- Então Jesus contou esta parábola: Certo homem tinha uma figueira na sua plantação de uvas. E, quando foi procurar figos, não encontrou nenhum. Aí disse ao homem que tomava conta da plantação: “Olhe! Já faz três anos seguidos que venho buscar figos nesta figueira e não encontro nenhum. Corte esta figueira! Por que deixá-la continuar tirando a força da terra sem produzir nada?” Mas o empregado respondeu: “Patrão, deixe a figueira ficar mais este ano. Eu vou afofar a terra em volta dela e pôr bastante adubo. Se no ano que vem ela der figos, muito bem. Se não der, então mande cortá-la.” (BLH)
Jesus conta esta parábola logo depois de dois incidentes terríveis: a queda de uma torre, que matou 18 pessoas, e a chacina do templo pela polícia de Pilatos, onde judeus que sacrificavam no Templo foram mortos de forma tão sangüinária que o sangue deles se misturou ao dos animais que ofereciam. Uma catástrofe. E como toda catástrofe, repentina, súbita. Ninguém prevê uma catástrofe. Elas não mandam fax. Elas simplesmente acontecem.
E então Jesus conta esta história sem fim. Literalmente sem fim. Ninguém sabe como acaba. O que aconteceu com a figueira infrutífera? Viveu ou foi cortada? Deu fruto ou continuou estéril? Não sabemos. Assim como aqueles galileus não sabiam que era o último sacrifício de suas vidas, nem aqueles habitantes de Jerusalém sabiam que era sua última visita à Torre de Siloé. Assim como Senna não sabia que era sua última curva. Os Mamonas não sabiam que era seu último vôo. As vítimas do World Trade Center não sabiam que era seu último dia de trabalho. Será este nosso último ano? Não sabemos. Qual será o meu último dia? Não sei. Na verdade, não é o que não sabemos que importa. O que importa é o que sabemos.
O que sabemos sobre esta figueira é que ela estava num lugar no mínimo curioso. Uma figueira no meio de uma plantação de uvas. O que pode ser mais estranho do que uma figueira numa plantação de uvas? Só mesmo uma figueira sem figos numa plantação de uvas. Figueira existe para dar figos, não importa onde esteja plantada. Se ela é frutífera, pode estar numa vinha, sem problemas. Neste caso, não é desperdício nem ocupação inútil do solo. Mas se não dá fruto, não serve para nada. Um ano, dois, três. Nada. Usando os recursos, tirando a força da terra. Aproveitando o que a igreja pode oferecer de bom, os amigos, a camaradagem, o socorro quando as finanças apertam, o bom ensino do púlpito, a boa música, os almoços ágapes, os acampamentos e encontros. Mas nada de fruto. Quase que um caso de parasitismo. E então a parábola de Jesus nos adverte: árvore sem fruto não serve para nada. Só ocupa espaço. Às vezes é espaço no rol de membros, às vezes na lista de participantes da reunião de jovens ou da Escola Dominical. Se for cortada, não vai fazer falta. Ninguém vai perceber. É um peso morto.
Mas a história da figueira sem fruto é também a história do viticultor paciente. Aquele que propõe mais uma chance. Ele quer afofar a terra, colocar um esterco, dar mais uma chance. Já se esperou 3 anos, vamos esperar mais um. Não que o dono estivesse errado. Nada mais justo do que exigir fruto. Mas vamos tentar de novo.
Ah! O Evangelho da próxima chance. Neste caso, da quarta chance. Seria a última ou seria mais uma, depende do ponto de vista. Quem sabe ela não reage? Quem sabe o adubo colocado em volta dela não fará com que ela se revigore e passe a dar uns figuinhos? Hmmm! Geléia de figo, figo em calda com aquele creme de leite por cima! O dono da fazenda lambe os lábios. “É verdade. Vamos dar mais uma chance. Esta figueira ainda pode me dar muita alegria. Ano que vem eu volto aqui. Vou começar minha avaliação cantando: `UM ANO MAIS DE VIDA, GUARDOU-VOS O SENHOR E DEU-VOS FIEL GUARIDA NO SEU DIVINO AMOR`. Mas depois disso eu vou procurar figo. Se não tiver nenhum, nenhunzinho, pode cortar.”
O que terá acontecido no ano seguinte?
O que acontecerá em 2003? O que o Dono Excelso da vinha encontrará em nós quando vier à procura de fruto? Até quando vou precisar de mais uma chance? Será que estamos na última?
Pensando bem:
A maior tragédia da vida não é a morte. É não estar preparado para enfrentá-la.