de como Deus se sente quando isto acontece em relação a Si mesmo. Deus está cansado de receber isso de suas criatura e até do seu povo. Quanto ele faz por aqueles que ama, sem receber sequer o reconhecimento de um coração agradecido!

A ingratidão é irmã gêmea da idolatria, porque ela recebe as bênçãos de Deus e além de não reconhecer que vieram de Deus, prefere dar a glória a outrem.

Foi o caso explícito do povo de Israel, denunciado por Jesus nesta parábola. Deus criou este povo literalmente do nada. Fez sair uma grande nação a partir de um homem de 100 anos de idade. Para ficar bem evidenciado que não havia interferência ou mérito humano nisso tudo, ainda esse homem era casado com uma mulher estéril. Eles têm um filho, finalmente. Um só. Deste, nascem dois. E então nasce uma nação. Este povo cresce, se multiplica, vai para o Egito para um tempo de providência divina diante da fome, acaba ficando por lá e se torna escravo. Deus, com mão forte liberta-os das garras da maior potência, carrega-o em suas asas, dá pão, carne, água, direção, proteção, destino e uma aliança única. Tinham tudo para dar certo. Eram como aquelas pessoas para as quais a gente olha e pensa: “Mas por que Deus dá tanto a uns e nada a outros?” A Bíblia passa mais da metade do tempo falando deste povo. O Salvador do mundo, segundo a carne, descende deste povo.

No entanto, qual é a tônica de todo o Velho Testamento, mesmo desde a saída de Israel do Egito? Um povo que volta e meia está de namorico com deuses pagãos. Um dia, mal tinham acabado de dar baixa na carteira como escravos de Faraó, resolvem gastar o fundo de garantia criando o seu “deus”, um reluzente bezerro de ouro e dizer que foi aquilo que os tirara do Egito (lembre-se de que nem sempre uma idéia “brilhante” dá certo…). Leia Juízes e você vai descobrir um ciclo terrível de ingratidão, rebeldia e abandono de Deus. Leia os profetas e você vai ficar boquiaberto com as terríveis promessas de juízo que Deus faz ao seu povo, todas rigorosamente cumpridas com cativeiro e destruição. Qual o motivo? A ingratidão.

Jesus conta esta parábola para deixar claro que a rejeição do povo de Israel ao governo de Deus era tão evidente que nem a ele mesmo, o Filho de Deus, eles respeitaram. Muito ao contrário, trataram-no ainda com maior vileza. Jesus Cristo foi morto como um criminoso comum, fora da porta, exposto à vergonha de uma crucificação. O que tentaram fazer foi deixar bem explícita a sua rejeição, de maneira que a própria lembrança ou menção do nome de Jesus fosse associada ao escárnio e à vileza. Chegaram até a pedir que o sangue de Jesus caísse sobre a cabeça deles e de seus filhos, no que foram inclusive atendidos, porque no ano 70 Jerusalém foi arrasada pelos romanos e não se não sobrou pedra sobre pedra, não deve ter sobrado muito sangue que não fosse derramado.

A morte de Jesus foi uma demonstração clara de que Israel tinha perdido sua chance. A vinha seria arrendada a outros. Surgiria depois da cruz um novo povo do qual Deus iria esperar a gratidão e o reconhecimento. Inicialmente composto 100% de judeus, 120 homens e mulheres que não compactuaram com aquela atitude, mas que reconheceram a Jesus como o Messias e entregaram suas vidas a ele, mas depois alcançando gente de “toda tribo, língua, povo e nação”, a Igreja de Jesus seria o grande receptáculo da graça de um Deus rico em misericórdia e tardio em irar-se.

A Bíblia ensina que a cruz do Senhor derrubou a parede de separação, destruiu a inimizade, tornou possível a formação de um povo sem preconceitos de raça, cultura ou nacionalidade. Um povo que não precisa de passaporte, que não vive para defender interesses particulares ou mesquinhos, mas que vive para “remeter os frutos a Deus no devido tempo”. Que vive para corresponder ao desejo que Deus sempre teve de ser adorado, reverenciado, venerado, reconhecido e louvado. Foi para isto que Deus criou o ser humano, e agora, em Cristo e através de sua morte, esta possibilidade nunca esteve tão escancarada ao homem.

Somos um povo que nasceu para agradecer. Existimos para declarar ao mundo, dia a dia, que existe um Deus que merece toda a devoção, porque dele provém todas as coisas boas que experimentamos. Ele é a fonte de toda boa dádiva de todo dom perfeito.

A murmuração e a lamúria não fazem parte do nosso ministério nem do nosso chamado. Foi por causa dessas coisas que a geração de Moisés inteirinha pereceu no deserto. Fala-se muito hoje em dia no surgimento de uma “geração de adoradores”. Que esta geração se lembre de que um adorador é, antes de tudo, um ser de coração grato, que sabe discernir de onde vem as coisas boas que acontecem em sua vida.

Pensando bem:

Somos um povo que nasceu para agradecer.