Histórias para a vida: Talento para quê?

    Jesus continuou: O Reino do Céu será como um homem que ia fazer uma viagem. Ele chamou os seus empregados e os pôs para tomarem conta da sua propriedade. E lhes deu dinheiro de acordo com a capacidade de cada um: ao primeiro deu quinhentas moedas de ouro; ao segundo deu duzentas; e ao terceiro deu cem. Então foi viajar. O empregado que tinha recebido quinhentas moedas saiu logo, fez negócios com o dinheiro e conseguiu outras quinhentas. Do mesmo modo, o que havia recebido duzentas moedas conseguiu outras duzentas. Mas o que tinha recebido cem moedas saiu, fez um buraco na terra e escondeu o dinheiro do patrão. Depois de muito tempo, o patrão voltou e fez um acerto de contas com eles. O empregado que havia recebido quinhentas moedas chegou e entregou mais quinhentas, dizendo: “O senhor me deu quinhentas moedas. Veja! Aqui estão mais quinhentas que consegui ganhar.” “Muito bem, empregado bom e fiel”, disse o patrão. “Você foi fiel negociando com pouco dinheiro, e por isso vou pôr você para negociar com muito. Venha festejar comigo!” Então o empregado que havia recebido duzentas moedas chegou e disse: “O senhor me deu duzentas moedas. Veja! Aqui estão mais duzentas que consegui ganhar.” “Muito bem, empregado bom e fiel”, disse o patrão. “Você foi fiel negociando com pouco dinheiro, e por isso vou pôr você para negociar com muito. Venha festejar comigo!” Aí o empregado que havia recebido cem moedas chegou e disse: “Eu sei que o senhor é um homem duro, que colhe onde não plantou e junta onde não semeou. Fiquei com medo e por isso escondi o seu dinheiro na terra. Veja! Aqui está o seu dinheiro.” “Empregado mau e preguiçoso!”, disse o patrão. “Você sabia que colho onde não plantei e junto onde não semeei. Por isso você devia ter depositado o meu dinheiro no banco, e, quando eu voltasse, o receberia com juros.” Depois virou-se para os outros empregados e disse: “Tirem dele o dinheiro e dêem ao que tem mil moedas. Porque aquele que tem muito receberá mais e assim terá mais ainda; mas quem não tem, até o pouco que tem será tirado dele. E joguem fora, na escuridão, o empregado inútil. Ali ele vai chorar e ranger os dentes de desespero.”

Seu cunhado foi fazer mestrado em Londres e deixou com você seu carro recém retirado na concessionária. Impecável, sem nenhum risquinho, tapetes novos, rádio e CD funcionando. Você foi passear no shopping, para economizar estacionamento deixou do lado de fora e crash! O moleque quebrou o vidro e levou o rádio. Original de fábrica. Pior, aquele CD do Take 6, único, exclusivérrimo, estava dentro.

Seu amigo vai passar um ano no exterior (Fato real, com nomes mudados para preservar a [minha] identidade). Você fica no apartamento dele. Primeira semana, sua filha está aprendendo a escrever e revela sua nova capacidade com belíssimos hieróglifos na estante de jacarandá, madeira de lei, tratada, rara e, principalmente, cara. Você torce como nunca para seu amigo arranjar emprego e ficar por lá mais dez anos.

Mas nada se compara a cuidar do dinheiro dos outros. Que tremenda responsabilidade! É este o sentido da palavra “mordomia”. Administrar o que é dos outros. Cuidar do que não lhe pertence. É o serviço do despenseiro. E o que se espera dos despenseiros “é que cada um deles seja encontrado fiel.” É assim que o Mestre descreve nossa vida. Somos responsáveis por cada dádiva que Deus nos dá. Tudo o que somos e temos são, na verdade, coisas que Deus nos confiou para que tomemos conta. Um dia ele vai nos pedir contas de cada uma delas.

Pense no nosso corpo. Uma intrincada máquina biológica, não totalmente desvendada pela ciência. Nosso cérebro, por exemplo, é tão pouco conhecido que ainda merece investimentos de milhões de dólares em pesquisas a cada ano. Tanto potencial e às vezes tão pouco usado… Nossa visão, nossos sensores, nosso raciocínio. Para que Deus nos preparou um recurso tão extraordinário, que nem anjos e principados tem? Segundo o Paulo apóstolo, para glorificarmos a Deus (I Co 6:20). Por isso, quando o usamos para mera exibição de curvas e músculos, estamos reduzindo infinitamente seu propósito e fazendo dele um uso extremamente inconveniente. Ou quando o usamos como um parque de diversões, para a satisfação dos prazeres que ele pode proporcionar, estamos “escondendo dinheiro na terra”. Isso vai nos custar caro.

