Retrospectiva

Amigos, chega a época dos programas especiais na TV para rever tudo o que foi importante ou notícia, mesmo que sem importância, durante o ano que passou. É hora de relembrarmos as tragédias, os Tiriricas, os Felipes Melos, os Dungas, o Sem-Ter nada do Corinthians, os Hugos Chavez, os mineiros do Chile, os terremotos, as inundações e outros momentos marcantes, pelo sim ou pelo não. Para dizer a verdade, sou fã desses programas. Não sei exatamente explicar qual é a atração que estas reprises exercem, mas no mundo inteiro elas são sucesso absoluto de audiência.

Um bom exercício seria se a gente fosse capaz de ir filmando nossa vida de maneira que depois do Globo Repórter especial de dezembro cada um de nós pudesse rodar seu próprio roteiro e lembrar de tudo o que aconteceu. Não para comparar com ninguém. Apenas para chegarmos à conclusão sobre se saímos de 2010 melhores ou piores do que entramos.

Do ponto de vista financeiro, isso é fácil. Ao fazer sua declaração do exercício presente, em março do ano que vem, você vai perceber claramente se seu patrimônio ficou maior ou menor, se acabaram as grandes dívidas ou se elas ainda permanecem. Se o carro ficou mais novo ou mais velho. Assim por diante. Mas existem coisas que não são medidas assim tão facilmente. E para falar a verdade, são as coisas mais importantes. São aquelas que ficam para sempre.

Por exemplo, já imaginou se pudéssemos saber se aumentamos o nosso amor, nossa gentileza, nosso companheirismo, nossa camaradagem e nossa solidariedade? Já pensou se no filme que rodamos, nos quais cada um de nós é o ator principal, a gente ficasse sabendo que em janeiro ganhamos mais dois amigos de verdade, que em fevereiro reatamos aquele relacionamento interrompido no ano anterior por uma desinteligência qualquer, que em março nos tornamos pais mais atenciosos e em abril, mais do que chocolate, demos atenção a pessoas que dela precisavam?

Não é desse jeito que funciona, eu sei. Mas dentro dessa imagem, posso imaginar o sorriso no rosto de Deus à medida que o filme vai correndo. Ele já sabia de tudo, ele não precisa de memória, mas certamente ficaria muito feliz. E como ele não é o Papai Noel, que só traz presente para pessoas boazinhas e riquinhas, mas o Papai do Céu, que trata a todos por meio da Sua graça, ele iria perceber em cada uma daquelas atitudes um pouco da Sua própria natureza. Veria que o tempo não nos foi vão. Que crescemos, que soubemos aproveitar as oportunidades, que conseguimos refletir um pouco melhor a sua imagem e semelhança. Que nosso caminhar como discípulos de Jesus fez alguma diferença: ficamos mais parecidos com Ele.

E isso seria usado para explicar aos céticos e inquiridores a respeito de como é que Deus faz para combater o mal: multiplicando o bem através de pessoas transformadas pela graça eterna e divina, manifesta um dia numa cruz no Calvário, escândalo para uns, loucura para outros, mas para aqueles que crêem, a única esperança de salvação.

Se por acaso, e certamente haveria de ter, surgissem pedaços impublicáveis, cenas censuradas ou até mesmo filmadas com raiva, sem foco, difusas e tremidas, que nos trariam vergonha só de olhar, penso que Deus balançaria o rosto pensativo. Não disposto a fazer de conta que não tinha acontecido nada, mas esperando muito que a edição pudesse ser feita. Nada que uma confissão sincera, um arrependimento genuíno e um pedido honesto de perdão não iria consertar, apagando para sempre.

Faça esta análise. Entre na próxima década de pé direto, de pé esquerdo, de pé quebrado ou até sem pé. Mas entre de alma lavada.

No sangue do Cordeiro.

Feliz 2011!