Histórias para a vida: Reações

    E de muitas coisas lhes falou por parábolas e dizia: Eis que o semeador saiu a semear. E, ao semear, uma parte caiu à beira do caminho, e, vindo as aves, a comeram. Outra parte caiu em solo rochoso, onde a terra era pouca, e logo nasceu, visto não ser profunda a terra. Saindo, porém, o sol, a queimou; e, porque não tinha raiz, secou-se. Outra caiu entre os espinhos, e os espinhos cresceram e a sufocaram. Outra, enfim, caiu em boa terra e deu fruto: a cem, a sessenta e a trinta por um. Quem tem ouvidos para ouvir, ouça.

    Atendei vós, pois, à parábola do semeador. A todos os que ouvem a palavra do reino e não a compreendem, vem o maligno e arrebata o que lhes foi semeado no coração. Este é o que foi semeado à beira do caminho. O que foi semeado em solo rochoso, esse é o que ouve a palavra e a recebe logo, com alegria; mas não tem raiz em si mesmo, sendo, antes, de pouca duração; em lhe chegando a angústia ou a perseguição por causa da palavra, logo se escandaliza. O que foi semeado entre os espinhos é o que ouve a palavra, porém os cuidados do mundo e a fascinação das riquezas sufocam a palavra, e fica infrutífera. Mas o que foi semeado em boa terra é o que ouve a palavra e a compreende; este frutifica e produz a cem, a sessenta e a trinta por um.

Como as pessoas são diferentes! A mesma coisa falada para um grupo de 10 pessoas pode gerar 10 respostas completamente distintas. De acordo com nossa formação e experiências de vida, reagimos às informações que recebemos. Todos aqueles que lidam com ensino-aprendizagem sabem disso. O bom professor é aquele que aprende a conviver e tirar proveito dessas diferenças. Foi-se o tempo em que de todos se esperava a mesma coisa.

É assim também na área espiritual da vida. A mesma semente é lançada, mas os resultados nem sempre são os mesmos. Depende do solo. Jesus explica que há reações diversas à sua Palavra. Cada coração responde de uma maneira. Quando o semeador vai a campo, ele já sabe disso. Não depende dele, e quase nenhuma influência ele pode ter no resultado. O semeador faz a sua parte, a semente também.

Este fim de semana tem milhares de crentes cruzando o país para os acampamentos de Carnaval. Centenas de mensagens desafiadoras, momentos de reflexão, de avaliar a vida, devocionais, um ambiente extremamente favorável para a fertilização do solo do coração. Esta parábola nos adverte que nem todos os milhares de jovens que freqüentarão estes eventos voltarão de lá do mesmo jeito. Cada um terá uma atitude, uma postura, em relação a tudo o que vai ouvir e experimentar.

Alguns voltarão exatamente como chegaram. Entre esses estão os que têm todas as motivações do mundo para conviver com os cristãos, mas não espere que eles se lembrem de que a Palavra de Deus será semeada nos corações. Eles participam dos cultos, dos estudos, dos grupos de interesse, (especialmente se a direção do acampamento ou da igreja exige a presença de todos, como lei). Mas é como se fosse uma “missa de corpo presente”. Só estão ali por fora. Por dentro, estão tão longe quanto se possa imaginar. É a parte que cai à beira do caminho.

