Segundona

Amigos, “segunda” nunca foi uma palavra que me animou muito. Sempre lembra alguma coisa de categoria inferior. Sempre faz a gente franzir o sobrolho. Pense na “segunda-feira” ou no carro de “segunda mão”. Pense na “segunda chance” que a gente precisa quando pisa na bola. “Segundo” turno, porque a primeira eleição não valeu nada. Um “segundo” exame é necessário, porque o médico ficou na dúvida. Sem falar nas coisas que ficam em “segundo” plano. Mas agora sou forçado a incorporar ao vocabulário uma nova “segunda”: a segunda divisão.

Estranhas coincidências. Cada vez que eu viajo para o Paraná, acontece alguma coisa errada. No Carnaval, volto do Emaús (Coronel Vivida), tomo uma multa na estrada por ultrapassar em lugar proibido. Chego em casa e o Palmeiras perde do Asa de Arapiraca. 15 de novembro, vou ao mesmo acampamento, tomo a mesma multa (desta vez foi outro motorista…), chego em casa e o Palmeiras perde do Vitória e cai para a Segundona. Coisa incrível. Pelo menos tem um consolo: agora a gente não precisa mais se preocupar com o fantasma do rebaixamento. Em compensação, toca agüentar calado as piadinhas, os e-mails etc. E não tem nem como responder. Caiu porque mereceu mesmo. Não tem desculpa. E deve ficar lá até ter competência para voltar. Nada de virada de mesa. E mais: nada de fazer “limpeza no elenco”. Esses pernas-de-pau que caíram tem que jogar lá até voltar para a Primeira. Que joguem contra o Anapolina, o Americano, o Jundiaí, que vençam invictos esse campeonato mixuruca e que tenham vergonha na cara para nem comemorar.

É um título que precisa ser esquecido, se é que um dia eles vão conseguir isso. Minha filha Carolina disse que agora só vai torcer pelo Brasil e na Copa do Mundo. Foi-lhe oferecido que torcesse para Corinthians, São Paulo ou Santos, o que ela espontânea e sabiamente recusou (lembrando que estava em jogo a sua festa de aniversário…).

Não sou daqueles que vai chorar, entrar em depressão, fazer protesto na rua e coisas pelo estilo. Acho que o cristão não pode se deixar dominar por nenhuma das coisas que são lícitas, seja quando vence ou quando perde. Mas o esporte costuma trazer lições importantes para a vida. E, se me permitem, gostaria de aproveitar o ensejo de tão enlutado momento suíno para extrair algumas delas.