E o nosso tempo? Quando somos jovens, achamos que ele é inteiramente à nossa disposição e que nunca vai nos faltar. Podemos esbanjá-lo, abusar dele à vontade. Raramente o encaramos com a seriedade que precisamos. Usamos grande parte dos nossos dias de juventude frivolamente. Disse o poeta que “o futuro é uma astronave que tentamos pilotar”. Acreditamos nisso. Achamos que podemos conduzir nosso destino e que no momento em que quisermos, podemos recuperar o tempo perdido. Esquecemos de que se há uma coisa que jamais pode ser recuperada é exatamente o tempo. Dinheiro, fama, prestígio, emprego, posição social, bens materiais, isso tudo você pode recuperar. Mas o tempo não. Por isso Moisés disse que um coração sábio é aquele que aprendeu a contar os seus dias. E o sábio Salomão disse que é melhor aproveitar o tempo que somos jovens para nos dedicar a Deus, porque chegarão dias ruins, dos quais a gente vai querer se livrar e quando não teremos mais força para fazer o que gostaríamos. Já dizia o filósofo Smilingüido, “quem não tem tempo para Deus, vive perdendo tempo”.

Se você é um cristão, deve saber também que Deus lhe deu dons espirituais, quer dizer, capacidades especiais para fazer algum trabalho no seu Reino. É triste perceber como grande parte dos cristãos nem se preocupa com um assunto de tanta importância como este. Muitos que conheço sequer se dedicaram a descobrir qual é o dom que receberam. Acham que isso é coisa para quem for fazer seminário ou para quem está pensando em ser missionário. Não sabem que é algo que Deus lhes deu para ser usado e menos ainda sabem que Deus pedirá contas do uso que fizeram disso. Passam seu tempo nas igrejas sem qualquer envolvimento ou compromisso, enquanto seus dons vão enferrujando até ficarem inativos. Administram mal o que Deus lhes confiou.

Também recebemos de Deus muitos bens. Dinheiro, carro, casa, equipamentos de toda sorte. É aquilo a que estranhamente chamamos de “nossa vida material”. É como se o cristão fosse uma espécie de loja de departamentos. Cama, mesa e banho no térreo. Som e imagem no primeiro andar. Móveis no segundo e assim por diante. De onde tiramos este conceito de vida material e vida espiritual como duas coisas separadas e incongruentes, é difícil dizer. Posso afirmar que não foi da Bíblia. Tudo o que somos pertence a Deus e precisa ser encarado como parte da nossa vida cristã. Deus está tão interessado na maneira como você gasta seu dinheiro como na maneira como você o cultua no domingo de manhã. Até porque uma coisa será o reflexo da outra. Você só saberá como usar seus bens materiais se aprender primeiro como adorá-lo adequadamente. Quem não pensa assim, acabará com as prioridades de sua vida completamente invertidas e terá muito pouca utilidade para Deus.

Nos dias de hoje, já se pode adicionar a esta lista a nossa formação acadêmica. Muitos de nossos pais não tiveram a oportunidade de chegar onde chegamos em termos de estudos. Há pouco tempo, pregando em um congresso de jovens, fiz a pergunta: “Quantos aqui tem 3º Grau completo, são universitários ou estão preparando-se para ser?” Quase 80% da congregação levantou a mão. Estou certo de que Deus não depende do conhecimento humano para realizar seus propósitos no mundo, mas fico pensando nas inúmeras oportunidades que se abrem na vida da igreja brasileira, no momento em que grande parte de seus jovens membros estão se tornando médicos, dentistas, advogados, pedagogos, assistentes sociais, engenheiros, enfermeiros, fisioterapeutas, músicos e tantas outras atividades. Se este extraordinário exército de profissionais compreender que Deus não lhes permitiu esta bênção apenas para encherem seus bolsos de dinheiro (como o Mar Morto, que recebe água mas não a compartilha com ninguém), mas para que sejam canais de bênção para outros, não dá para imaginar o que pode acontecer no nosso país nestes últimos dias. Não é à toa que Deus tem dado este privilégio à nossa geração.

Que uso fazemos daquilo que Deus nos confiou? Que importância damos a esta questão? Estamos pelo menos colocando no banco? Sugiro que isto se refira a fazer o mínimo para dar suporte ao trabalho daqueles que estão servindo com dedicação. Mas como Deus não nos chamou para dar o mínimo, é bom nem pensar que isso serve. O que vale mesmo é fazer o melhor de nós, dar o máximo, tentar de todas as maneiras à nossa disposição e com a capacidade com que Deus nos dotou para produzirmos muito, mas muito mesmo, para rendermos os bons resultados que Deus espera de nós.

Pensando bem:

Fidelidade e competência é tudo o que se espera de um administrador.