Outros serão aparentemente impactados. São aqueles que, em meio a profusas lágrimas, contarão seu testemunho no último dia do acampamento. Comoverão a muitos com suas histórias dramáticas, promessas de amor eterno e votos de consagração que lembrarão os de um nazireu. Mas tudo isso não vai durar mais do que alguns dias, talvez algumas semanas, quem sabe até alguns meses. Em alguns casos, isso dura até o próximo acampamento ou congresso ou conferência. Em outros, dura até encontrar um desses pregadores que gosta de fazer apelo forçado no fim das suas mensagens (aliás, feitos um para o outro: apela que eu gosto x eu gosto que do apelo). Conheci um sujeito em um desses acampamentos há alguns anos. Seu testemunho foi tão arrebatador que a equipe de conselheiros teve dificuldades para colocar a turma para dormir, tamanha a choradeira que tomou conta da galera. Teve até conselheiro que embarcou no que ficou conhecido como “o lamento de Ramá”. Seguindo a clássica fórmula desse tipo de solo, foi a história do “eu nem queria vir aqui, mas de última hora resolvi vir e Deus falou tanto comigo (chiuf, chiuf, chiuf), eu preciso mudar de vida (chiuf, chiuf, chiuf), eu tenho sido um péssimo crente, um testemunho horrível (uau, bocas abertas, surpresa, o cara era líder na mocidade e ninguém sabia de nada!!), mas isso vai acabar hoje! Eita butina! Foi aleluia, glória a Deus, abraços e beijos efusivos. Só que essa figura já contou o mesmo “tristemunho” em uma porção de eventos depois desse. É a parte que cai entre as rochas, uma raiz de pouca duração.

Existem ainda aqueles que depois de alguns dias de acampamento ainda permanecem. Dão a impressão nítida de que querem mesmo obedecer o que aprenderam. Talvez até sejam mesmo sinceros. Mas são daqueles que acham que a vida cristã é um eterno céu de brigadeiro. Eles acreditam que as novelas expressam a vida real, que o ACM é um bom sujeito e que o Papai Noel existe. Saem do acampamento ou da conferência achando que aquele ambiente gostoso e espiritual vai continuar para sempre. Como os discípulos no monte da transfiguração, querem logo ficar morando por ali mesmo. Quando eles descem ao vale e se deparam com a dura realidade, ficam sem ação. Aqui embaixo tem prova na faculdade, contas para pagar, aluguel vencido ou a roda viva dos que começaram a subir na vida. E aí, os frutos não aparecem. É a parte que cai entre os espinhos.

Mas, felizmente, nem tudo está perdido. A Palavra de Deus nunca volta vazia, mas como a chuva realiza seus benefícios antes de evaporar e retomar seu ciclo, assim a Bíblia realiza suas transformações de vida e de corações. Sim, existem aqueles para os quais as lições vão fazer muita diferença. Existem casos de mudanças verdadeiras. Existem votos sinceros ao final dos acampamentos e das mensagens que são pregadas pelos cantos todos deste mundão. Há gente interessada em dar fruto, em pagar o preço de ser servo do Senhor dos senhores, em dizer a que veio, qual seu propósito na vida, que não é outro senão o de glorificar a Deus em cada atitude e momento. Alguns produzirão mais, outros menos. O importante é produzir. Deus aumenta a sementeira dos que produzem pelo menos um pouco. Agora, lembre-se da parábola da figueira. Se não dá fruto, está tomando espaço de outro. Se hoje é 30 por 1, amanhã pode ser 60 e depois 100. Se hoje for 10 por 1, peça a Deus que lhe dê forças para melhorar, mas não desista. Ser solo bom é melhor do que ser sangue-bom. Ser solo bom é responder “sim” àquilo que Deus diz.

Que tipo de solo é você? Qual tem sido sua atitude em relação à Palavra de Deus? Nestes dias, para que acampamento você vai? Será que dá para chegar lá já pensando nisso?

Aos meus amigos e companheiros preletores, diretores, conselheiros, equipantes e assemelhados, esta palavra de Jesus. Não se decepcione se nem todos derem os frutos que vocês esperam. Não forcem a barra, não “espremam” os frutos. Apenas lancem a semente. Não cabe a nós produzir resultados.

Que voltemos todos nós contando e experimentando o gostoso fruto da boa terra, para a glória de Deus!

Pensando bem:

“A Bíblia não nos foi dada para fins de INFORMAÇÃO, mas para fins de FORMAÇÃO”. Charles Spurgeon