  1. Qualquer palmeirense há de lembrar-se de gols perdidos (aquele pênalti do Arce contra o Vasco) e dos empates e derrotas cedidos no finalzinho do jogo. Quantas oportunidades perdidas! Quantas chances de escapar da incômoda situação! Sempre achamos que haveriam outras. Mas chegou a hora em que elas acabaram irremediavelmente. Faz pensar na vida ou não faz?
  2. Um time que troca de técnico três vezes não pode ir muito longe. Sem planejamento, sem um esquema de trabalho fica muito difícil. Sair atirando para todo lado, na esperança de acertar alguma coisa é uma grande chance de se perder tempo, dinheiro e energia. Mais ou menos como tentar evangelizar o mundo inteiro sem saber sequer como conseguir alcançar o vizinho primeiro.
  3. Comenta-se na imprensa que o ambiente entre os jogadores do Palmeiras é terrível e não é de hoje. Vez por outra alguém critica o companheiro nas entrevistas, muitos jogadores não se falam, há panelinhas aqui e ali. Felizmente, entre as igrejas não existe isso. Não há líderes que não se dão, não há missionários que não se falam e nem fogueiras de vaidades entre os ministérios de uma igreja local. Para nossa sorte, ninguém troca farpas pela imprensa, ninguém usa o púlpito para dar recados e a transparência prevalece. Porque senão o destino das igrejas seria o mesmo do Palmeiras: o fundo do poço.
  4. O Penta-campeão meu xará, Marcos, é um pipoqueiro. Gostava de jogar quando o time estava bem. Na seleção, brigava para jogar. No seu time, quando as coisas apertaram, pediu para não jogar. E se tornou, pela omissão, um exemplo do que nunca se deve fazer quando se trabalha em equipe. Todos aqueles que gostam de estar no time para dar a volta olímpica mas não gostam de ajudar a segurar o rojão, não são dignos de pertencer a um grupo de trabalho. Especialmente se este grupo for uma igreja.
  5. Tem jogador no Palmeiras que não é apto nem para jogar em time de Casados x Solteiros. São ruins toda vida. Talvez sejam excelentes pedreiros, carpinteiros, encanadores, gerentes de loja, locutores de rodoviária, mas jogadores de futebol não (exemplos: Alexandre, Dodô, Munhoz, Assunção, Rubens Cardoso, entre outras peças). A pergunta que fica é: como é que essa gente vai parar em um time profissional, ganhando rios de dinheiro, com toda a mordomia? Dizem as más línguas que são os empresários que conseguem colocar esse tipo de jogador, e que muitos são escalados para servir aos interesses desses negociantes. Acredito. É a única explicação. E também é a única explicação para alguns pregadores que ocupam púlpitos e lideranças em algumas igrejas por aí. Dom para aquilo, não tem. Condição de vida, não tem. Compromisso com Deus, não tem. Já ouvi gente dizer: “Nem sei porque me colocaram aqui, mas já que estou agora vou ficar”. Outros dizem: “Sou ruim mesmo, mas não mudo. Vão ter que me engolir”. E mesmo que isso seja péssimo para o “time”, têm pessoas que gostam deles e os apoiam, então eles vão ficando. Ser vencedor assim é mesmo muito difícil.
  6. Todos os jogadores saíram de campo domingo sem dar entrevistas. Pelo menos uma dentro. Há situações em que é melhor calar do que falar bobagem. Iam dizer o quê? Reclamar de quem? Colocar a culpa em quem? Sabe que às vezes é melhor ficar quieto do que tentar inventar desculpas? Canso de ver pessoas tentando arrumar explicações para o inexplicável e justificativas para o injustificável. Fracassou, fracassou. Errou, errou. A igreja não cresce, não cresce. Não há oferta missionária, então não há. Há intrigas, que se reconheça. Pior do que tudo isso é tentar defender a falência, a incompetência, a irresponsabilidade. Às vezes o silêncio é mais dourado e sábio.
  7. Imagine que os dirigentes do Palmeiras digam: “Tudo bem, a gente caiu, mas pelo menos não caiu sozinho. O Botafogo, a Portuguesa e o Gama caíram também”. Você acha que iria resolver alguma coisa? Vai recolocar o Palmeiras na Primeira Divisão? Pelo contrário, fica pior, porque o Palmeiras vai ter que enfrentar esses times e só dois sobem no ano que vem. Digo isso porque volta e meia se escuta alguém dizer assim: “É, as coisas não estão nada bem aqui no nosso meio, mas tem lugar que está pior. A igreja do fulano faz isso e aquilo e aquiloutro. A gente não contribuiu, mas pelo menos não sai na Época acusada de escândalos. A gente não tem programa de TV, mas não fica falando em cura o tempo todo”. E eu pergunto: E daí? Só faltava, para jogar a pá de cal, que tivéssemos tudo isso, além de todas as nossas mazelas. Rir ou apontar a desgraça alheia não ajuda em nada a nossa própria. Ao invés de criticar as feridas dos outros, é muito mais sábio sentar na sarjeta e lamber as nossas próprias. Vai nos fazer humildes para buscar de Deus a restauração e o rumo certo.
  8. Se igrejas pudessem cair para a Segunda divisão, será que a nossa se manteria no grupo de elite ou estaria sendo rebaixada?

Amigos, disse a vocês que pelo Palmeiras não vale a pena derramar uma lágrima. Mas pela igreja vale. Pior do que um time ser rebaixado, é ver a igreja sem compromisso, com missionários passando necessidades, com brigas sem fim, com disputa de poder, com acusações falsas contra irmãos. É ver pessoas anos a fio nas igrejas sem qualquer temor de Deus, dispostas a qualquer coisa para viver seus prazeres, mesmo que isto lhes custe a vida.

Para isso mudar, só tem uma solução: é clamar pela misericórdia de Deus, para que ele quebrante todo orgulho e altivez e levante servos comprometidos exclusivamente com o Reino, gente que não tenha medo, que não se acovarde, que siga adiante em nome do Senhor dos Exércitos. Às vezes as coisas só começam a mudar quando chegamos ao fundo do poço, porque dali não se tem mais para onde ir. Se não chegamos, estamos bem perto.

Que Deus nos ajude a sair de lá.

Pensando bem:

Às vezes as coisas só começam a mudar quando chegamos ao fundo do poço, porque dali não se tem mais para onde ir.