- Porque o Filho do Homem veio salvar quem está perdido. O que é que vocês acham que faz um homem que tem cem ovelhas, e uma delas se perde? Será que não deixa as noventa e nove pastando no monte e vai procurar a ovelha perdida? Eu afirmo a vocês que isto é verdade: Quando ele a encontrar, ficará muito mais contente por causa dessa ovelha do que pelas noventa e nove que não se perderam. Assim também o Pai de vocês, que está no céu, não quer que nenhum destes pequeninos se perca.
A existência humana está reduzida a um número no cadastro. Um R.A. (Registro Acadêmico). Um R.G. (Registro Geral). Um R.F. (Registro de Funcionário). Um Ap nº (Unidade de Condomínio). Um CGC. Um IPTU. Nossa vida é marcada por números perdidos em meio a milhões de outros. Em grande parte de nossas atividades, somos apenas um número.
A impessoalidade é a marca do nosso tempo. Você liga para o banco, não fala mais com uma telefonista. Fala com uma fita. É maltratado pela companhia aérea, não fala mais com um gerente. Escreve um email. Vai ao supermercado e quer dar uma sugestão, precisa escrever tudo e colocar numa caixinha (que me parece nunca é aberta…). Quer fazer amizades? Nem precisa sair de casa. Acesse um site na Internet e em breve você terá uma porção de amigos virtuais, aos quais você provavelmente nunca verá e se pudesse vê-los e saber mais sobre eles talvez ficasse decepcionado. As pessoas não têm tempo para você. Elas não querem parar e ouvir. Há muito o que fazer, problemas a resolver, decisões a tomar, metas a cumprir. Até para comer hambúrguer você é um simples número. Você vai ao balcão do Mc Donald´s e o atendente grita: “Eu tenho um número 5!” A rigor, o que aconteceu foi que o RG 18.797.717, morador no imóvel matrícula 23X2345, casado com o RG 6.456.876 pediu um número 5 e isto foi a venda nº 1.276.768, às 14h37. Caramba!
Até mesmo igrejas agem assim. “Temos culto aos sábados à noite, domingos de manhã e domingos à noite. Faça sua escolha. Se precisa de salvação, venha domingo à noite. Se é jovem, venha sábado. Se tem criança em casa, venha domingo de manhã. Sente em seu lugar e cresça. É tudo o que temos a oferecer.” É o tempo da praticidade, da facilitação, do pragmatismo. Vamos trabalhar no atacado, porque isso reduz custos. Meia dúzia de pregadores por mês dão conta do recado. Um reluzente luminoso na frente de um belo templo, boa música e uma mensagem. Para quê mais?
Algum tempo atrás, conversei com um missionário estrangeiro que serve a Deus no Brasil há muitos anos. Em visita à sua terra natal, foi a uma igreja para cultuar a Deus. Entrou, cantou, ouviu a mensagem, saiu e não foi “importunado” por ninguém. Uma igreja tipo fast food, coisa moderna. Peça pelo número.
Seguindo os passos de Jesus Cristo pelos evangelhos, encontramos um modelo bem diferente. Pense nos extraordinários encontros dele no Evangelho de João. Este evangelho bem poderia ser chamado de “O Evangelho da Ovelha Perdida”. Veja quantas pessoas ele encontrou em particular:
- André (1:40)
- Simão Pedro (1:42)
- Felipe (1:43)
- Natanael (1:48)
- Nicodemos (3:1-15)
- A mulher samaritana (4:1-26)
- Um oficial romano (4:46-53)
- Um homem enfermo no tanque de Betesda (5:5-8)
- Uma mulher “pecadora” (8:10,11)
- Um cego de nascença (9:35-38)
- Maria de Betânia (12:1-3)
- Maria Madalena (20:11-16)
- Tomé (20:27)
- Pedro (21:15-18)
Em cada caso, uma revelação especial, um encontro transformador, uma oportunidade nova, uma mão estendida, uma solução. Por que se importar com Nicodemos, se os fariseus tanto faziam para persegui-lo? Por que conversar com Pedro, que dias antes o negara aberta e completamente? Por que se envolver com a história de uma mulher de reputação duvidosa, acusada de adultério? Por que parar ao meio-dia para conversar com uma samaritana no meio da rua? Por que aquele doente e não tantos outros em redor daquele tanque?
Porque Jesus não é pastor de atacado. Para ele, ninguém é um número. Jesus não se preocupava com os números do IBGE, mas com um coração pulsando dentro do peito. Mesmo porque as estatísticas falam em 1% de perda. Uma ovelha perdida em 100 é um resultado fantástico. Mas Ele precisava falar com pessoas individualmente porque sabia quão cara é uma única alma aos seus olhos. 99 estão seguras, mas tem uma que precisa de salvação. É por isso que Ele tinha tempo para as pessoas. Ele queria conquistá-las. Queria mostrar a elas que seu caminho de devassidão e indiferença as levaria a um fim desastroso e irreversível.
Sempre me emociono quando penso na cena de Maria Madalena no cemitério no domingo da ressurreição. Que sentimentos, que reações, que susto, que alívio, que coquetel de pensamentos lhe atingiram o coração quando uma voz tão conhecida e meiga quebra o silêncio daquela manhã, chamando-a pelo seu nome: “Maria!” Não uma voz de censura, mas uma voz de consolo. E Tomé? Duvidou, achou que os outros estavam loucos, só ia acreditar se pusesse a mão nas feridas do Mestre. Uma semana depois, ele está lá. Ao invés de ouvir algo do tipo “Por que você faltou da reunião na semana passada?”, ele recebe do Senhor um alento à sua fé. Parece até que Jesus vai até lá naquele dia só para isso. Para Cristo, Tomé não é apenas “um dos doze”. Ele é Tomé.
Que bom saber que o Pastor e Bispo da minha alma nunca me falta. Não preciso ficar esperando na linha por meia hora para depois ser atendido por uma gravação do anjo Gabriel: “Você ligou para o céu. No momento não podemos atender. Deixe seu recado e assim que possível entraremos em contato.” Não. A linha está sempre aberta. Tenho um novo e vivo caminho que meu Pastor me consagrou pela sua própria vida. Tenho acesso contínuo à presença dele. Ele pára o mundo para me ouvir.
Um dia ele olhou para mim como se eu fosse a única criatura a precisar de sua bênção. Você poderia estar entre as 99; eu era aquela por causa de quem um dia ele parou tudo. Somente para me salvar.
Nunca encontrei alguém assim.
Pensando bem:
Que bom saber que o Pastor e Bispo da minha alma nunca me falta!